Marian Romero
Com o objetivo de estabelecer tarefas coordenadas entre a iniciativa privada e o setor da defesa, o Ministério da Defesa da Colômbia, em conjunto com o Departamento Nacional de Planejamento (DNP), realizou o evento “Aliança para a transformação produtiva”. Realizado de 24 a 25 de agosto na cidade de Cartagena, o evento reuniu representantes tanto civis como militares de mais de quatrocentas empresas de diferentes países e setores do transporte aéreo, marítimo e terrestre.
A estabilidade da indústria e seu potencial na Colômbia foram os fatores que atraíram tantos interessados ao evento, que contou com a presença de 952 participantes, excedendo em 120 por cento o número previsto. Compareceram membros de empresas e instituições militares da Alemanha, Brasil, Espanha, e os Estados Unidos, entre outros. Participaram 157 empresas internacionais, entre elas a Airbus, Lockheed Martin e Lloyds Register. Durante os dois dias do evento foram firmados 18 acordos entre a indústria da defesa colombiana e empresas privadas.
A iniciativa surgiu como uma reformulação das tarefas e oportunidades da indústria militar, em vista do período pós-conflito para o qual a Colômbia se encaminha. O Grupo Social e Empresarial da Defesa e Bem-Estar (GSED) do Ministério da Defesa da Colômbia teve um grande crescimento nos últimos 15 anos, devido à situação social de conflito que o país viveu. Em 2014 se posicionou como o nono maior grupo empresarial da Colômbia.
De acordo com o DNP, a Colômbia investiu nos últimos 15 anos mais de US$ 82 bilhões no setor da defesa. Além disso, a Colômbia possui o gasto em defesa mais alto da região, com 3,4 pontos do Produto Interno Bruto (PIB). De 2002 a 2015, a Colômbia aumentou sua força pública em 45 por cento, tornando-se a maior da região, depois dos Estados Unidos.
Por outro lado, a Colômbia é o principal país que oferece cooperação Sul-Sul para a capacitação de pessoal militar e da polícia, pois conta com: o Centro Nacional de Treinamento, com 23 escolas especializadas; o Centro Nacional de Operações de Polícia, com 14 escolas especializadas; capacitação para exércitos e polícias de mais de cinco países da região; e o fato de ter sido a ganhadora dos jogos de Forças Especiais por oito anos consecutivos.
Levando essas cifras em consideração ao avaliar a importância de fazer um uso produtivo dos diversos investimentos do passado, o DNP e o Ministério da Defesa tomaram a decisão de potencializar as capacidades existentes no país para lhes dar uma dimensão mais ampla e colocá-las no mapa mundial do setor. O evento foi o primeiro passo para a consecução desse objetivo.
O Marechal do Ar José Javier Pérez, vice-ministro da Defesa do GSED, disse que esse é um passo importante para a continuidade do desenvolvimento das Forças Militares colombianas. "É a primeira vez que o GSED abre suas portas à iniciativa privada a fim de gerar um entrosamento com a política industrial nacional e se alinha com os requisitos das empresas privadas internacionais para se converter em um polo de desenvolvimento econômico. O momento histórico que o país vive permite a possibilidade de potencializar as capacidades de defesa construídas durante os anos de conflito. Hoje elas estão voltadas para gerar entrosamento produtivo para impulsionar processos tecnológicos e comerciais e contribuir para o progresso do país."
Capacidades da indústria do setor da defesa colombiano
Durante os últimos três anos, as receitas operacionais do setor da defesa aumentaram em média 7,25 por cento, com exportações de mais de US$ 13 milhões no período de 2013 a 2015. Contudo, as cinco empresas do setor da defesa são nitidamente importadoras, o que representa uma grande oportunidade para fornecedores locais. A Colômbia conta com cinco indústrias estatais em diferentes setores, todas elas certificadas internacionalmente. Em 2015 as receitas operacionais dessas empresas foram de cerca de US$ 500 milhões.
Empresa INDUMIL
Posicionada como a principal fornecedora das Forças Militares e da Polícia da Colômbia, a empresa INDUMIL fabrica armas, explosivos e munições, mas desenvolve também produtos para uso civil. Com receitas de US$ 158 milhões, a empresa conta com uma capacidade de produção de 4.515 toneladas de agentes explosivos e de 10 milhões de metros de acessórios para explosivos. Além disso, 49,6 por cento dos seus produtos para uso civil são para mineração a céu aberto, 21 por cento para obras civis e 11,5 por cento para mineração de ouro.
Estaleiro naval COTECMAR
A Companhia de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento da Indústria Naval Marítima e Fluvial, conhecida como COTECMAR, é um estaleiro naval colombiano que desenvolve projetos para a construção e reparos de navios para a Marinha Nacional e para terceiros. Ela tem receitas de US$ 108 milhões e possui capacidade para reparos de 16 projetos (dique e cais). Atualmente, ela está produzindo navios de interceptação marítima e navios de desembarque anfíbio, como os que permitiram as atividades de transporte de suprimentos ao Equador depois do terremoto. Em breve ela realizará a venda de uma patrulha oceânica ao governo de Honduras, com navios de desembarque anfíbio e de patrulha fluvial de mais de US$ 65 milhões.
Fabricante aeronáutico CIAC
A Companhia da Indústria Aeronáutica da Colômbia se dedica ao conserto e manutenção de aeronaves para a Força Aérea colombiana e para a produção de aviões militares. Em 2015 obteve a certificação da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos para o fornecimento de serviços de manutenção de equipamentos de aviônica, acessórios e testes não destrutivos. Ela também obteve neste ano a certificação da Airbus Defense & Space como centro de serviço de operações de reparações e manutenção para algumas de suas aeronaves. A CIAC fabrica peças e acessórios componentes de aeronaves e helicópteros. Ela tem receitas de US$ 47 milhões.
Empresa de Alta Tecnología – CODALTEC
Com o objetivo de diminuir a lacuna tecnológica da Colômbia na indústria do setor da defesa, a CODALTEC se encarrega da apropriação e geração de conhecimento, além do desenvolvimento tecnológico através da integração do setor produtivo público e privado, das universidades e do estado. Com receitas de US$ 1 milhão, ela possui sete tipos de projetos que incluem a criação de simuladores e software.
Agência Logística das Forças Militares
Ela tem como objetivo o fornecimento de soluções logísticas voltadas para o abastecimento e infraestrutura para as Forças Militares da Colômbia e outras entidades do estado, bem como para desenvolver capacitações na gestão de outros bens e serviços. Dentro de suas capacidades mais destacadas estão o suprimento de 14 milhões de litros de combustível e a distribuição de 800.000 rações de campanha para soldados em zonas de selva e condições hostis em lugares onde nenhuma outra empresa conseguiu entrar. Ela tem receitas de US$ 175 milhões.
Aproveitamento das capacidades do setor industrial da defesa
Nos últimos anos, os indicadores em termos de segurança da Colômbia vêm sendo bastante encorajadores. De acordo com o DNP, a taxa de homicídios caiu 26 por cento no período entre 2010 e 2014, em que 428 municípios foram declarados livres de homicídios, 89 por cento dos municípios foram declarados livres de atentados terroristas e a força pública frustrou 864 ações violentas. Hoje, 93 por cento dos municípios estão livres de ações subversivas. Todas essas conquistas permitiram pensar na possibilidade do uso efetivo das capacidades da força pública, que inclui a segurança e também o desenvolvimento produtivo.
"O papel das forças militares no pós-conflito não implica uma diminuição em seu orçamento ou corte de suas funções. A enorme quantidade de esforços que foram dedicados ao setor da defesa durante décadas deve ser colocada em prol do desenvolvimento da Colômbia,” disse o vice-ministro Pérez. “É importante ter um discurso amplo do papel das forças militares e suas contribuições para o desenvolvimento econômico da sociedade no pós-conflito, uma vez comprovadas suas amplas capacidades industriais".
O diretor de Justiça, Segurança e Governo do DNP, Gabriel Cifuentes, afirma que a ideia de estabelecer tarefas coordenadas entre o setor da defesa e a iniciativa privada surgiu ao se analisar o impacto macroeconômico do investimento nas empresas do setor da defesa. Atualmente a Colômbia possui uma capacidade instalada de 68 por cento, gerando 9.500 empregos (5.500 diretos e 4.000 indiretos) e tem um efeito total sobre o PIB de 0,12 pontos percentuais. Em um cenário de 100 por cento de capacidade instalada, pode ter um efeito de 0,2 pontos percentuais sobre o PIB e gerar 11.789 empregos.
"A atividade da indústria da defesa na Colômbia tem efeitos sobre a economia superiores aos de projetos de construção de estradas de quarta geração. Vale muito a pena fazer investimentos e incluir a indústria do GSED na política de desenvolvimento produtivo do país, pois é um dos mercados mais sofisticados e que gera maior retorno”, disse Cifuentes. “Para cada peso investido no GSED, gera-se uma demanda e uma contribuição para a economia de 1,5 peso ou seja, é um multiplicador de 1,5 por cento”, agregou. “Além de gerar uma cadeia produtiva, empregos, formação de capital humano, deixa a capacidade instalada no país. Definitivamente, essas tarefas coordenadas podem se converter em um importante impulsionador da economia na Colômbia".
Na Colômbia há diferentes conglomerados associados ao setor da defesa que podem ter um grande crescimento graças às tarefas coordenadas entre o setor da defesa e o setor privado. De acordo com o DNP, entre 2008 e 2014 a produtividade da mão-de-obra dos setores relacionados à defesa aumentou 53 por cento, enquanto a produtividade da indústria em geral caiu nesse período. A solidez dessas empresas de defesa é muito grande.
"Embora cada ano haja vários eventos do setor da defesa, é a primeira vez que se faz um convite maciço às empresas privadas especializadas para expor as capacitações que possuímos em termos de tecnologia”, disse o vice-ministro Pérez. “Também é a primeira vez que há um compromisso do governo para o setor da defesa que tem efeitos diretos sobre a economia do país. Trata-se de uma visão empresarial do setor da defesa", concluiu.
Os desafios advindos das tarefas coordenadas entre o setor da defesa e as empresas privadas têm a ver com temas tarifários, padrões de qualidade, formação de capital humano e regulamentos para vendas de governo a governo. "A mudança sempre implica desafios, mas neste caso estamos muito preparados para conseguir o fortalecimento total do setor industrial da defesa daqui até 2030. A conjunção dessa iniciativa com uma política de desenvolvimento é novidade e, por isso, exige apoio e mudanças em diferentes setores. Trata-se de uma visão de país voltada para a produtividade e qualidade", concluiu Cifuentes.