TIRADENTES, UM HERÓI ESQUECIDO
Sérgio Pinto Monteiro*
Manhã de sábado, 21 de abril de 1792. Às onze horas e vinte minutos, depois de penosa caminhada, sob um sol rigoroso, pelas principais ruas do centro do Rio de Janeiro, o Alferes José Joaquim da Silva Xavier, subiu, sem medo, o patíbulo erguido no Campo da Lampadosa, atual Praça Tiradentes. Como demorasse a morrer, o carrasco, um criminoso comum, montou-lhe nos ombros para abreviar o seu fim. Segundo a sentença, Tiradentes, único executado entre os Inconfidentes, seria enforcado, decapitado e esquartejado. Com o seu sangue, lavrou-se uma certidão de que fora cumprida a pena. Sua cabeça apodreceu dentro de uma gaiola em Vila Rica. Braços e pernas, conservados em salmoura, foram colocados em postes, ao longo do Caminho Novo, na Capitania de Minas Gerais, onde o Alferes fazia as “infames prédicas” pela liberdade de nossa pátria. Seus bens foram confiscados e as casas em que morara, arrasadas e salgadas, para que nunca mais, naquele chão, algo germinasse.
Hoje, 21 de abril de 2012, o sacrifício do Alferes Tiradentes completa 220 anos. Pela Lei nº 4.897, de 9 de dezembro de 1965, José Joaquim da Silva Xavier foi proclamado “Patrono Cívico da Nação Brasileira”.
No passado, a data era comemorada em todos os níveis do poder público e objeto de amplo noticiário da imprensa. Nos dias atuais, um sinistro e lamentável silêncio se abate sobre a saga do mártir da independência e o sonho de liberdade dos Inconfidentes. Há um claro propósito de uns poucos maus brasileiros de ignorar ou, até mesmo, reescrever, ao arrepio da verdade, alguns dos mais relevantes episódios da nossa história. Tradicionais heróis do país estão sendo “substituídos” por traidores, nacionais ou estrangeiros. A imagem do assassino argentino, travestido de cubano, “Che”Guevara, campeia, livremente, em nossas salas de aula e muros de Escolas Públicas. Por outro lado, a imprensa brasileira, com poucas exceções, submetida a interesses econômicos ilegítimos, apóia – ou se omite – à ação deletéria de indivíduos que, a cada momento, vilipendiam o sacrifício de Tiradentes e de tantos outros heróis que deram suas vidas ao Brasil. Aliás, como os vampiros de ficção, fogem, assustados, da palavra pátria.
Assistimos, inconformados, entre tantos outros escândalos, ao esbanjamento de recursos públicos pela famigerada Comissão Nacional de Anistia do Ministério da Justiça. Até hoje, os valores pagos ou concedidos, somam mais de 4 bilhões de reais em indenizações milionárias e pensões de valores elevadíssimos, beneficiando os derrotados de 1964. Somente dois jornalistas do tablóide “Pasquim” foram “agraciados” com pagamentos retroativos de mais de R$ 1 milhão cada um e uma indenização mensal de R$ 4.375,00. Já a senhora Lúcia de Oliveira Menezes, de 66 anos, tetra-neta de Tiradentes, recebe do governo brasileiro, concedida pela Lei Federal nº 9.255, de 3 de janeiro de 1996, a inacreditável pensão de duzentos reais mensais.
Recordamos e reverenciamos, na data de hoje, o sacrifício do Alferes Tiradentes, que, em última análise, retrata os ideais de liberdade e soberania de nosso povo, gente simples, humilde e trabalhadora, que repudia qualquer tentativa de condução do país por caminhos que não se coadunem com os princípios democráticos e cristãos que forjaram a nação brasileira.
* o autor é historiador e Oficial da Reserva Não Remunerada do Exército. É presidente do Conselho Nacional de Oficiais R/2 do Brasil, membro da Academia de História Militar Terrestre, da Diretoria da Associação Nacional dos Veteranos da FEB e do Instituto Campo-Grandense de Cultura. É autor do livro "O Resgate do Tenente Apollo" (Ed. CNOR – 2005). O original deste artigo foi publicado em 21 de abril de 2011.