ANDRÉ MONTEIRO
DE SÃO PAULO
A Polícia Federal disse ter desmontado um braço do PCC (Primeiro Comando da Capital) que havia conseguido cortar intermediários na compra de drogas no exterior para trazê-las ao Brasil.
Nesta segunda-feira foram presas 17 pessoas suspeitas de integrar a "sintonia paraguaia", célula da facção que ao menos desde 2010 havia se fixado na região de Ponta Porã (MS), na fronteira com o Paraguai.
Em dezembro, reportagem da Folha revelou que a PF já investigava o grupo. A polícia havia apurado que a tentativa de cortar intermediários começara em 2008. Até então, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, era um dos poucos criminosos que havia quebrado essa barreira.
Segundo o delegado Ivo Roberto da Silva, coordenador da operação "Leviatã", deflagrada hoje, o objetivo do grupo era cortar custos e garantir a qualidade da droga que abastecia os pontos de venda controlados pela facção.
A maconha era comprada de produtores no Paraguai, e a cocaína vinha principalmente da Bolívia. Os criminosos pagavam aos produtores R$ 4.000 por um quilo de cocaína, valor que passava dos R$ 6.000 com os intermediários.
Apesar do grupo já estar bem articulado, o delegado Alexandre Custódio Neto, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF, afirma que a maior parte das drogas vendidas pelo PCC ainda vem dos intermediários, pois "a quadrilha enfrentava dificuldades para se firmar na região, já dominada por outros grupos especializados".
A PF diz não ter detectado nenhum confronto entre os grupos criminosos, mas não descarta a possibilidade. Além de drogas, o braço do PCC importava e transportava armas como pistolas e metralhadoras.
A investigação apontou que a droga abastecia os pontos de venda em São Paulo e era vendida também para criminosos de outros Estados, como o Rio de Janeiro.
OPERAÇÃO
A 4ª Vara Criminal Federal de São Paulo expediu 25 mandados de prisão temporária. Sete dos suspeitos foram presos na região de fronteira, nove já estavam em presídios e um foragido da Justiça foi recapturado –outros nove permanecem foragidos.
Também foram expedidos sete mandados de busca e apreensão, que foram cumpridos em São Paulo e Mato Grosso do Sul. A pedido da PF, a Justiça ainda bloqueou um imóvel em Presidente Prudente (558 km de SP) e 128 contas bancárias que eram supostamente usadas pelos suspeitos, todas em nome de terceiros.
De acordo com a investigação, a "sintonia paraguaia" recebia ordens diretas da cúpula do PCC em presídios da região de Campinas (93 km de SP), Martinópolis (553 km de SP) e São Paulo.
Depois de comprada no exterior, o transporte da droga era organizado pela quadrilha. Sempre por estradas, a maconha e a cocaína eram escondidas na lataria de carros e no meio de cargas de caminhões, como de madeira e cereais.
APREENSÕES
Nesta terça-feira foram apreendidos 22 kg de maconha, 8 kg de cocaína, 1 pistola calibre 9mm e munição. Em Dourados e Ponta Porã, na fronteira de Mato Grosso do Sul e Paraguai, foram apreendidos produtos químicos usados no refino da cocaína.
Ao longo da investigação, iniciada em outubro de 2010, foram realizadas 29 ações policiais, que resultaram na prisão em flagrante de outras 48 pessoas e na apreensão de 270 kg de cocaína, 2 toneladas de maconha, R$ 130 mil, 30 veículos, 29 fuzis, 13 pistolas, 3 granadas, 1 rifle e munição (3.001).
Todos os presos vão responder por tráfico de drogas e associação para o tráfico.