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Qual é o risco de ataque terrorista na Rio 2016?

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) levou a sério uma ameaça contra o Brasil publicada no Twitter por um militante do "Estado Islâmico" (EI) em novembro de 2015. No tuíte, o francês Maxime Hauchard disse que o país seria o próximo alvo do grupo responsável pelos recentes atentados em Paris e Bruxelas, que deixaram dezenas de mortos. O diretor de contraterrorismo da Abin, Luiz Alberto Sallaberry, afirmou que a mensagem eleva a probabilidade de o país sofrer ataques terroristas e também estimula as adesões de brasileiros ao grupo jihadista.

Especialistas ouvidos pela DW divergem sobre o risco de ataques durantes os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Mas eles concordam que, apesar de o país não ter um histórico de ações terroristas internacionais nem estar envolvido em conflitos geopolíticos, um evento da magnitude dos Jogos Olímpicos – com delegações de mais de 200 países e grande audiência mundial – eleva o nível de alerta, pois se trata de uma vitrine para chamar a atenção internacional.

"Há o risco de terrorismo no Brasil porque o país vai abrigar um evento do porte dos Jogos Olímpicos. Eu acho que os brasileiros não seriam alvos diretos, mas os Jogos serviriam de palco, onde atletas internacionais poderiam ser atacados", diz Fernando Brancoli, especialista em segurança internacional da FGV-Rio/CPDOC. "Haverá atletas de Israel, da França e dos Estados Unidos, que tradicionalmente são vistos como alvos potenciais pelo EI ou por outros grupos terroristas."

Para Brancoli, a maior ameaça vem dos chamados lobos solitários, que são mais difíceis de serem rastreados por agirem sozinhos e, portanto, não se comunicarem. Trata-se de pessoas que se autorradicalizam e não necessariamente foram treinadas por grupos terroristas. "Além disso, é mais fácil obter uma grande quantidade de explosivos, fertilizantes [usados na construção de bombas] e armas no Brasil do que em outros países", afirma.

O especialista em segurança internacional Héctor Luis Saint-Pierre, da Unesp, opina que a probabilidade de o Brasil sofrer um ataque agora é a mesma que os Estados Unidos teriam em 2001 ou a França antes dos atentados no final do ano passado. "Talvez eles não estivessem contando com a possibilidade de atos terroristas. E é justamente nessa falta de cálculo que os terroristas operam. O Brasil é vulnerável a ataques terroristas como qualquer outro país. Nenhum sistema é absolutamente seguro", diz.

Já o especialista em segurança Antônio Flávio Testa, da UnB, avalia que um ataque no Rio de Janeiro é muito difícil de ocorrer, já que o governo federal está se preparando há meses e os Jogos vão acontecer basicamente em apenas uma cidade. "O EI já tem dificuldades imensas na Europa e nos EUA para realizar atentados. Abrir mais uma frente [na América do Sul] durante esse grande evento internacional teria um custo muito grande", avalia.

Abin: "Não existe risco zero"

Em entrevista à DW no final do ano passado, Sallaberry afirmou que o Brasil trabalha discretamente, com o apoio de serviços de inteligência estrangeiros, para monitorar eventuais ameaças. Mas, ao mesmo tempo, ele admitiu que "não existe risco zero quando o tema é segurança e, muito menos, quando se trata de terrorismo".

Os Jogos Olímpicos já foram alvo de atentados terroristas. Em 1972, durante os Jogos de Munique, 11 membros da delegação de Israel e um policial alemão foram mortos por militantes do grupo Setembro Negro, ligado à Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Em 1996, em Atlanta, duas pessoas morreram por causa da explosão de uma bomba no Parque Olímpico.

Segundo a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos (Sesge), do Ministério da Justiça, o Brasil contará com um efetivo de 85 mil pessoas para garantir a segurança da Rio 2016, entre eles 47 mil profissionais de segurança pública, incluindo cerca de 9.500 da Força Nacional, 18.500 policiais militares e 1.822 policiais civis do Rio de Janeiro. Além disso, as Forças Armadas vão disponibilizar 38 mil soldados.

Em documento sobre a segurança dos Jogos, a Sesge diz que a cooperação é a principal ferramenta das forças de segurança contra o terrorismo, ao lado da capacitação e investimentos em equipamentos. A secretaria lembra que a Polícia Federal tem uma divisão de terrorismo há mais de 20 anos e adidâncias em mais de 20 países, além de participar da Interpol, onde troca informações com 190 países.

Para Brancoli, o Brasil está bem preparado. Mas, com a lei antiterrorismo aprovada no final de fevereiro pelo Congresso, abre a possibilidade da naturalização de práticas que podem ser danosas para a sociedade civil, como a criminalização de movimentos sociais.

"Eu estaria menos preocupado com um ataque terrorista no Brasil, apesar de as chances existirem. Sou mais reticente sobre essas práticas que vêm a reboque da constituição jurídica do que é um terrorista. Essas ferramentas poderiam ser usadas pelo governo não só contra terroristas, mas também para enfrentar opositores e cercear os direitos individuais dos brasileiros", conclui.

 

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