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O OUTRO LADO

O  OUTRO LADO  

General-de-Exército Rômulo Bini Pereira
Ex-chefe do Estado-Maior da Defesa

           
Com a instauração da Comissão da Verdade, o ciclo de beligerância e de turbulência política do passado recente voltou a ser tema discutido em nosso país. Um tema sensível que estará presente em debates e artigos nos próximos dois anos, tempo de vigência dos trabalhos da Comissão. Neste período os principais fraseados das esquerdas brasileiras estarão em evidência sempre acompanhados de emoção e contestações. Agora é possível acrescentar no debate a Lei da Anistia, já chamada de Lei Injusta, primeiro passo para a sua revogação.
Esquecem estes críticos que foi essa Lei que permitiu os quase 33 anos de relativa paz no processo de crescimento democrático do país. Sem ela o período seria controverso e perturbador.

Nesta Comissão as Forças Armadas serão o foco principal. Disciplinadas como são, estarão em silêncio e sem poder político para interferir nos processos que serão abertos. O seu desgaste será evidente, um objetivo permanente de segmentos minoritários e sectários da esquerda brasileira.
         
Surge, agora, em artigo publicado neste jornal, de autoria do frade dominicano Libânio Christo, uma nova designação para a Comissão da Verdade. O novo nome seria Comissão da Vaidade, uma alusão à posição adotada por um dos juristas que integra a Comissão, considerada vaidosa pelo frade. O jurista teria se posicionado, em Corte Internacional, contra interesses de familiares de vítimas na Guerrilha do Araguaia. Em seu artigo o autor questiona se o jurista teria condições de atuar com imparcialidade. Quanto a esta dúvida é surpreendente a posição do frade. Ele considera o jurista parcial, pois o mesmo foi contrário ao posicionamento dos citados familiares. Então sejamos claros, os sete indicados serão imparciais quando analisarem um só lado, de preferência o lado do frade Libânio. Se analisarem o “outro lado” serão parciais. É de se perguntar quem seria o vaidoso? O jurista ou o frade?

Como deverão se sentir os juristas indicados, com base no seu “notável saber”, diante deste patrulhamento ideológico? Como se sentirão ferindo o principio básico do Direito, o contraditório? Haverá vistas do processo às partes?     

Meu professor de História Geral, um saudoso frei franciscano, ensinava que a “História tem sempre dois lados”. O “outro lado” também tem inúmeras perguntas não respondidas e nem esclarecidas. Também choramos os nossos mortos, porque tivemos mais de uma centena deles e quase um milhar de feridos, muitos inocentes e que nada tinham com os confrontos. Assassinatos a sangue frio, a pauladas, a coronhadas e até esquartejamento houve. São famílias enlutadas que em sua totalidade não receberam qualquer apoio indenizatório. Não existia naquela época nenhum tipo de benesse, tal como a atual “Bolsa Ditadura”. Atentados e sequestros com mortes. Sequestro é tortura infame. Enumerar outros fatos a esclarecer ultrapassaria nosso espaço jornalístico. Entretanto gostaríamos que uma pergunta, talvez a mais importante , fosse respondida: Que Democracia lutavam para resgatar?

O ideário das organizações terroristas e os depoimentos atuais e insuspeitos de ex-integrantes das mesmas, comprovam que o objetivo maior, caso vencessem, seria a implantação de uma “ditadura do proletariado” e não uma democracia como assegura frade Libânio.

Dependendo da organização, seria uma ditadura soviética, maoísta, albanesa ou cubana.  Para mim, sem receio de errar, a cubana e o seu famigerado “paredon”. Por sinal, os covardes justiciamentos em nosso país, por ordens de tribunais relâmpagos, comprovam a escolha. Caso vingassem tais doutrinas, não poderíamos, hoje, escrever livremente neste jornal. Eu, com absoluta certeza. Pela sua simpatia ao regime cubano, o frade Libânio escreveria no jornal do partido único. À semelhança de Cuba, aqui haveria um só lado. Não existiria o “outro lado”.

Não tenho profundos conhecimentos da mitologia grega e nem das literaturas portuguesa e espanhola para citações brilhantes como as do frade Libânio. Todavia, fruto da formação franciscana que recebi, encerro com uma citação bíblica, que creio ser válida para o momento pelo qual passamos: “Não julgueis para não serdes julgado. Pois com o julgamento com que julgais sereis julgado, e com a medida com que medis sereis medido.” (Mt 7:1).

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