Adriana Fortes
Tabatinga, no Tupi Guarani, significa "casa pequena”, mas, há seis dias, a "Capital do Alto Solimões”, como é conhecida esta cidade localizada no oeste do estado do Amazonas, vive uma rotina diferente.
Uma rotina de casa cheia. Integrantes das Forças Armadas do Brasil, Colômbia, Peru e Estados Unidos, observadores militares de nações amigas, representantes de ministérios, de agências brasileiras, estrangeiras e de empresas de material de emprego militar de uso dual (civil e militar) estão reunidos no município para o AMAZONLOG17.
O objetivo do exercício, inédito na América do Sul, é desenvolver doutrina para ações humanitárias que respondam de forma rápida a adversidades causadas por ondas migratórias, catástrofes e acidentes.
São cerca de 2 mil pessoas, sendo 490 militares estrangeiros e 350 civis atuando de forma conjunta, no desdobramento de uma base, que será responsável por coordenar todas as ações logísticas necessárias para uma resposta efetiva em situações diversas.
Foi nesse contexto, que o ministro da Defesa, Raul Jungmann, esteve neste sábado (11), acompanhando as operações e conhecendo as instalações dessa base multinacional. O exercício é organizado pelo Comando Logístico do Exército Brasileiro (COLOG) e envolve 22 agências governamentais.
“Nós temos aqui 23 países unidos com um só objetivo: ajuda humanitária. O Amazonlog reúne as Forças Armadas do Brasil e de países vizinhos e irmãos em uma unidade a favor das comunidades e dos povos. Esse é um trabalho em favor da vida. E todos os países que quiserem colaborar nesta missão serão muito bem tratados e reconhecidos pelo povo brasileiro”, disse Jungmann.
O capitão de mar e guerra Schonfelder, da Marinha do Brasil, explica que a Força Naval deverá fazer dois atendimentos durante o exercício, um em Tabatinga e outro em Belém do Solimões, além disso, um grupo de médicos já está também atuando no hospital de guarnição local. “Estamos com dois navios navios de patrulha fluvial, Amapá e o navio de Assistência Hospitalar Dr. Montenegro, uma tropa de 40 fuzileiros, que está cuidando da segurança da base, entre eles quatro militares de Defesa Química Biológica Radiológica e Nuclear (DQBRN), que participam dos exercícios de controle biológico”, explicou o comandante.
A escolha do local para a montagem da base logística não foi por acaso. Entre os maiores desafios da Amazônia estão as dificuldades de deslocamentos e comunicações, e a logística, neste caso, é imprescindível.
Por isso, o Amazonlog irá proporcionar a troca de experiências entre países no enfrentamento de situações que requerem urgência de atendimento, pois envolvem as vidas humanas.
O acesso à cidade se dá por barco ou por avião, inexistindo estradas que unam Tabatinga a Manaus. A viagem fluvial no trecho Tabatinga – Manaus consome cerca de três dias e, no trecho contrário, cerca de sete dias.
O comandante logístico do Exército e da operação do exercício, general Teophilo, explica que o local foi escolhido pela dificuldade logística, pelos desafios e soluções que estão sendo apresentadas. “Nós estamos na coordenação, no emprego desta difícil missão que é a ajuda humanitária. Toda hora nós misturamos operações do exercício com operações reais, pelo local que foi escolhido”, argumenta o general do Exército Brasileiro.
E algumas dessas operações reais, às quais o general Teophilo se refere, foram realizadas com o apoio da Aeronáutica. Em seis dias de exercício, cinco vidas foram salvas. Entre elas, a de um bebê que nasceu prematuro na comunidade de Palmeira do Javari e foi transportada para Tabatinga.
Além de um rapaz, que sofreu uma fratura de crânio e foi removido para Manaus, e uma grávida que precisou ser resgatada do Estirão do Equador. Durante a visita do ministro da Defesa, também foram realizadas algumas simulações.
Um C-105 Amazonas, do 1º Esquadrão do 9º Grupo de Aviação da Força Aérea Brasileira, efetuou um lançamento de uma carga de 225 kg, utilizando um sistema semiautomático, no qual o paraquedas é acionado por uma fita de abertura, que fica conectada ao cabia cabo de ancoragem da aeronave.
Isso tudo a uma altura de 400 pés e uma velocidade de 250 km/h. O general Nardi, chefe de Operações Conjuntas do Ministério da Defesa (MD), falou da importância da interação entre as agências nacionais e internacionais: “Esta operação vai trazer uma série de ensinamentos que poderão ser muito uteis nos planejamentos futuros e no aperfeiçoamento da atividade logística na região. Cada país tem suas especialidades e aqui é um grande fórum de discussão de problemas e apresentação de soluções”, ressaltou.
Uma das agências envolvidas no exercício é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O chefe de operações aéreas da instituição, Wilson Rocha, destaca que cerca de 20 vinte pessoas do instituto ajudam no trabalho de fiscalização e emergência ambiental, além de duas aeronaves completas, com tripulação e guincho, para apoio nas simulações que são realizadas. “É uma forma de integrar, já que unimos diversas realidades e uma forma de nos aprimorarmos em termos de doutrina”, afirmou Rocha.
O coordenador do Departamento de Operações de Socorro em Desastres, do Ministério da Integração, Cesar Santana, explicou que o enfrentamento de situações requer urgência de atendimento, pois envolve as vidas humanas. “A vida não se repõe. Todo esforço que se puder fazer para a preservação da vida é válido.
Essa interação entre as agências que compõem o sistema nacional de defesa civil é de suma importância. Vamos dar continuidade a esta ação e buscar firmar um protocolo de interação entre agências tanto nacionais, quanto internacionais”, lembrou ele.
O General Jimenez é chefe do Estado Maior de Operações do Exército da Colômbia e disse estar orgulhoso em compartilhar esta experiência: “Isso vai permitir engrandecer nosso Exército, nossas forças militares e interagir melhor com países que sempre estão do nosso lado, como é o caso do Brasil, do Peru e de todos os outros países que, de alguma forma. participaram deste exercício, como observadores ou colaboraram com este exercício colaboradores”, disse.
Nossos vizinhos argentinos foram representados pelo general Sosa, chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas da Argentina, que também defende a unidade entre as nações para uma pronta resposta em situações de calamidade: “Ter um uma capacidade integrada internacional, que pode prestar ajuda humanitária, e ter todas as agências e países amigos reunidos poderá ajudar a criar um sistema, o que é uma coisa absolutamente positiva, e que permitirá que todos estejam em melhores condições para enfrentar desastres que estão cada vez mais fortes”, afirmou Sosa.
O AMAZONLOG17
O Exercício Amazonlog17 foi inspirado no Capable Logistician, atividade semelhante promovida por países que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 2015, na Hungria.
No Brasil, até 13 de novembro, uma Base Logística Multinacional Integrada em Tabatinga, na região da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, integra pessoal, viaturas, aeronaves e equipamentos logísticos necessários para atender a diversos eventos simulados, relacionados a temas como controle de fluxos migratórios não autorizados em casos de ajuda humanitária e assistência humanitária em grandes eventos e operações de paz.
Focado na cooperação e na interoperabilidade entre as Forças Armadas, em integração com agências governamentais e países amigos, o Exercício tem o Brasil, a Colômbia e o Peru com tropas no terreno, para atender ao Estado-Maior Conjunto Combinado nas operações simuladas decorrentes de ações de apoio humanitário.
Antes da execução, propriamente dita, o Amazonlog foi tema de duas conferências internacionais de planejamento em Brasília (DF); um evento-teste, simpósio e exposição de produtos de defesa em Manaus (AM). Todos eventos organizados pelo Comando Logístico do Exército.
Ao final do exercício, os participantes terão adquirido conhecimentos necessários ao emprego logístico e ao trabalho integrado para resposta rápida a situações de calamidades, enchentes, terremotos, catástrofes que atingem populações de diversos países.