Adam Thomson | Financial Times
No fim do ano passado, pistoleiros de um cartel de drogas ousaram atacar o novo posto policial em Los Ramones, uma área rural a leste de Monterrey, principal cidade industrial do México. Eles dispararam mais de mil cartuchos de munição contra seu exterior recém-pintado.
Ninguém ficou ferido. Mas a mensagem – de que o crime organizado pode intimidar a autoridade mais ou menos a seu bel prazer, foi, a um só tempo, clara e eficaz. No dia seguinte todos os policiais locais se demitiram, aterrorizados.
Los Ramones ilustra as dificuldades com que o presidente Felipe Calderón defrontou-se ao declarar guerra ao crime organizado em 2006, quando chegou ao cargo.
Em virtude de seu sistema federativo, o país tem uma colcha de retalhos descoordenada de forças de segurança federais, estaduais e municipais, de modo geral insuficientes tão pequenas que representam, para o crime organizado, uma oportunidade fácil para suborno e intimidação.
Na Guatemala, um país que em anos recentes tornou-se base logística para contrabandistas de drogas mexicanos, a história é semelhante. O presidente Álvaro Colom diz que teve de demitir pelo menos dois chefes da polícia nacional, devido a procupações com a corrupção, após a sua posse, em 2008.
O Exército do pais, também empregado para combater o crime organizado, teve seu tamanho reduzido em 70% desde a assinatura de acordos de paz em 1996. Apesar dos esforços de Colom para ampliar o contingente, ele continua mal equipado demais para ameaçar as operações dos cateis. Em recente entrevista ao "Financial Times", o presidente admitiu que alguns equipamentos das Forças Armadas, como aviões e navios, datam da Segunda Guerra Mundial.
No México e na América Central, têm sido lentos os esforços para reformar as instituições de segurança para enfrentar os bem armados cateis de drogas. Tentativas de expurgar das forças repressoras elementos corruptos ou ineptos levam tempo, tal o número de policiais reprovados nos testes.
No Estado de Nuevo León, do onde estão Monterrey e Los Ramones, o governo regional demitiu 560 funcionários, ou cerca de 40% de sua força, quando a atual administração regional tomou posse.
Desde então, Nuevo León iniciou uma campanha de recrutamento com o objetivo de tornar a força mais profissional, oferecendo melhores salários e regalias. Mesmo assim, o Estado ainda tem menos de metade dos cerca de 14 mil policiais de que necessita para cumprir o padrão das Nações Unidas: três para cada mil habitantes.
Em nível nacional, Calderón teve algum sucesso. O México vem tomando medidas para reformular a Justiça e está tem adotado julgamentos mais transparentes, baseados em júris. Ele também ampliou o número de policiais federais, de cerca de 6.000 para 36 mil. Mais de metade dos 37 membros da alta liderança dos cateis foi morta ou capturada, e a apreensão de entorpecentes bateu recorde.
Os poucos sucessos, aliás, não saem barato: num país onde quase metade da população vive na pobreza, o governo mais que duplicou o orçamento anual de segurança, em termos nominais, para 128 bilhões de pesos (US$ 10,4 bilhões). No entanto, as drogas continuam a fluir e a violência, crescendo. A agência de estatísticas mexicana diz terem ocorrido 22 assassinatos por 100 mil habitantes em 2010, contra oito em 2006.
Num provocador lembrete da prosperidade dos barões da droga, a revista "Forbes" classificou em 2010 Joaquín Guzmán, chefão do cartel Sinaloa de drogas mexicano, como a 602ª pessoa mais poderosa no planeta. Calderón não estava na lista.