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Revolta na floresta

Hugo Marques

A briga de um operário com um motorista de ônibus no acampamento da usina de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia, na terça-feira 15, parecia um episódio sem importância. Mas acabou se transformando no estopim de um conflito que paralisou uma obra de R$ 13 bilhões. Logo depois da briga, indignados, pelo menos 300 operários começaram a atear fogo nos ônibus das empreiteiras de Jirau. No dia seguinte, houve uma trégua, mas a rebelião estourou de vez na quinta-feira 17, quando os operários, reclamando das condições de trabalho, passaram a colocar abaixo tudo o que viam pela frente.

No fim da tarde, o cenário era de devastação: escritórios, metade dos dormitórios e três caixas eletrônicos de bancos destruídos, 45 ônibus e 15 veículos queimados. Assustadas com a violência, mais de oito mil pessoas embrenharam-se pelo mato e fugiram pelas estradas em busca de segurança. Com o conflito, a usina de Jirau, que começaria a operar em março de 2012, vai sofrer atrasos. “Não sabemos por quanto tempo a obra vai parar, mas temos que retomar o controle”, diz o diretor-presidente do consórcio Energia Sustentável do Brasil, Victor Paranhos.

Os poucos policiais que estavam no local tentavam na quinta-feira proteger os equipamentos da usina e o depósito de explosivos utilizados no desvio do curso do rio Madeira. Diante da proporção que ganhou o conflito, o governador Confúcio Moura (PMDB) entrou em contato com o governo federal e pediu apoio da Força Nacional e das Forças Armadas. Cerca de 500 soldados estavam sendo enviados para a região até o fim da semana. Pelo menos 30 trabalhadores foram presos. A polícia recebeu relatos de homens encapuzados que teriam participado do motim, mas não fariam parte do quadro de funcionários das empresas que cuidam da obra.

O consórcio Energia Sustentável do Brasil, responsável por Jirau, é formado por GDF Suez (50,1%), Eletrosul (20%), Chesf (20%) e Camargo Corrêa (9,9%). A obra já nasceu sob polêmica, com a demora do licenciamento ambiental. Após o leilão da concessão, o consórcio comunicou a alteração do eixo da barragem, o que levou o Ministério Público a ajuizar ação civil contra a mudança de localização da usina, 9,2 quilômetros rio abaixo. Os procuradores denunciam ainda a falta de estudos de impacto de Jirau em comunidades indígenas do norte de Rondônia e do sul do Amazonas. A usina causou atritos até com o governo da Bolívia, que se diz preocupado com o impacto ambiental próximo à fronteira.

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