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H-36 – O Novo Guerreiro da Selva

O menino de 13 anos sofria com dores de cabeça e desmaios. Sua pele estava fria e pegajosa. Era a hora de procurar um médico com urgência.

Mas o pequeno Matanari Wa? api é um índio da tribo Mukuru, isolada no meio da selva. O hospital mais próximo estava em Macapá (AP), a 236 km de distância. A vida de Wa? api foi salva com o uso do H-36 Caracal, o mais novo helicóptero da Força Aérea Brasileira. “Pudemos acessar com rapidez a área de resgate para assegurar a vida de uma criança indígena.

Isso é muito gratificante para nós e nos enche de orgulho”, celebra o Capitão Cândido, membro da tripulação daquela missão real.
 
A revista Aerovisão visitou a Base Aérea de Belém, no Pará, sede do Esquadrão Falcão. Esta é a primeira unidade da FAB a receber os novos H-36 Caracal, de uma encomenda de 50 unidades para a Marinha, o Exército e a Força Aérea. O helicóptero se destaca pela sofisticação e é ali, em plena Amazônia, que o novo guerreiro de selva tem mostrado seu valor.
 
A missão de resgate do menino indígena mostrou um dos principais ganhos com a chegada do primeiro H-36 para a FAB, em dezembro de 2011. Seu antecessor, o H-1H, não é capaz de voar à noite ou por instrumentos, quando as condições climáticas não são boas. Sem o H-36, seria necessário que Matanari Wa? api passasse mais uma noite no meio da selva.
 
Os H-1H, carinhosamente apelidados de Sapão, têm um tempo de reação mais longo. Em uma missão de resgate como essa, a decolagem tinha de aguardar o nascer  do sol para se iniciar os procedimentos, que dependiam, sobremaneira, das condições climáticas. Isso podia significar um atraso de até 12 horas na decolagem, caso o acionamento ocorresse às 18h, já que não havia o voo noturno.
 
Já o H-36 Caracal pode decolar em qualquer momento do dia ou da noite. Mas não é só. O H-1H pode transportar até 13 pessoas a bordo. Já o H-36 leva até 31. O peso máximo de decolagem, que no Sapão é de 4,3 toneladas, no Caracal é de 11. A aeronave mais moderna, com duas turbinas, voa também 70% mais rápido. Seu alcance é de 1.038 quilômetros voando a uma velocidade de 260 Km/h.

As diferenças também são vistas na cabine de pilotagem. Enquanto no H-1H os pilotos têm vários mostradores analógicos, no H-36 há seis telas multifuncionais, ligadas a equipamentos de bordo de última geração. Entre eles estão os sistemas automatizados, como o piloto automático de quatro eixos que permite, que a aeronave chegue sozinha a um ponto pré-estabelecido e paire no ar.
 
Os H-36 contam ainda com o FLIR (do inglês “Forward Looking Infra-Red”),  sensor que permite detectar a radiação infravermelha emitida por objetos “quentes”, sendo possível, por exemplo, localizar veículos ou até pessoas à noite. Também é possível calcular exatamente uma distância por meio da emissão de raios laser e um modo para acompanhamento automático de alvos em movimento.

A tecnologia faz a diferença nas missões de resgate. “Os recursos tecnológicos da aeronave, que preveem e minimizam os impactos meteorológicos durante o voo, dão mais liberdade de ação, permitindo maior presteza na resposta às emergências, o que aumenta as chances de sobrevivência do paciente”, explica o Major Marco Aurélio, um dos aviadores do Esquadrão Falcão, que fi cou responsável por conhecer e aprender a explorar a potencialidades dos novos helicópteros.
 
Além de missões reais de resgate e voos em apoio a outras instituições que atuam na Amazônia, como o IBAMA e a Defesa Civil, o Esquadrão Falcão vem
treinando suas tripulações em missões como resgate na água, formatura tática, navegação a baixa altura entre obstáculos, navegação por instrumentos, exercícios de resgate em ambiente hostil e até de defesa aérea. “Capacitar recursos humanos para operarem esta moderna máquina de guerra em solo nacional é um avanço significativo da aviação de busca e salvamento do Brasil”, opina o Tenente-Coronel Álvaro Marcelo Alexandre Freixo, Comandante do Esquadrão.
 
A Máquina
 
O H-36, designação da FAB para o modelo EC725 da empresa Eurocopter, foi concebido para desempenhar múltiplas missões, tais como transporte tático de longa distância, evacuação aeromédica, apoio logístico, busca e salvamento (SAR – do inglês Search And Rescue), busca e salvamento em ambiente hostil (C-SAR, de Combat-SAR), dentre outras. Já desenhado para atuar em missões de resgate, o helicóptero possui dois faróis de busca, dispostos um em cada lado da fuselagem; um guincho elétrico e hidráulico, com capacidade para erguer 272 kg, e um gancho de “barriga” apto a transportar 3,8 toneladas de carga externa.
 
Além do guincho, o operador de equipamentos da aeronave, que senta em uma posição lateral, também tem à sua disposição um joystick destinado a posicionar o helicóptero quando em voo pairado. Olhando diretamente para o local do resgate, o operador faz pequenos ajustes para posicionar o H-36 de forma ideal. “Este é um recurso muito interessante uma vez que o piloto, geralmente, fica numa posição ‘às cegas’, sendo literalmente guiado através do interfone pelo tripulante.

Com joystick, o operador pode rapidamente posicionar o helicóptero sobre a área de resgate, especialmente se este for sobre a água e à noite”, explica o Capitão Fábio Luis Ridão Valentim.
 
O helicóptero é equipado com duas turbinas Turbomeca Makila 2A1, capazes de produzir 2.145 shp de potência cada uma. Só para se ter uma ideia da força desses motores, em caso de pane, com apenas um deles a aeronave é capaz de sair do chão.
 
Com força total, até 3,5 toneladas de carga externa podem ser penduradas no guincho. Dentro da cabine é possível levar 29 passageiros ou instalar até 11 macas e assentos para uma equipe médica de quatro pessoas. O peso máximo de decolagem é de 11,2 toneladas. A cabine também tem as luzes de sinalização para o lançamento de paraquedistas.
 
Todos os H-36 da FAB já têm a iluminação da cabine compatível com o uso de NVG (Night Vision Goggles – óculos de visão noturna).

Os EC725 receberam designações diferentes em cada Força:

FAB – H-36
Marinha do Brasil  – UH-15
Exército Brasileiro  – HM-4


 
O piso é blindado e pode resistir a disparos de armas de calibre até 7,62mm. Por outro lado, o helicóptero pode levar metralhadoras calibre 7,62mm nas suas janelas dianteiras, em ambos os lados, cada uma capaz de disparar mil tiros em um minuto. Mas além dessa versão básica, dos 16 H-36 da FAB, oito serão da chamada versão “operacional”, com modificações que vão tornar o helicóptero uma plataforma ainda mais preparada para as missões em ambientes hostis.

Para sua auto-proteção, os H-36 operacionais terão sistemas como o RWR (alerta de emissões de radares), MWS (alerta contra mísseis), supressor de emissões em infra-vermelho, MAGE (Medidas de Apoio a Guerra Eletrônica) e os dispensadores de chaff e flare. Estes últimos são iscas utilizadas para despistar mísseis lançados contra às aeronaves, sejam eles guiados por calor ou por radar   

Fabricação no Brasil e transferência de tecnologia
 
Além de 50 helicópteros, sendo 16 para cada uma das três Forças Armadas e duas para uso da Presidência da República, o contrato para a aquisição dos helicópteros EC725 tem como foco a transferência de tecnologia e a produção no Brasil das aeronaves pela empresa brasileira HELIBRAS, localizada em Itajubá (MG).
 
A expectativa é de que todos os 50 helicópteros sejam entregues até 2017.

Além da produção dos helicópteros nacionalmente, o Brasil também passou a ter acesso a tecnologias nas áreas de produção de estruturas aeronáuticas em materiais compostos, usinagem de ligas de alumínio de alto desempenho, engenharia de aeronaves de asas rotativas (helicóptero), projeto, certificação, integração, desenvolvimento de software para sistemas de missão, sensores e integração de mísseis.

FICHA TÉCNICA

Aeronave H-36 Caracal
Pessoas a bordo 31
Motores 02 Makila 2A1
Velocidade de Cruzeiro 260Km/h
Alcance Máximo 1.038Km
Peso Máximo
de Decolagem
11.000Kg
Peso Útil  4.600Kg
Autonomia Cerca de 3 horas e 50 minutos, porém com possibilidade de reabastecimento em voo na versão operacional.

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