Estado de Minas
A resposta que o governo começou a dar à falta de proteção aos pontos mais frágeis da extensa linha de 15.715 quilômetros que separa o Brasil de seus 10 vizinhos vem em boa hora. Se bem executado, o Plano Estratégico de Fronteiras anunciado pelos ministros da Justiça, José Eduardo Cardoso, e da Defesa, Nelson Jobim, será um marco não apenas no amadurecimento da elogiada relação sem conflitos do Brasil com tão numerosos vizinhos, como no combate a vários e graves males que assolam e envergonham o país.
Desde a ocupação dos pontos dominados pelo tráfico nas favelas do Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, por tropas da polícia estadual com o apoio de blindados da Marinha, em novembro, ficou muito evidente a importância das armas contrabandeadas na construção do poder de organizações criminosas. É em boa parte graças ao tráfico de sofisticado equipamento bélico que as quadrilhas afrontam a autoridade do Estado e submetem comunidades inteiras. A permanente realimentação dos arsenais clandestinos torna em vão a perda de vidas sacrificadas no combate a essas organizações.
A começar pela coordenação das ações de segurança nas fronteiras, inédito esforço que evita a dispersão e aumenta a eficácia dos recursos da Polícia Federal e das Forças Armadas, por meio da criação do Centro de Operações Conjuntas (COC), o plano é animador também por avanços concretos. Na verdade, as Forças Armadas já vinham trabalhando para aumentar seus efetivos e recursos tecnológicos voltados para a defesa de fronteiras e, agora, o governo decidiu apoiar vigorosamente esses programas. Alguns deles serão tocados com mais urgência.
É o caso do Exército, que preparou e vem implantando um programa especialmente focado nas complexas fronteiras com sete países vizinhos da Região Amazônica (da Bolívia até a Guiana Francesa). Vão passar para 48 os atuais 20 pelotões de fronteira, unidades especializadas na função. Esse projeto se insere no Sisfron, programa ainda em estudos, de amplo monitoramento e emprego de Forças terrestres na fronteira seca com os 10 vizinhos. Recente levantamento feito pelo Exército listou os 13 crimes mais frequentes nessa regiões e apontou os estados mais afetados. O Amapá lidera o ranking, com nove modalidades de crimes. Paraná, Amazonas e Mato Grosso Sul vêm em seguida, com oito modalidades, enquanto Rondônia e Acre aparecem em terceiro lugar, com sete dos 13 crimes.
Já a Polícia Federal vai executar um plano permanente de vigilância de fronteiras, que dobra o efetivo atual da Operação Sentinela. Há pelo menos 34 pontos identificados como críticos e que serão alvo de patrulhamento mais rigoroso. São notícias há anos reclamadas pelos estudiosos do avanço do tráfico no Brasil. E a presidente fará bem se acompanhar de perto a execução desses programas, cobrando agilidade e eficiência, evitando que eles entrem para a lista das frustrações nacionais. Afinal, o que está em jogo é muito mais do que o dever constitucional de defender as fronteiras do país. Trata-se da vida e do futuro de milhões de jovens, vítimas potenciais do tráfico.