Robson Bonin
O Ministério da Defesa vem articulando em sigilo nos últimos dias um gigantesco plano de contingência para evitar que as cenas de caos e violência registradas no Espírito Santo se alastrem para outros estados do país. Diante da ameaça de greve das polícias militares em pelo menos quatro estados – Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul –, as Forças Armadas elaboraram esquemas de logística e deslocamento de tropas por terra e ar para atuar em cada um dos focos de tensão detectados pelo país.
A ideia é que as forças melhorem o tempo de reação (bastante criticado no caso do Espírito Santo), caso os governos estaduais decidam recorrer ao reforço militar diante da ameaça grevista.
Um integrante da cúpula do governo que atua diretamente na elaboração dessa estratégia militar disse a VEJA que cerca de 30.000 militares altamente treinados estão a postos nos quarteis das três forças para serem acionados em caso de deflagração de greves pelos estados. São soldados que já atuaram em zonas de conflito como o Haiti, por exemplo.
“Diante da possibilidade de que o presidente da República solicite que as Forças Armadas venham a assumir operacionalmente o controle da segurança de um determinado estado, segue-se um procedimento que é padrão: você faz uma logística, vê os pontos chaves, os pontos críticos e estabelece um oficial de ligação das Forças Armadas com a secretaria de Defesa do estado.
A gente tem alguns estados onde essas pré-condições já estão dadas. É o caso do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, de Pernambuco e do Rio Grande do Sul. Já temos planos micro detalhados de emprego de tropas para esses estados”, diz um auxiliar do presidente Michel Temer.
As medidas começaram a ser adotadas depois que relatórios de inteligência que chegaram ao Palácio do Planalto identificaram o risco de disseminação da crise na segurança pública que já resultou em mais de 120 mortes no Espírito Santo, além de uma onda de saques ao comércio e toda sorte de crimes comuns.
A crise no Espírito Santo chega hoje ao sétimo dia. Na manhã desta sexta-feira, o comandante da Polícia Militar, Nylton Pereira, anunciou que 703 policiais militares serão indiciados pelo crime de revolta – caso sejam condenados, os militares podem pegar de 8 a 20 anos de detenção. Segundo o comandante, os PMs tiveram o ponto cortado desde sábado, dia 4, e ficarão sem receber férias e escala especial.
“O crime de desobediência, é uma transgressão grave para o militar. Quando evolui para motim, prevê 4 a 8 anos de detenção. Quando os policias estão armados, configura crime de revolta, que prevê pena de 8 a 20 anos. Ontem indiciamos 327 policiais militares por revolta. Hoje indiciamos 376, resultando em 703 indiciados”, afirmou o comandante.
O secretário de Segurança do Espírito Santo, André Garcia, afirmou que o governo não tem mais capacidade de diálogo. A categoria reivindica 43% de reposição salarial. Os representantes dos PMs sugeriram, em reunião nesta quinta, o parcelamento do reajuste – um aumento inicial de 15% e os demais 28% no prazo de 12 meses, mas o governo ofereceu apenas uma possibilidade de reajuste a partir dos resultados de arrecadação do primeiro quadrimestre deste ano, sem apresentar porcentual.