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Major APOLLO MIGUEL REZK – O Silêncio do Grande Guerreiro

Caro Sr. Nelson Düring,

Muito boa a notícia sobre o segundo brasileiro na história a ser condecorado com a DSC (Distinguished Service-Cross) que é a mais importante medalha de bravura dos Estados Unidos. A Medalha do Congresso – superior à DSC – é a mais destacada condecoração americana, mas não é propriamente medalha de heroísmo e bravura.(Nota ver a matéria US Army condecora brasileiro por bravura ao resgatar soldados no Afeganistão)

O primeiro brasileiro que recebeu a DSC foi o 1º Tenente R/2 Convocado Apollo Miguel Rezk, integrante do Regimento Sampaio no TO da Itália, na IIGM. Além da DSC, o Ten Apollo recebeu a Silver Star (também americana) e quatro condecorações brasileiras: Medalha de Sangue, Cruz de Combate de Primeira Classe, Medalha de Campanha e Medalha de Guerra.

Sou biógrafo do ilustre combatente, de quem fui amigo, e autor do livro (1ª edição esgotada) "O Resgate do Tenente Apollo" (ed. CNOR – 2005).

Logo após o seu falecimento (1999), o Conselho Nacional de Oficiais R/2 do Brasil publicou um Boletim Especial sobre o o nosso herói, onde inseri um artigo de minha autoria denominado "O Silêncio do Grande Guerreiro" que foi publicado em vários órgãos da mídia, inclusive na Revista do Exército Brasileiro.

A Academia de História Militar Terrestre do Brasil criou a Cadeira Especial Major Apollo Miguel Rezk, para a qual fui eleito o primeiro ocupante.

Estou anexando o mencionado Boletim Especial de 1999, bem como algumas fotos do Major Apollo.

Agradeço o contato e fico à disposição para o que for necessário.

Fraternalmente,

Ten Sérgio Pinto Monteiro
Presidente do Conselho Nacional de Oficiais R/2 

Por Sérgio Pinto Monteiro
monteirosp007@hotmail.com

O autor é 2o Ten R/2 de Artilharia, Turma 1961 do CPOR/RJ, presidente do Conselho Nacional de Oficiais R/2 e ex-presidente da Associação dos Oficiais da Reserva do Exército/Rio de Janeiro

 

O dia 21 de janeiro de 1999 será sempre lembrado por todos nós, da ativa ou da reserva, como a data em que a pátria, entristecida, viu partir aquele que se constituiu na realização máxima dos ideais do Ten Cel Correia Lima, patrono dos CPOR.    A Nação Brasileira perdeu um dos seus filhos mais ilustres. O Exército, um dos melhores soldados. A Força Expedicionária Brasileira, o mais destacado combatente. Os Oficiais da Reserva , o seu símbolo.
 
Nosso primeiro contato com o Maj Apollo foi em 1995, por ocasião do cinqüentenário do término da Segunda Guerra Mundial. Reunimos, num encontro memorável, no quartel do CPOR/RJ, cerca de quarenta oficiais R/2 febianos, presente o Gen Ex Gleuber Vieira, na época, chefe do DEP (Nota DefesaNet – Foi Comandante do Exército 2000-2002) . Entre eles, um desconhecido de todos nós, o Major Apollo.Terminado o evento, fomos procurados pelo saudoso Cel Pinto Homem (também febiano), que, emocionado, nos informou que aquele oficial cego e semiparalítico fora o mais destacado combatente da Força Expedicionária Brasileira. De imediato, nos apaixonamos por sua história. Daí em diante, resgatar o nosso herói das sombras do esquecimento passou a ser prioridade. Missão honrosa, mas difícil, neste país sem memória.
 
 Foram muitas as visitas ao Maj Apollo, os encontros, as conversas e pesquisas. Uma verdadeira corrida contra o tempo que, inexorável, ameaçava nos privar daquela vida preciosa. Conquistamos algumas vitórias: o CPOR/RJ abriu suas portas para o seu filho mais ilustre; fizemos palestras para o Corpo de Alunos sobre a atuação da FEB, na campanha da Itália, com ênfase no destacado desempenho do, então, Ten Apollo; por nossa iniciativa, a revista Manchete e o Noticiário do Exército publicaram matérias sobre o bravo oficial R/2.
 
Em tocante cerimônia, o Maj Apollo inaugurou, dia 21 de abril de 1998, a nova Sede da Associação dos Ex-Alunos do CPOR/RJ e do Conselho Nacional de Oficiais R/2, que levou o seu nome. Foi pouco, muito pouco, quase nada, para quem tanto engrandeceu a sua pátria com ações plenas de heroísmo e coragem.

Como comandante de pelotão foi notável, sendo várias vezes elogiado pelo comando aliado, no teatro de operações da Itália. Recebeu duas condecorações do Governo americano, sendo que, uma delas, somente foi conferida a poucos combatentes da Segunda Guerra. Foi, também, agraciado com todas as medalhas de Guerra brasileiras. Em 1957, aos 39 anos, viu encerrada a carreira militar ao ser reformado no posto de major, em decorrência do agravamento de um problema nos pés.
 
A sua folha de alterações é referência para qualquer soldado: 20 anos de serviço ativo sem qualquer nota desabonadora, em meio a inúmeros elogios dos mais importantes chefes militares, brasileiros e estrangeiros.

Após deixar o serviço ativo, desenvolveu algumas atividades civis. Mas, lentamente, foi sendo esquecido por seus companheiros de Armas. Assim o encontramos, em seu lar, num recanto da Tijuca, quarenta anos depois de passar para a reserva.

Nos muitos contatos que tivemos com o Major Apollo, ficamos impressionados com o seu perfil de verdadeiro herói: simples, modesto, atencioso e, até mesmo, conformado com o abandono e as injustiças de que foi alvo. Resignado, acalentava, apenas, o desejo de ser promovido a Tenente Coronel, a exemplo do que ocorreu com vários outros ex-combatentes, que conquistaram a promoção por decisão judicial. Tentou, por via administrativa, mas não conseguiu. Quem sabe, o Exército e o Governo brasileiro, como tardia e derradeira homenagem, reconhecendo seus méritos, concedam-lhe, ainda que em caráter excepcional, a tão sonhada promoção, por merecimento e bravura em combate.

Nossa missão não terminou com o silêncio do grande guerreiro. Seus feitos heróicos precisam ser passados às novas gerações de oficiais R/2. Como um símbolo. Suas ações ultrapassaram os limites da existência física. Elas não mais lhe pertenciam. Na verdade, são páginas gloriosas da História Militar de uma Nação que teima em não cultuar seus heróis.

Quanto a nós, qual pássaros que tentam apagar o incêndio da grande floresta, continuaremos a fazer a nossa parte, tendo como paradigma o saudoso Major Apollo Miguel Rezk, que tão bem soube cumprir o seu dever.
 
CITAÇÕES
 
Citação de Combate (tradução) – Medalha "Distinguished Service Cross" (Cruz por Serviços Notáveis) – APOLLO MIGUEL REZK (1G – 153466) – Primeiro Tenente, de Infantaria, da Força Expedicionária Brasileira. Por heroísmo extraordinário na ação de vinte e quatro de fevereiro de mil novecentos e quarenta e cinco, em La Serra, Itália. Foi confiada ao Primeiro Tenente Rezk a missão de comandar o seu Pelotão no ataque e ocupação de La Serra, na frente de determinada resistência inimiga. À despeito de campos de minas desconhecidos, terreno excessivamente difícil e forte oposição, o Primeiro Tenente Rezk conduziu galhardamente os seus homens através uma cortina de fogo de metralhadoras, morteiros e artilharia para assaltar e arrebatar o objetivo inimigo. Embora gravemente ferido quando dirigia o ataque, o Primeiro Tenente Rezk nunca hesitou; pelo contrário, continuando firmemente o avanço. Depois de colocar o seu Pelotão em posição, repeliu três fortes contra-ataques, inflingindo pesadas perdas aos alemães pela sua habilidade na direção do tiro. Depois, embora em posição vulnerável ao fogo das casamatas do inimigo circundante e a despeito das bombas que caíam e da gravidade dos seus ferimentos, o Primeiro Tenente Rezk defendeu resolutamente La Serra, contra todas as tentativas fanáticas dos alemães para retomar a posição. Pelo seu heroísmo, comando inspirado e persistente coragem, o Primeiro Tenente Rezk praticou feitos que refletem as mais altas tradições do Serviço Militar. Prestou o serviço militar vindo do Rio de Janeiro. Quartel General do V Exército – Oficial.
 
Citação de Combate (tradução) – Medalha "Silver Star" (Estrela de Prata) – APOLLO MIGUEL REZK (1G – 153466),  Primeiro Tenente, Infantaria, Força Expedicionária Brasileira. Por bravura em ação, em 12 de dezembro de 1944, em Monte Castelo, Itália. Comandando o seu Pelotão, através de intenso fogo de metralhadoras e morteiros, o Tenente APOLLO chegou até uma posição alemã, assaltou-a e continuou o seu avanço. Chegando a Fornelo, seu Pelotão recebeu intenso fogo de frente, de flanco e da retaguarda, porém o Ten APOLLO tenazmente manteve a posição até ser forçado a se retrair, em virtude de pesadas perdas. O seu bravo comando no combate reflete as elevadas tradições dos Exércitos aliados. Entrou para o serviço militar no Rio de Janeiro, Brasil. (Tradução feita pela Seção Especial do Comando da F.E.B.).
 
Citação de Combate – Primeiro Tenente de Infantaria APOLLO MIGUEL REZK – 1O R.I. – "em 23-II-1945:- O seu Pelotão integrava a 6a Cia. No ataque à Linha La Serra – Cota 958, e, no conjunto da Subunidade, cabia-lhe apossar-se de La Serra. Na primeira parte da noite se lança na ação. Não obstante o violento bombardeio de artilharia e de morteiros que cai sobre o terreno, o Pelotão progride: alcança o objetivo, investe contra a posição e nela se instala sumariamente. Não terminou, porém, o esforço do Pelotão do Tenente APOLLO. Imediatamente – os alemães contra-atacam, sem resultado, porém, uma vez que a resistência dos brasileiros é forte e tenaz. O Tenente APOLLO é ferido, e só na manhã seguinte pôde ser evacuado por causa dos constantes bombardeios e dos contra-ataques inimigos. A personalidade forte, o espírito de sacrifício, a combatividade, a tenacidade, o destemor do Tenente APOLLO constituem belos exemplos dignos da tropa brasileira". Gen Div J.B. Mascarenhas de Moraes – Cmt do 1o Esc. da FEB e da 1a D.I.E.
 
DEPOIMENTOS
 
"… esta magnífica ação, das mais expressivas e brilhantes da campanha da FEB , transcorreu na noite de 23 para 24 de fevereiro, a partir de 21:15 horas… cerca de 24 horas, era a vez de La Serra, onde o bravo e excepcional Ten Apollo chegara de surpresa a assaltava a posição…" (Marechal Floriano de Lima Brayner, ex-Chefe do Estado-Maior da FEB).
 
"A promoção se justifica, sobretudo, em virtude da conduta excepcional desse oficial no teatro de operações na Itália, onde, entre diversas condecorações recebidas por bravura, lhe foi conferida a medalha "Distinguished-Service Cross" do Exército americano, por heroísmo extraordinário em ação, distinção máxima somente concedida a este combatente brasileiro". (Gen Newton Estillac Leal, Ministro da Guerra – 1951).
 
"…é um bravo, conceituado e admirado por todos, tendo se destacado em todas as ações da Unidade. Disciplinado, muito bem educado, dedicado e capaz. Pode servir de modelo pela sua bravura e exata noção do cumprimento do dever". (Gen Aguinaldo Caiado de Castro, ex-Comandante do 1o R I, na Itália).
 
"… por se tratar de oficial de ilibada conduta moral e de valor profissional fartamente evidenciado e reconhecido na paz como na guerra… como também pelo evidente imperativo de zelar por valioso patrimônio moral, que longe de ser exclusivamente pessoal, deve pertencer ao Exército e por ele cultuado". (Cel Silvino Castor da Nóbrega, ex-Comandante do Batalhão de Guardas).
 
"… mesmo ferido, contra-atacado e cercado, em momento algum pensou em retrair. Revelou bravura, firmeza e acerto de decisão, excepcional calma em presença do inimigo, exata noção de seus deveres em combate, a par de elevado sentimento de honra militar e superior capacidade de sacrifício…" (Cap Wolfango Teixeira de Mendonça, Comandante da 6a Cia/II Btl/1o R I – 1945).
 
"Todavia um dos seus pelotões bateu o recorde do ataque: o do tenente Apollo… que foi de todos o que mais se adentrou pelo dispositivo inimigo. E foi verdadeiramente agressiva a atuação do seu comandante". (Ten Cel Nelson Rodrigues de Carvalho, ex-Febiano).

DADOS BIOGRÁFICOS
 
INFORMAÇÕES GERAIS
 
¨      Nome: Apollo Miguel Rezk.
¨      Nascimento: 09 de fevereiro de 1918, Rio de Janeiro.
¨      Filiação: Miguel Jorge Rezk e Suraia Miguel Rezk.
¨      Estado civil: Viuvo. Foi casado com Ivette Antunes Rezk. Teve dois filhos: Nelson e Nádia.
¨      Formação militar: CPOR/RJ.
¨      Formação civil: Ciências e Letras, Colégio Pedro II;
        Perito-Contador, Escola Superior de Comércio do Rio de Janeiro; Economista, Faculdade de Economia e Finanças.
 
INFORMAÇÕES MILITARES

§  Aspirante a Oficial da Reserva, Arma de Infantaria, em 29/11/1939, classificando-se 10o/70;
§  Promovido a 2o Tenente em 31/09/1941; Promovido a 1o Tenente em 10/12/1943;
§  Embarcou para a Itália em 20/09/1944, no segundo escalão da FEB;
§  Comandou um pelotão de fuzileiros, nos ataques a Monte Castelo em 12/12/1944 e em 21/02/1945;
§  Conquistou as posições inimigas em La Serra – 24/02/1945;
§  Retornou ao Brasil, terminada a querra, partindo de Nápoles, com o 1o R I, em 11/08/1945;
§  Transferido para o Batalhão de Guardas, em 04/12/1947;
§  Escalado Oficial de Dia ao Ministério da Guerra, em 25/08/1949, apresentou a Guarda ao Presidente
      Dutra por ocasião da inauguração do Panteon de Caxias;
§  Promovido a Capitão em 03/09/1951;
§  Transferido em 13/08/1952 para a Diretoria Geral de Pessoal do Exército;
§  Transferido em 28/11/1955 para a 5a Região Militar (Curitiba) onde foi designado Ajudante-de-
     
Ordens do General Mário Perdigão;

§  Transferido em 22/08/1956 para Departamento Geral de Pessoal do Exército;
§  Promovido a Major  e reformado em 09/12/1957.
 
CONDECORAÇÕES

v  "Distinguished-Service Cross", EE UU;
v  "Silver Star", EE UU;
v  Sangue do Brasil,
v  Cruz de Combate de Primeira Classe;
v  Medalha de Campanha;
v  Medalha de Guerra;
v  Medalha Mal Hermes;
v  Medalha Mal Caetano de Farias;
v  Medalha Honra ao Mérito;
v  Medalha de Bronze.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES


ü Diretor-Tesoureiro da Cia. de Empreendimentos Comercial e Industrial São Leopoldo (1958/1966);
ü  Assistente da Divisão de Estudos e Pesquisas da Sunab (1967/1976);
ü  Diabético, perdeu a visão no final dos anos 80;
ü  Falecido em 21 de janeiro de 1999, aos 81 anos.

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