Fábio Grellet e Constança Rezende
Horas depois de o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) afirmar não ser necessário o auxílio das Forças Armadas para conter a violência na Rocinha, a Secretaria de Estado da Segurança solicitou o apoio das Forças Armadas para patrulhar 103 pontos da região metropolitana.
O Ministério da Defesa não apresentou posição final a respeito, mas a solicitação escancara a crise na relação entre forças estaduais e federais de segurança. A secretaria alega ter levado em consideração afirmação do ministro da Defesa, Raul Jungmann, na terça, de que estaria aberto a “fazer cerco a comunidades e ações de rua”. Consultado nesta quarta pelo Estado, o ministro afirmou que só analisará o pedido após recebê-lo.
Mas afirmou que o “ministério não autoriza nem nega”. “Quem pode negar é, privativamente, o presidente da República. Está na Constituição.” A secretaria se manifestou pelo Twitter, à noite.
Na postagem diz que “após a @DefesaGovBr (perfil do Ministério da Defesa) expressar a inexistência de qualquer limitador financeiro ou operacional para emprego das Forças Armadas no RJ, a @SegurancaRJ (perfil da Secretaria de Segurança do Estado) enviou um ofício ao @GovRJ (perfil do governo do Estado) solicitando o patrulhamento das Forças Armadas em 103 pontos da região metropolitana”.
Segundo a Secretaria de Estado , esses pontos não serão divulgados. O Comando Militar do Leste, responsável pelas Forças Armadas na Operação Rio Quer Segurança e Paz, informou na noite desta quarta que ainda não recebera nenhuma solicitação de patrulhamento.
A Secretaria de Segurança iria se reportar inicialmente ao governo do Estado, por intermédio de Pezão, para que o pedido fosse posteriormente enviado ao Ministério da Defesa.
O ministro da Defesa, Raul Jungmann teria alegado, segundo a Globo News, que o patrulhamento das ruas não corresponde ao combinado no início da operação. Na véspera, porém, em entrevista, Jungmann citou as patrulhas como algo que as Forças Armadas poderiam fazer.
Outros líderes militares consideram que o pedido da secretaria não condiz com o acordo feito no início da operação, quando ficou combinado que as Forças Armadas não fariam patrulhamento ostensivo, mas ações pontuais, fundamentadas em informações obtidas pelo setor de inteligência, para combater a infraestrutura das facções criminosas.
Conflito. O desencontro entre a Secretaria de Segurança e o Ministério da Defesa se agravou na semana passada. O governo federal cogitou suspender a cooperação com o Rio, segundo o Estado apurou, por declarações do comando das forças locais de que preferiam ajuda financeira ao envio de tropas.
Depois disso, Jungmann disse que estão ocorrendo problemas de comunicação. E foi rebatido pelo secretário de Segurança, Roberto Sá. “A comunicação com o ministro é muito boa; com o comandante militar do Leste, melhor ainda.”
Anunciada pelo governo federal como medida decisiva para combater a violência no Estado do Rio, a Operação O Rio Quer Segurança e Paz começou no fim de julho e previa ações conjuntas entre as Forças Armadas e as polícias do Estado. O clima inicial de total sintonia logo desapareceu.
A última operação em parceria ocorreu em 21 de agosto. Nas três ações feitas até agora não foi apreendido nenhum fuzil, o que motivou mais críticas aos militares.