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Gen Heise – Entrevista com o Gerente do Projeto Estratégico do Exército Defesa Antiaérea


Nota DefesaNet.

Corrigido valores de performance do míssil Mk2.

O Editor
 

Entrevista fornecida
à publicação SAAB em Foco


Os eventos da Copa do Mundo, Olimpíadas de 2016 e as instalações estratégicas do Brasil estão mais protegidos desde a decisão de compra, pelo Exército Brasileiro, de um conjunto de sistemas de mísseis RBS 70 produzidos pela SAAB AB.

O anúncio da compra no valor de 29 milhões de reais aconteceu no final de fevereiro de 2014, mas os primeiros sistemas de mísseis Mk2 tipo terra-ar e de alcance de até 7 km de distância e 4 km de altitude já estão chegando aos postos dos Grupos de Artilharia Antiaérea em vários pontos do Brasil.

O General-de-Brigada Márcio Heise, há 37 anos no Exército (proposto à Divisão na promoção de 31 de Julho), coordenou uma equipe multidisciplinar em várias especialidades militares para definir a recente compra. Novos postos de tiros estarão operando no Brasil até o final de 2015. O fornecimento contratado inclui serviços de treinamento e manutenção e conjunto de acessórios.

Com uma longa carreira de serviços no Brasil e no exterior, oGeneral-de-Brigada Heise fala da importância dessa decisão de compra do RBS 70 e da modernização da defesa antiaérea nacional.

O que levou o Exército Brasileiro a buscar um sistema de mísseis de defesa terra-ar como o adquirido agora da SAAB?

Gen Bda Heise – Há alguns anos, desde 2010, quando foi definido o Projeto de Defesa Antiaérea, foram estabelecidos os requisitos operacionais básicos, técnicos e logísticos que dizem respeito ao material que seria adquirido. E o RBS 70, entre todos os que foram analisados, foi o que melhor cumpriu com todos os requisitos operacionais determinados pelo Exército. Por este motivo, optou-se pela aquisição do Sistema RBS 70.

O senhor pode dizer quais critérios foram levados em consideração e que favoreceram a aquisição do Sistema RBS 70?

Gen Bda Heise – Além do cumprimento dos requisitos operacionais básicos, foram levantados requisitos técnicos, e oRBS 70 é um material que o Exército já tinha alguma experiência, tínhamos analisado e visitado a fábrica e assistido aos disparos do material. Sabemos da qualidade dos equipamentos fabricados na Suécia pela empresa SAAB, e as características técnicas eram muito claras. Um fator bastante importante foi o preço também, já que o Exército recebeu oferta bem interessante da SAAB. A proposta foi submetida ao Estado-Maior do Exército (EME), porque todo o Projeto Defesa Antiaérea (PEE DA) é conduzido pelo Estado-Maior, que aprovou a aquisição do sistema de mísseis. Antes disso, houve uma licitação internacional, que apontou osistema como vencedor.

Qual o número de mísseis comprados?

Gen Bda Heise – Nem a SAAB e nem oExército revelam o número de mísseis envolvidos nesse pacote do RBS 70 por questões estratégicas. Faz parte do contrato e é um dado reservado.

Os primeiros equipamentos serão entregues neste ano e nos próximos?

Gen Bda Heise  – No primeiro semestre e antes do início da Copa do Mundo, chegaram seis postos de tiro e uma determinada quantidade de mísseis, além de um simulador que vem nessa primeira remessa. Teremos também alguns aparelhos de visão noturna sendo desembarcados agora.

O restante da encomenda tem que previsão?

Gen Bda Heise–  Pelo contrato, até o final de 2014 tudo estará no Brasil. Até dezembro, serão entregues três secções de artilharia antiaérea em cada Grupo de Artilharia Antiaérea (GAAAe) e mais um lançador na Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe).

Para que regiões serão encaminhados os sistemas  RBS 70 recebidos?

Gen Bda Heise –As unidades que receberão, inicialmente, o material, são osGrupo de Artilharia Antiaérea (GAAAe), que estão localizados da seguinte forma:

1º GAAAe  – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro;
2º GAAAe  – Praia Grande, São Paulo;
3º GAAAe  – Caxias do Sul,  Rio Grande do Sul
4º GAAAe  – Sete Lagoas, Minas Gerais, e o,
11º GAAAe  – Brasília, Distrito Federal.

 

Faz parte do planejamento que sejam adquiridos mais desses sistemas de mísseis e eles serão distribuídos, além de completar os GAAAe, pelo menos uma bateria em cada grupo, entre 2014 e 2015, nós teremos também esses equipamentos em três baterias orgânicas das Brigadas de Cavalaria e Infantaria.

A 1° Bateria Antiaérea, em Brasília, a 9° Bateria, em Macaé (RJ) e a 14° Bateria em Olinda (PE), no Nordeste.

Quantos homens do Exército serão treinados e preparados para operar o sistema RBS 70?

Gen Bda Heise – Atualmente, estão em treinamento na Suécia, entre oficiais e sargentos, nove militares. Serão três cursos com a mesma quantidade de militares, somando 27 homens aptos a operarem o RBS 70, ainda em 2014. Temos a previsão de um curso de manutenção do sistema de mísseis em setembro deste ano, de forma que, a partir de 2015, teremos condições de replicar o conhecimento da operação do RBS 70 para os militares que fazem ocurso de artilharia antiaérea.

Em 2015, o pessoal do curso da EsACosAAe, que forma os especialistas em artilharia antiaérea, já terá capacidade de aplicar e disseminar o conhecimento para todos os Grupos de Artilharia Antiaérea.

Como os RBS 70 complementam os atuais mísseis que o Brasil já são operados  pelo Exército?

Gen Bda Heise – Hoje o Exército tem trabalhado apenas com o míssil lgla. Os mísseis Igla, de fabricação russa, permanecerão operacionais em duas baterias antiaéreas, que são a 21ª Bateria Artilharia Antiaérea Pára-quedista e a 5ª Bateria Antiaérea Leve, Osasco.

A 21ª pertence à Brigada de Infantaria Paraquedista, Rio de Janeiro, e a 5ª pertence, Osaco (SP) à 12° Brigada de Infantaria Leve (BIL), . O lgla é um míssil cujo sistema de guiamento é por atração infravermelha e é do tipo "atire e esqueça"(Fire and Forget). Também é mantido sigilo sobre a quantidade disponível em instalações, mas eles são em número suficiente para equipar as duas baterias.

Sobre o produto em si, em questões como fácil transporte, peso adequado, ao redor de 15 quilos, a ogiva bem dimensionada e apropriada para operações de curto alcance, o senhor considera o ideal para armar o Exército neste momento?

Gen Bda Heise– Sem dúvida. Quando foram definidos os requisitos, tanto operacionais básicos quanto os técnicos e logísticos, o RBS 70 se encaixou perfeitamente nas necessidades e exigências do que estava sendo buscado em termos de material. O RBS 70 tem plenas condições de realizar a defesa da maneira como empregamos a doutrina elaborada há muito tempo pelos nossos comandos.

Há um planejamento de novas aquisições desse modelo de míssil terra-ar para ampliar o arsenal do Exército? Isso poderá acontecer em breve ou está dentro do planejamento definido para a defesa antiaérea?

O Projeto Estratégico do Exército Defesa Antiaérea tem um encadeamento de ações, e ele prevê completar as baterias. A compra de agora é de uma secção por GAAAe e nós precisamos de três secções para completar uma bateria. Além disso, são necessários sistemas para as outras baterias já mencionadas, que têm que ser completadas com três secções também. Temos necessidades de mais unidades como este tipo de equipamento e há previsão dentro do projeto estratégico de compra de novos RBS 70.

Esses sistemas poderão ser empregados também na defesa das fronteiras do Brasil ou a vocação deles é outra? Na realidade, esse equipamento se presta a uma série de empregos, por ser bastante especial. Em qualquer situação que exija uma defesa antiaérea, oRBS 70 pode ser empregado, seja na fronteira, seja num jogo de futebol durante a Copa do Mundo ou mesmo numa Olimpíada, seja defendendo grandes estruturas. Ele é muito versátil, leve, sua guarnição é pequena, e pode ser empregado onde precisarmos de defesa antiaérea.

Quanto tempo e quantas militares se envolveram nesta aquisição de equipamentos de defesa antiaérea?
 
Gen Bda Heise–  Essa compra está sendo analisada desde 2010. Não foi uma compra realizada de chofre, foi uma aquisição bastante pensada. O projeto, como um todo, envolveu de 15 a 20 militares, todos especializados e com conhecimentos em artilharia antiaérea.

Antes de nos decidirmos pela compra efetiva fomos assistir a um tiro do equipamento na Suécia, realizamos vários seminários e simpósios e a discussão foi bastante enriquecida pela experiência de militares mais antigos, pela experiência de alunos que estavam cursando e estão cursando a EsACosAAe, a Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea.

As estatísticas recentes apontam que de cerca de 150 disparos realizados com o RBS 70, 92,7% acertaram o alvo. Esse índice é bastante significativo para um equipamento desse porte?
 
Gen Bda Heise – Com certeza, ele é muito importante. E posso dizer que foi um dos pontos do material que orientou a decisão de compra. Nós não poderíamos comprar outro equipamento que não atendesse a um dos requisitos do fornecimento, que havia sido descrito no edital. O índice de acerto é excepcional, e não é qualquer tipo de equipamento que tem essa performance.

As outras características, sistema de teleguiagem de alvo, de infravermelho, satisfazem as ambições do Exército, principalmente porque essa é a quinta geração do RBS 70?

Gen Bda Heise –  O sistema de guiamento do míssil é por facho laser e é uma tecnologia que não sofre interferência. Era um dos requisitos que tínhamos, pela impossibilidade de interferência do míssil. Além disso, o fato dele ser um míssil direcionado, ele mesmo permite que nos casos em que não atinja o alvo, possa ser desviado para uma área de destruição, o que permite o emprego do RBS 70 em áreas urbanas, característica que outros sistemas de mísseis não podem atender, particularmente os modelos “atire e esqueça”.

O RBS 70 comprado pelo Exército tem o sistema de identificação por código IFF, que consegue distinguir se o alvo é inimigo ou não. Essa tecnologia tem peso na escolha?

Gen Bda Heise –Sim, teve um peso bastante grande. Normalmente, quando utilizamos o IFF, que é numa etapa anterior ao lançamento, já temos a informação se o alvo ou objeto ameaçador é um amigo ou não. Quando o lançamento é realizado e durante o voo do míssil tivermos a inversão da informação, que se trata de um alvo amigo, o míssil ainda pode ser destruído ou desviado, o que é uma excepcional vantagem. Isso diminui muito a ocorrência do fratricídio Fogo amigo ou Friendly Fire), que nos preocupa muito, principalmente porque operamos na mesma faixa que opera a Força Aérea e os helicópteros do Exército também, o que requer uma coordenação do espaço aéreo muito precisa.
 
A SAAB, desenvolvedora do equipamento, pensou em vários aspectos, como os que falamos, e durante a vida desse sistema ele foi modificado, atualizado, e suas características atuais foram aprimoradas para o que há de melhor.

Os mísseis adquiridos agora estão dentro do contexto do plano de modernização do Exército Brasileiro?

Gen Bda Heise – O Exército, desde 2010, estabeleceu seus sete projetos estratégicos, que tem por finalidade buscar o reequipamento do Exército, uma melhoria na distribuição da sua força no território nacional, e ter  uma melhor eficácia no emprego de seus recursos humanos e materiais. Os sete projetos estão em andamento e têm melhorado muito a capacidade operacional do Exército Brasileiro.

E a defesa antiaérea se insere nessa lista de sete projetos dos quais falamos. E temos conseguido conquistar, neste momento, novas capacidades para nossa artilharia antiaérea, já que o material que tínhamos era bastante antigo. Hoje, os mísseis são armas bastante pequenas mas que possuem um grande poder de destruição, ao contrário do passado, quando eram pesados, com motores de propulsão grandes e pequena carga de destruição.

A aquisição do RBS 70 e a do sistema antiaéreo Gepard, da Alemanha, que funciona sobre o chassi do Leopard e tem uma torre com dois canhões de 35 mm e radar de busca e de tiro, trouxeram uma melhoria muito grande para a nossa artilharia antiaérea. Existem ainda alguns projetos de compra que logo estarão sendo efetuados dentro do planejamento de reequipar o Exército com equipamentos melhores e mais modernos.

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