Maristella Marszalek
Em tempos de pandemia, são muitos os esforços no combate à Covid-19. Militares pesquisadores e cientistas das Forças Armadas Brasileiras trabalham arduamente na busca de soluções que possam contribuir para enfrentar a doença que assombra o mundo. A partir desta segunda-feira (1º), o leitor acompanha série de três matérias sobre inciativas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica na área técnico-científica, que fazem toda a diferença no cenário nacional.
A primeira destacada será a Marinha. Para prover dispositivos que contribuam para a reabilitação do maior número possível de infectados com a Covid-19, a Força Naval uniu forças com a Universidade de São Paulo (USP).
As duas instituições preparam-se para iniciar produção em escala do ventilador pulmonar emergencial, batizado com o nome 'Inspire'. O aparelho foi desenvolvido por equipe de pesquisadores da Escola Politécnica (Poli). De baixo custo, o equipamento pode ser produzido em até duas horas, com tecnologia nacional e preço inferior ao dos aparelhos disponíveis atualmente no mercado.
Sob a supervisão da Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha (DGDNTM), a produção das estruturas mecânicas conta com a participação do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) e do Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros Navais (CTecCFN). Tanto o projeto técnico quanto a produção do protótipo dos respiradores foram concebidos e aperfeiçoados pelos engenheiros integrantes do Projeto de Desenvolvimento da Planta Nuclear Embarcada (PNE), do primeiro submarino brasileiro com propulsão nuclear.
A produção será feita no Laboratório da Sede do CTMSP, no próprio campus da Universidade de São Paulo (USP), com a participação de técnicos do Centro Experimental Aramar (CEA). A estimativa inicial é que sejam produzidos de 25 a 50 ventiladores pulmonares por dia. Essa capacidade poderá ser ampliada caso haja necessidade.
Até o momento, a primeira fase do projeto foi concluída com êxito. Foram fabricados dez protótipos e desenvolvido o modelo que consolidou o primeiro dos respiradores, denominado “Cabeça de Série”.
A USP, com o apoio da Marinha, está empenhada na aquisição dos últimos componentes críticos e insumos, e em submeter o equipamento a testes e avaliações das autoridades competentes. Assim que for obtida sua homologação, o novo equipamento será produzido em escala e disponibilizado para uso emergencial.
Protetor biológico
Em todo o Brasil, dia após dia, aparecem os frutos obtidos pelos profissionais militares na área de pesquisa, para ajudar no enfrentamento à pandemia. A Equipe de Resposta Nuclear, Biológica, Química e Radiológica do 2° Batalhão de Operações Ribeirinhas (2°BtlOpRib), de Belém (PA), acabou de desenvolver protetor biológico tóraco-facial para evitar o contágio de equipes de saúde que lidam com casos do novo coronavírus.
O equipamento une baixo custo e fácil montagem e foi projetado com especialistas do Hospital Naval de Belém (HNBe). O protetor atende às necessidades de uso, tanto em ambulâncias quanto em camas hospitalares, graças à sua estrutura compacta.
O protótipo do equipamento, que diminui drasticamente o risco de contágio da doença, foi criado pelo Tenente Fuzileiro Naval Hélio Augusto Corrêa da Silva Junior, integrante do 2°BtlOpRib. Ele conta que durante uma de suas palestras, ministradas durante o Estágio de Qualificação Técnica em Defesa Biológica, surgiu a ideia do protetor. “Pensei em um protetor que pudesse isolar o paciente e proteger os profissionais durante os procedimentos nas ambulâncias e nas UTIs, evitando a contaminação e a disseminação do vírus’, explicou o militar.
O novo protetor, apesar de não possuir certificação normativa específica, foi testado e modificado para atender às recomendações sugeridas pelo HNBe. A avaliação é que, com o seu uso, combinado com as demais medidas de proteção adotadas pelas equipes de saúde, proporcione eficácia de cerca de 80% na proteção.
Segundo o Tenente Hélio, o melhor de tudo é que os protetores são feitos com materiais facilmente encontrados no mercado e que exigem pouco investimento, como canos de tubulação e plásticos. “A intenção é agilizar a produção e disponibilizar o material, em um primeiro momento, para uso nas ambulâncias da Marinha e, depois, para as demais Forças Armadas e Forças Auxiliares”, informou o inventor.
Impressoras 3D
Em outra iniciativa, mas também visando a proteção individual daqueles que estão na linha de frente no combate à Covid-19, o Centro Tecnológico do Corpo de Fuzileiros Navais (CTecCFN) criou protótipos de máscaras faciais rígidas do tipo 'face shield'. Em campanha desenvolvida junto ao SOS 3D COVID-19, profissionais civis cederam o projeto inicial da máscara, que foi aprimorado pelo CTecCFN. A parceria, feita logo no início da pandemia, possibilitou a troca de experiências relacionadas ao protetor facial e gerou 730 máscaras produzidas com impressoras 3D.
A máscara-escudo ou 'face shield' surgiu na República Tcheca, em meio à pandemia e, em pouco tempo, chegou ao Brasil. É composta por três peças: uma placa transparente de acetato (viseira); uma tiara impressa em 3D e um elástico que ajusta o equipamento ao rosto do profissional.
O Centro da Marinha também produziu outras 1.220 máscaras de proteção, por meio da técnica de dobradura. A produção diária é de cerca de 100 unidades. Ainda referente a EPI, o CTecCFN atuou na produção em grande escala de máscaras faciais descartáveis em TNT. Já foram confeccionadas 119.850 delas, chegando a bater o número de 4,5 mil máscaras produzidas por dia.
Muitos produtos estão ainda em fase de desenvolvimento pelo CTecCFN. Entre eles, há dois capacetes de pressão positiva, um para ser usado pelos profissionais de saúde em ambientes contaminados e outro pelos pacientes acometidos pela COVID-19 que não necessitam ser entubados.
Um modelo de máscara operativa, tipo balaclava, é desenvolvido para o uso da tropa. A previsão é que a produção desse modelo seja terceirizada, com estimativa de confecção de 10 mil unidades. Essa máscara também é conhecida como touca ninja, uma vez que deixa só os olhos visíveis e o resto da cabeça encoberta.
Firme no propósito de contribuir para o desenvolvimento tecnológico e de buscar soluções inteligentes para combater o vírus, que hoje é um inimigo mundial, o CTecCFN também desenvolve pesquisa sobre o uso de lâmpadas UV para a descontaminação de ambientes. De acordo com a Marinha, os estudos ainda estão em um estágio inicial, mas não deixam de corroborar com a ideia de que a ciência é o caminho para se entender o mundo e enfrentar o futuro.
Operação COVID-19
O Ministério da Defesa ativou, em 20 de março, o Centro de Operações Conjuntas, para atuar na coordenação e no planejamento do emprego das Forças Armadas no combate à COVID-19. Nesse contexto, foram ativados dez Comandos Conjuntos, que cobrem todo o território nacional, além do Comando Aeroespacial (COMAE), de funcionamento permanente. A iniciativa integra o esforço do governo federal no enfrentamento à pandemia que recebeu o nome de Operação COVID-19.
As demandas recebidas pelo Ministério da Defesa, de apoio a órgãos estaduais, municipais e outros, são analisadas e direcionadas aos Comandos Conjuntos para avaliarem a possibilidade de atendimento. De acordo com a complexidade da solicitação, tais demandas poderão ser encaminhadas ao Gabinete de Crise, que determinará a melhor forma de atendimento.