Defesa, segurança, desenvolvimento econômico e social. Esses são os pilares que vão sustentar o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON) ao longo dos cerca de 17 mil quilômetros de fronteira terrestre do País. O programa prevê a instalação de uma engenhosa estrutura militar e civil, que, de forma integrada, deverá estabelecer um modelo inédito de proteção de fronteiras.
"O sistema oferece imensas possibilidades de uso militar e civil. E cumpre a missão dual das nossas Forças Armadas, de defesa e de construção do País", afirmou o ministro da Defesa, Aldo Rebelo, em Dourados (MS), na 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada. O ministro foi a Dourados para conhecer de perto o projeto piloto do SISFRON, que opera atualmente entre o município de Mundo Novo (na fronteira com o Paraná) e o de Porto Murtinho, ao norte do estado. Nessa extensão territorial, cerca de 50% das infovias (redes de comunicação) já foram instaladas. O ministro foi recebido pelo comandante Militar do Oeste, general Paulo Humberto César Oliveira, e pelo comandante da 4a Brigada de Cavalaria Mecanizada, general Rui Matsuda.
O objetivo do SISFRON é a proteção da fronteira terrestre brasileira, uma superfície de 2,5 milhões de quilômetros, se contarmos os cerca de 17 mil quilômetros de extensão somados à largura de 150 quilômetros. "É como colocar a população de Portugal, de 10 milhões de pessoas, nessa faixa", explicou o general Matsuda.
A novidade do sistema é que, além das vertentes da defesa e da segurança, o programa está articulando uma densa rede que integra universidades, institutos de ensino, escolas, agências governamentais e empresariais para promover o desenvolvimento econômico e social nas regiões fronteiriças. "Em vez de muros e armas nos dentes, a educação e o desenvolvimento local. Não há sociedade protegida se não há desenvolvimento", disse Matsuda.
Para o ministro, a missão finalística das Forças Armadas é a preparação para a defesa do Brasil. Mas ressalta que os fortes desajustes sociais e econômicos do País fazem com que as Forças tenham uma missão dual. "Nós somos a instituição que ajuda o País economicamente, socialmente, cientificamente. Essa relação integrada com as universidades, com os institutos, com as agências governamentais é essencial para que as Forças cumpram esse papel subsidiário de ajudar a desenvolver o Brasil", disse.
O projeto piloto do SISFRON emprega tecnologia de ponta, com sistemas de vigilância com equipamentos modernos de radares, softwares, sensores, comandos de controle fixos e móveis, armamentos, binóculos de visão termal, além de uma estrutura integrada de comunicação estratégica. A estrutura permite que as informações captadas pelos postos de vigilância cheguem em tempo real nos centros de operações, sejam interpretadas e usadas como suporte para a tomada de decisão.
O sistema possibilita a realização até mesmo de videoconferência entre os postos e o centro. Durante a apresentação do projeto piloto, feita pelo comandante do 10o Regimento da Brigada Mecanizada, Coronel Rocha Lima, o ministro assistiu a uma videoconferência com a tropa de um posto de bloqueio instalado na BR 463 e acompanhou, pelo telão, a operação que estava sendo realizada no local.
O consórcio formado pela empresa Savis (93%) e Bradar (7%) é o responsável pela implantação da integração física, lógica, logística do programa, além da engenharia de sistemas e da gestão do projeto. Esse consórcio garantiu o maior índice de conteúdo nacional (75%). Os radares dos softwares, por exemplo, são desenvolvidos 100% no Brasil.
Integração
O SISFRON funciona a partir da integração das agências governamentais com o objetivo de potencializar ações e dinamizar a tomada de decisões. Polícia Rodoviária Federal, agência de vigilância sanitária, Receita Federal, ministérios da Saúde e da Justiça fazem parte da estrutura. "Sempre que há uma demanda, levanta-se qual é a agência necessária para a solução", disse o coronel.
Segundo o general Matsuda, outra vantagem do SISFRON é a proposta de abordar também o caráter social e econômico da região com ações que transcendem as atividades de defesa. "O SISFRON precisa trazer uma visão mais ampla da situação da fronteira, uma abordagem mais holística é estratégica", afirma.
Com a integração da Universidade Federal da Grande Dourados, Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, Instituto Federal do MS, escolas, Senac, Senai, Sest, Senat, o projeto piloto está trabalhando em programas e inclusão social que, entre outros projetos, permite a formação e a capacitação dos soldados do Serviço Militar Obrigatório. "Vamos formar o soldado não apenas para que ele tenha emprego, mas que seja uma liderança, capaz de assumir grandes responsabilidades", disse o general Matsuda. "Precisamos implementar o desenvolvimento na faixa de fronteira".
Um exemplo da capacitação foi mostrado ao ministro da Defesa na noite anterior. Um grupo de 20 recrutas, alunos do curso de auxiliar de cozinha do Senac, teve como desafio a organização do jantar oferecido às autoridades.
Os soldados escolheram o cardápio com pratos típicos, ajudaram na cozinha, na recepção e no atendimento. "Foi um desafio. Gostei muito de assumir a responsabilidade de cozinhar para alguém tão importante", disse Flávio dos Santos Oliveira, 19 anos, que entrou para o Exército em março, por meio do serviço militar obrigatório. Flávio quer permanecer na Força por oito anos e pretende aprender muito mais nos cursos de formação.