Tânia Monteiro
BRASÍLIA – O pedido de envio de tropas das Forças Armadas ao Rio de Janeiro, feito nesta segunda-feira, 13, ao presidente Michel Temer pelo governador Luiz Fernando Pezão, prevê que os soldados passem a executar o trabalho que cabe a 12 batalhões da Polícia Militar do Estado.
O pedido, na avaliação de militares ouvidos pelo Estado, é de "substituição completa" do policiamento, preventivamente, com pedido de emprego de tropas em inúmeros e diversos pontos da cidade. Para isso, comentam, seria necessária a convocação de contingente semelhante ao que trabalhou na segurança dos Jogos Olímpicos: 22 mil homens.
O pedido do governador, ao qual o Estado teve acesso, foi genérico. Cita o "aparente estado de tranquilidade" do Rio, mas pede o emprego das tropas federais em mais de 50 pontos da cidade, entre eles Nova Iguaçu, município da Baixada Fluminense, e bairros como Deodoro, Centro, Tijuca e Arpoador, além de vias de acesso, como a Avenida Brasil.
Pezão pede patrulhamento entre os dias 12 de fevereiro e 5 de março e destaca ainda locais como o entorno da Assembleia Legislativa do Rio, "durante o período de votação da cessão da Cedae e outras medidas de interesse governo do Estado, que se inicia em 14 de fevereiro".
Apesar de ter citado "o aparente estado de tranquilidade" na capital carioca, o governador Pezão inicia o pedido das tropas federais a Temer admitindo a possibilidade de contaminação da manifestação da Polícia Militar do Espírito Santo. O governador fala que as tropas federais são necessárias, por conta da "proximidade dos eventos carnavalescos, época em que o Rio recebe elevada quantidade de turistas".
Para ele, todos esses ingredientes tornam "real e iminente possibilidade de grave perturbação da ordem", daí a necessidade de reforço de policiamento federal ao Estado. O pedido "irritou profundamente" a cúpula militar, que considera que está ocorrendo um "uso político" das Forças Armadas.
Oficiais-generais consultados pelo Estado ressaltam que o pedido de Pezão caracteriza um "emprego preventivo" das Forças Armadas. Num ponto do pedido, o governador justifica a necessidade da tropa federal alegando que há um "esforço diário de aproximadamente 800 policiais junto à Assembleia Legislativa pelas razões divulgadas pela mídia".
Pezão lista em quatro páginas as localidades e os batalhões que precisam ser cobertos pelas tropas federais. A relação começa em Nova Iguaçu, passa pela rodovia Presidente Dutra, Acari, ruas de Deodoro, Campo Grande, Padre Miguel, Freguesia, Engenho de Dentro, Maracanã, rodoviária Novo Rio, Museu do Amanhã, chega ao Centro, à Praça da Candelária, Praça Mauá, Marina da Glória, Corcovado, várias estações de metrô, indo até Copacabana, Praia do Arpoador e Jardim Botânico.
Ao explicar a preocupação com o movimento de parentes de PMs no Espírito Santo, "que culminou com o aquartelamento e consequente ausência de policiamento ostensivo naquele Estado, gerando grave perturbação da ordem", Pezão lembra que as redes sociais têm efeito multiplicador e que, por conta do movimento no Estado vizinho, "evento similar fora deflagrado nesta unidade da Federação desde 10 de fevereiro".
Ressalta, no entanto, que o movimento dos policiais do Rio foi "sem grave perturbação da ordem, até agora, graças aos esforços incessantes da PMRJ". Segundo Pezão, "mesmo diante do aparente estado de normalidade, o cenário está se agravando, trazendo severos riscos à ordem publica, diante da limitação e possível indisponibilidade dos recursos da Polícia Militar".
O governador não observa, em momento algum, que as motivações dos dois protestos são distintos. No Espírito Santo, os policiais querem aumento salarial; no Rio, querem receber o pagamento do 13º salário, atrasado desde dezembro.
No documento enviado ao Planalto, Pezão pediu o envio das tropas a partir desta segunda-feira, lembrando "o espírito de cooperação e integração consolidado ao longo dos anos entre o Rio de Janeiro e as tropas federais alocadas em solo fluminense, onde a celeridade do processo decisório mostrou-se elemento primordial na preservação da vida e do patrimônio".
Pezão encerra o pedido afirmando que "a estrutura da segurança pública desta unidade se encontra à disposição das Forças Armadas para devidos ajustes de planejamento".
Nota DefesaNet
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