João José Oliveira
A indústria aeroespacial sofrerá impactos diferentes e opostos da recente onda de terrorismo no mundo, que atingiu cidades europeias como Nice e Istambul, e Orlando, nos Estados Unidos.
Se na aviação civil comercial – o transporte aéreo regular de passageiros – esses eventos tendem a desacelerar o ritmo de crescimento da demanda e da oferta, no segmento de defesa o recrudescimento dos atentados deve alimentar investimentos em novos produtos e sistemas para atender mais gastos dos aparelhos militares de diversos governos. É o que apontam estudos de consultorias internacionais.
Segundo o estudo anual Panorama Global do Setor Aeroespacial e de Defesa (Global A&D Outlook), realizado pela KPMG com as 76 maiores companhias mundiais dessa indústria, 64% dos entrevistados estão confiantes ou muito confiantes em relação às previsões de crescimento das empresas nos próximos dois anos.
Segundo o estudo, o panorama é mais otimista exatamente por causa das fabricantes de equipamentos de aeronaves militares e empresas contratadas para prestar serviços para o setor de defesa. "Existe uma aparente distorção entre os dados e a conjuntura da aviação comercial", admite o sócio do setor aeroespacial e defesa (A&D) da KPMG, Marcio Peppe.
"Mas estamos entrando em um novo ciclo de investimentos no setor de Defesa, que tem compensado a conjuntura desfavorável na aviação comercial", apontou o especialista. Peppe ponderou ainda que a própria aviação civil comercial pode estar sendo afetada negativamente pelas incertezas geradas pelo terrorismo, mas que a tendência para esse segmento no longo prazo é de crescimento. Isso acontece porque o transporte aéreo de passageiros tem avançado de forma contínua há décadas e tem um ciclo de encomendas de longo prazo.
Por isso, no estudo da KPNMG, 41% das empresas dizem que o crescimento será uma das prioridades no topo da lista nos próximos dois anos. Dois anos atrás, esse universo era de apenas 13%. "A pesquisa mostra como as empresas vão buscar esse crescimento, já que a gestão de custos e desempenho ainda é um tópico em alta na pauta das organizações dessa indústria", diz Peppe.
O levantamento da KPMG com empresa globais – das quais 40% faturam de US$ 5 bilhões a US$ 25 bilhões – mostrou que a expectativa de maior demanda entre militares de diversos países está alimentando incremento de investimentos em novos produtos.
O Panorama Global do Setor Aeroespacial e de Defesa, da KPMG, aponta que 87% dos entrevistados planejam mudar a gama de produtos que oferecem nos próximos dois anos. E, para isso, 47% dessas empresas farão investimentos significativos para lançar um ou mais novos produtos no mercado.
Dessa forma, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) deverão crescer. Um grupo formado por 30% dos entrevistados disse ter gasto 6% ou mais das receitas com pesquisa e desenvolvimento no ano passado. "Mais impressionante é o fato de que 20% deles disseram que irão gastar mais de 10% das receitas em P&D nos próximos dois anos. Em 2014, nenhum deles indicou ou previu um índice de gastos com P&D maior do que 10%", disse o sócio da KPMG.
O estudo da KPMG é baseado em planos de investimentos dos executivos e não projeta indicadores financeiros para a indústria Aeroespacial e de Defesa. Já a firma Deloitte apontou, no trabalho Global Aerospace & Defense Sector Outlook 2016, que as receitas de fabricantes de aeronaves, componentes e sistemas de aviação, segurança e defesa vão crescer este ano 3%.
A firma aponta que o ciclo de quatro anos de queda nas receitas das empresas de Defesa & Segurança deve se encerrar em 2016. Entre os fatores que sustenta essa tese, cita a Deloitte, estão o fim dos cortes no programa militar dos Estados Unidos – donos de 35% do orçamento militar mundial, ou US$ 610 bilhões anuais -, e aumento de gastos de governos europeus, do Oriente Médio e Ásia por causa de tensões geopolíticas crescentes.
Na Ásia, a China – que responde por US$ 216,4 bilhões de gastos militares, ou 12,4% da despesa mundial nessa indústria – vem ampliando os gastos militares. Esse movimento pressiona Estados Unidos e outros aliados, como a Coreia do Sul, a investir em sistemas de segurança e novas tecnologias aeroespaciais.
Na Europa, a tensão entre Rússia e Ucrânia é uma fator que tem estimulado maiores gastos de governos do continente com aviões, satélites e equipamentos. Após os chineses, os russos estão em terceiro lugar no ranking mundial de orçamento militar.
Os analistas da Deloitte citam ainda o terror do Estado Islâmico como variável que alimenta o incremento de gastos militares não apenas no Ocidente, mas também entre países do Oriente Médio. Assim, as vinte maiores empresas que atuam em Defesa – que faturaram cerca de US$ 470 bilhões em 2015 -, devem ampliar as vendas este ano em um dígito, em movimento que será acompanhado por melhoria de lucro operacional e margens de lucro, graças aos novos equipamentos lançados, que chegam com novidades tecnológicas e maior valor agregado.
Segundo a Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata), que reúne as 260 maiores empresas de aviação comercial, o setor vai faturar este ano US$ 740 bilhões, cerca de 1,1% menos que em 2015, por causa da queda do preço médio da passagem, uma tendência determinada pela queda do preço do petróleo e da maior concorrência entre as companhias aéreas.