Marcelo Pedroso
Estudo sobre a cadeia produtiva da indústria de defesa brasileira divulgado ontem pretende sensibilizar a equipe econômica do governo sobre a importância do setor, que movimentou no ano passado R$ 202 bilhões ou 3,7% do PIB.
A pesquisa foi desenvolvida a pedido da Abimde (Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança) pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
"Este é um trabalho de convencimento junto ao governo para que se perceba a importância dos investimentos em defesa. O problema do governo, quer dizer, dos economistas do governo, é entender isso”, disse o economista e ex-ministro Antônio Delfim Netto, responsável por analisar o estudo.
Entre os números em defesa do setor, o economista e professor Joaquim José Martins Guilhoto, vice-diretor da FEA-USP/Fipe e coordenador do estudo, citou o retorno em tributos ao governo. "A cada R$ 10 bilhões investidos no setor da Defesa e Segurança, o governo tem o retorno de R$ 5,5 bilhões em tributos. Este é um retorno muito maior que a média que ocorre na economia brasileira."
Empregos. A geração de empregos é outro ponto considerado estratégico no levantamento. Cada bloco de R$ 10 milhões anuais investidos é equivalente à manutenção de 174 empregos direto por ano e 352 postos de trabalho indiretos anualmente. “Vamos encaminhar esse estudo ao governo. Você tem que dar uma medida econômica a eles”, afirmou o presidente da Abimde, Sami Youssef Hassuani.
"É de relevante importância o lançamento deste estudo na comemoração dos 30 anos da Abimde. Apresentamos à sociedade o resultado dos impactos na economia brasileira mensurado pela Fipe com a chancela do ministro Delfim Netto", disse Hassuani.
O estudo foi apresentado oficialmente ontem no auditório do Comando Militar do Sudeste, em São Paulo, com a presença de autoridades militares federais e estaduais, além de representantes das indústrias de defesa e segurança associadas.
Criada em 1985, a Abimde supera a marca de 200 empresas associadas, boa parte delas instaladas na RMVale.
Corte. A pasta da defesa foi a quinta a receber o maior volume de cortes orçamentários do governo este ano, na ordem de R$ 5,63 bilhões.
Especialista cobra menor dependência internacional
Especialista em assuntos militares da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Foras), o professor Expedito Bastos avalia que a dependência de tecnologia estrangeira ainda é muito grande e isto traz reflexos diretos no desenvolvimento de projetos no setor.
“Ainda não tenho conhecimento do estudo. Até acho a iniciativa válida, mas não vejo como isso vai se tornar realidade. Os projetos vêm de fora. A Avibras é uma das poucas exceções.”
Sobre os números de empregos relacionados aos blocos de investimento, o especialista os considera pequenos. “Estamos gerando emprego já fora e não aqui.”
Para ele, falta ao país a retomada de prioridades no desenvolvimento de projetos que estimulem tecnologias próprias. Como perda de foco, ele citou o rompimento do acordo bilateral com a Ucrânia para a construção de um veículo lançador de satélites.
“Não conseguimos desenvolver o que realmente precisamos. Rompemos com a Ucrânia e agora vamos para os Estados Unidos. Quanto tempo de atraso isso vai representar ao programa?”