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Russos buscam espaço da defesa nacional

Publicado no DCI 07 Março 2013


Julio Ottoboni

 
Uma semana depois do encontro entre o primeiro-ministro russo,Dmitri Medvedev, e a presidente Dilma Rousseff, o embaixador da Rússia no Brasil, Sergey Akopov, e dirigentes da empresa russa Power Machines foram recebidos em audiência, na última terça-feira, pelo ministro de Minas e Energia, Édison Lobão.

Na pauta da reunião,estava o interesse russo em aumentar a oferta de equipamentos eletromecânicos e turbinas para usinas hidrelétricas e termelétricas em construção no País. A aproximação dos dois países, que teve como pano de fundo as negociações para ingresso da carne brasileira no mercado russo, põe em xeque,no entanto, toda a indústria de defesa nacional e afeta diretamente o polo aeroespacial de São José dos Campos, no interior de São Paulo. Isso porque para facilitar as negociações do setor agropecuário, uma declaração de intenções foi assinada para aquisição de baterias de mísseis antiaéreos e helicópteros da Rússia em valores que podem ser superiores a US$ 2,5 bilhões.
 
A ação do governo brasileiro poderá ampliar a dependência do País em armas importadas e levara um aprofundamento da crise nas empresas de tecnologia militar,segundo especialistas da área. Apesar da necessidade de atualizar o poder de fogo das Forças Armadas brasileiras, a expectativa era de que houvesse investimentos no setor de defesa para pesquisa e desenvolvimento nas empresas nacionais, inclusive no segmento dos produtos que estão sendo adquiridos.
 
A previsão dos especialistas é de que isto atrasará ainda mais os aportes programados para reestimular o setor e desequilibrará o orçamento previsto para reaparelhamento do setor militar via indústria nacional.
 
Para o coordenador da Comissão Empresarial para o Desenvolvimento Aeroespacial (CEDAER), Lauro Ney Batista, esse tipo de ação do governo é corriqueiro e mostra despreparo em assuntos de segurança do Estado.
 
“Não é a primeira vez que isso acontece. O problema é que, exceto por uma ou outra commodity, a Rússia não tem praticamente nada de que o Brasil necessite. Aí acabam sobrando apenas produtos de defesa — que, aliás, estão sobrando por lá”, diz.
 
Para o ingresso da carne brasileira no mercado russo, ambos os governos do Brasil e da Rússia encontram uma contrapartida que bate de frente com a indústria de defesa nacional e afeta diretamente o polo aeroespacial de São José dos Campos(SP). Para facilitar as negociações do setor agropecuário, uma declaração de intenções foi assinada para a aquisição de baterias de mísseis antiaéreas e helicópteros da Rússia, em valores que podem ser superiores a US$ 2,5 bilhões. A medida do governo brasileiro poderá ampliar a dependência do País em armas importadas e levar a um aprofundamento da crise nas empresas de tecnologia militar, segundo especialistas da área.
 
Apesar da necessidade de atualizar o poderio de fogo das forças armadas brasileiras, a expectativa era de que houvesse investimentos no setor de defesa para pesquisa e desenvolvimento nas empresas nacionais, inclusive no segmento dos produtos que estão sendo adquiridos.
 
A previsão dos especialistas é que isto atrasará ainda mais os aportes programados para reestimular o setor e desequilibrará o orçamento previsto para reaparelhamento
do setor militar via indústria nacional.
 
O governo comprou cinco baterias de mísseis antiaéreas russas e praticamente acertou a aquisição de 12 helicópteros modelo MI-35M. No caso das baterias antiaéreas, a empresa paulista Avibras Indústria Aeroespacial detém a tecnologia desde os anos 80. Nos últimos meses a Embraer anunciou que ingressará no negócio de helicópteros e a Helibras tem aumentado seu portfólio de produtos.
 
Na ocasião, o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, informou que o custo desta tecnologia é alto e nada será repassado de maneira gratuita ou como contrapeso em negociações futuras.
 
O valor do pacote de armamentos russos não foi informado, mas deve chegar próximo a casa dos US$ 2,5bilhões, pois somente as baterias custam US$ 1 bilhão.
 
Segundo o governo, o documento firmado entre as partes prevê a “transferência efetiva de tecnologia, sem restrições”.
 
O processo parcial de nacionalização se dará com a presença de empresas brasileiras nas produções conjuntas dos países. O grupo de defesa da companhia Odebrecht será responsável por parte das baterias antiaéreas. A EMBRAER Defesa, atualmente com estreita ligação com a Boeing , e a AVIBRAS também participaram das conversações, mas foram preteridas no processo.
 
A AVIBRAS inclusive chegou nos anos 90 e depois no começo da década passada, a firmar parcerias de produção com empresa aeronáutica militar russa Rosoboronexpor t e também tinha feito acordo para ser a parceira russa na licitação dos caças F-X2. O avião russo não foi classificado e se criou um mal-estar diplomático com o Brasil, que acabou por incluir a Boeing no processo depois de ter descartado a participação norte-americana.
 
Os esforços brasileiros em fechar novos acordos comerciais coma Rússia são, em grande parte, consequência da pressão exercida pela ala pecuarista do Congresso Nacional e de empresários do setor para liberar a carne brasileira.
 
O embargo russo às importações de carne de três estados brasileiros, Paraná, Rio Grande
do Sul e Mato Grosso, já dura mais de um ano e meio.
 
Para um dos maiores especialistas no setor aeroespacial e fundador da entidade e coordenador da Comissão Empresarial para o Desenvolvimento Aeroespacial (CEDAER), Lauro Ney Batista, esse tipo de ação por parte do governo brasileiro é corriqueiro e mostra o despreparo em relação aos assuntos de segurança do Estado.
 
“Não é a primeira vez que isso acontece. O problema é que, exceto por uma ou outra commodity, a Rússia nãotem praticamente nada que o Brasil necessite comprar.  Aí acabam sobrando apenas produtos de defesa que, aliás, estão sobrando por lá desde a queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas [URSS], pois a Rússia não tem a quem vender”, observou o especialista.
 
Na mesma linha, o especialista na área militar e editor do portal DefesaNet, Nelson Düring, quanto a aquisição de armas convencionais. “ Esta questão da defesa antiaérea é uma forma de remake do Projeto Sistema Integrado de Artilharia Antiaérea do Exército Brasileiro (SIAAEB), de maneira urgente, para atender às demandas dos grandes eventos. A questão da negociação com os russos parece mais um jogo para não chegar ao fim”, avaliou.
 
Indústria nacional
 
Enquanto o ministro da Defesa, Celso Amorim, assina acordos para auxiliar a indústria bélica de Angola e da Namíbia a fim de ampliar a independência militar de estrangeiros, as empresas brasileiras enfrentam um cenário muito diferente do existente na década de 80, quando tinha como grandes clientes o Oriente Médio.
 
Atualmente, segundo Batista, a dependência do empresariado é quase que total do mercado interno e das oscilações de humores do governo federal.
 
“Enquanto o Brasil nãoestabelecer uma política de Estado e não apenas de governo para apoiar a Indústria Nacional de Defesa,como fazem todos os países desenvolvidos, sem exceção, não adianta culpar o empresariado brasileiro”, diz. Segundo ele, sem isso, as empresas brasileiras continuarão sendo vendidas a preço de banana para os investidores estrangeiros ou sendo “incorporadas” pelos grandes grupos os quais, sendo empresas de capital aberto, mal sabemos quem são seus donos realmente”, alertou Batista.
 
Düring vai mais longe: ele questiona até mesmo o que é considerado ‘indústria nacional’, já que há aquisições de companhias brasileiras depois que o governo federal se comprometeu a atender o segmento de defesa no lançamento da Estratégia Nacional de Defesa, em dezembro de 2008, pelo presidente Lula. Além da obrigação de reequiparo País para os eventos da Copado Mundo e da Olimpíada.
 
“Pois bem, qual o percentual de capital estrangeiro da Empresa Brasileira de Aeronáutica [EMBRAER]  e o conteúdo de produtos nacionais nos jatos E-170 e E-190?
 
A questão básica é uma só,e continua sendo: o governo não compra e não vai comprar nada. Só comprará da Embraer para fortalecer o portfólio de negócios da empresa”, destacou.
 
Mais de 70% das ações da Embraer estão hoje em dia em mãos estrangeiras, principalmente de fundos de pensão, empresas e entidades dos Estados Unidos e da Europa. Os aviões da Embraer ainda não alcançaram sequer 50% em sua taxa de nacionalização de peças utilizadas em seus produtos.

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