Paulo Yafusso
CAMPO GRANDE. Um ônibus que transportava cerca de 35 estudantes índios foi atingido por um coquetel molotov na noite de sexta-feira, dentro da aldeia dos índios terena em Miranda, em Mato Grosso do Sul. Muitos índios ficaram queimados e quatro estão internados em estado grave nesta capital. A Polícia Civil ainda não tem pistas dos autores do atentado.
O veículo estava dentro da aldeia Babaçu, a 15 quilômetros do Centro da cidade, quando foi atingido. O material atingiu o para-brisa e o fogo logo se alastrou.
– Escutei um barulho e depois vi o fogo se esparramando dentro do ônibus e chegando às pessoas. Todo mundo saiu correndo, quebrando o vidro com chutes para sair. E depois jogaram terra e areia para apagar o fogo e o ônibus não explodir – afirmou o indígena Edivaldo Francisco Martins, de 29 anos.
Ele e a esposa estavam nas poltronas que ficam no meio do ônibus e tiveram queimaduras apenas em algumas partes do corpo. A mulher continua internada porque, além das queimaduras, bateu a cabeça. Edivaldo contou que uma das colegas, que sofreu ferimentos graves, disse que viu uma pessoa agachada no meio do mato, à beira da estrada, portando um objeto com fogo. Logo em seguida, ouviu a explosão e o ônibus pegando fogo. A índia não soube dizer se era um homem branco ou um índio.
Chefe do escritório da Funai diz que ainda não há pistas
O chefe do escritório da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Miranda, Evair Borges, disse que ainda não há pistas sobre o motivo do crime. O atentado foi o tema de uma reunião ontem com todos os líderes de aldeias da região.
– É cedo para dizer alguma coisa, estamos analisando para entender o que ocorreu. Não dá para dizer ainda se foi conflito interno, entre os índios, ou se foi coisa de fazendeiro – afirmou.
Ele disse que já pediu o apoio dos indígenas e da polícia para descobrir quem foi o autor do atentado. Borges descartou que a pessoa que jogou o coquetel molotov tenha atirando também pedras no ônibus. As pedras recolhidas pela perícia dentro do veículo, explica ele, foram usadas para quebrar os vidros para os alunos saírem.
Para a Santa Casa de Campo Grande foram levados os feridos em estado grave: três índios e o motorista do veículo, Laércio Xavier Correia, de 27 anos. Ele teve todo o corpo queimado. A índia Ludivone Pires, de 28 anos, que estava sentada atrás do motorista, também teve queimaduras graves.
A região de Miranda concentra boa parte da população de índios terena do estado, e com frequência há registro de conflitos agrários. Há mais de dois meses, um grupo ocupa a Fazenda Charqueada. No ano passado, eles invadiram algumas propriedades, entre elas a Fazenda Petrópolis, que pertence à família do ex-governador Pedro Pedrossian. Na época, houve um princípio de confronto entre índios e polícia.