ADRIANA CARRANCA, LONDRES – O Estado de S.Paulo
"Mamãe, vai ter guerra?", perguntou Laila, de 3 anos, ao ver soldados britânicos tomarem o prédio onde mora, no leste de Londres. Os habitantes do Fred Wigg Tower, em Leytonstone, têm das janelas de seus 17 andares a vista do Parque Olímpico no horizonte. Numa manhã do início de julho, acordaram com um lança-mísseis sobre seu teto.
O equipamento bélico, instalado no último andar do prédio, faz parte do Plano de Segurança Aérea colocado em ação na sexta-feira para a cerimônia de abertura da Olimpíada de Londres. Pelas próximas duas semanas, o espaço aéreo do Parque Olímpico será vigiado por militares 24 horas por dia. A função principal é evitar um atentado terrorista nos moldes do 11 de Setembro. O secretário de defesa britânico, Philip Hammond, tem permissão para autorizar pessoalmente que aeronaves não autorizadas nas proximidades do Parque Olímpico sejam abatidas, em caso de um ataque.
Os mísseis de alta velocidade colocados sobre uma das torres do Fred Wigg Tower são a última linha de defesa, quando tudo mais falhar, segundo informações dadas pelas forças britânicas durante o julgamento de uma ação movida pelos moradores contra o Ministério da Defesa. A Justiça considerou a segurança nacional prioridade sobre os interesses dos residentes.
Os moradores temem que a presença militar tenha transformado o local onde vivem em um alvo de terroristas. Muitos deixaram Londres. "Vamos passar dez dias com minha família a uma hora de Londres porque não quero estar aqui durante os Jogos. Nós nos tornamos um alvo natural de terroristas, com uma base militar sobre nossas cabeças", diz Tyla, de 23 anos, mãe de Laila.
Subúrbio.
Leytonstone, nas redondezas do Parque Olímpico, era um subúrbio pacato antes de ser envolvido no complexo esquema logístico e de segurança dos Jogos. Grande parte das moradias da região são conjuntos habitacionais construídos nos anos 1960 pelo governo para famílias de baixa renda. Muitos imigrantes muçulmanos do sudeste asiático vivem no bairro, de ruas tranquilas, longe do burburinho do centro de Londres.
"Não fomos sequer consultados. Um dia acordamos e havia um lança-mísseis em nosso telhado", diz Mohammed, da Caxemira, que vive com a mulher e quatro filhos no primeiro andar do prédio.
O Plano de Segurança Aérea para os dias de Jogos inclui um heliporto naval no Rio Tâmisa, e helicópteros Puma estacionados no centro do Exército Territorial, em Ilford. A Real Força Aérea britânica reforçará a segurança nos dias dos Jogos. Lançadores de mísseis foram colocados em outros cinco pontos da cidade: o edifício Lexington, no distrito de Tower Hamlets, também no leste; em Blackheath Common e Oxleas Wood, no norte; em Barnhill e próximo ao reservatório de William Girling, no sul da capital.
O coronel da Defesa Conjunta, Jon Campbell, explicou na época da instalação dos equipamentos que a intenção era evitar que o Parque Olímpico precisasse ser fortemente armado, optando por deixar o arsenal bélico nas redondezas, à distância dos olhos dos visitantes. A presença ostensiva das forças de segurança inclui guardas à paisana, mas é evidente, embora não tenha abalado o espírito dos visitantes que lotavam o shopping Westfield, porta de entrada do Parque Olímpico, na sexta.
Já os moradores do Fred Wigg Tower se sentem assim, nas palavras de Mohammed: "É como estar em guerra enquanto o restante da cidade vive tempos de paz e alegria".
Organizadores convocam exército britânico para ocupar
lugares vazios em Londres-2012
Após um primeiro dia em que lugares vazios eram visíveis, os organizadores dos Jogos Olímpicos de Londres resolveram convocar os militares para resolver o assunto. Neste domingo, os soldados que estavam fora do horário de trabalho receberam ingressos para cadeiras vazias dentro das instalações esportivas.
A ação foi motivada pelas críticas que Londres-2012 recebeu no primeiro dia pelas cadeiras vazias em eventos importantes, como natação (pelo menos nas provas eliminatórias), ginástica artística e basquete (nos primeiros jogos das sessões). Ex-ministra olímpica, Tessa Jowell, pediu que ingressos fossem distribuidos para soldados, estudantes e professors da rede de ensino Londrina para, garantir que todos os ingressos sejam oferecidos para quem possa usá-los?.
Segundo o Locog (Comitê Organizador dos Jogos), o problema não é a falta de interesse do público, mas dos credenciados. Segundo o jornal inglês Guardian, 20% de todos os lugares em eventos olímpicos são destinados a convidados (de patrocinadores do Comitê Olímpico Internacional, por exemplo) ou a cartolas ou membros das delegações. Em eventos de primeira linha, como as finais de modalidades coletivas ou o dia dos 100 m rasos do atletismo, esse volume pode chegar a 50%. Para o Locog, são essas vagas