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Fronte Interno – “A Força Nacional não intimida os mandantes”

Silvia Amorim

No dia em que a Comissão Pastoral da Terra (CPT) confirmou o assassinato de mais um trabalhador rural no Pará, o coordenador nacional da entidade, Dirceu Luiz Fumagalli, fez um alerta. Para ele, o envio de homens da Força Nacional de Segurança para as regiões de conflito de terra não vai intimidar os mandantes desses crimes, porque "eles sabem que é uma situação temporária". As perspectivas, diz Fumagalli, são de acirramento da violência se não houver uma mudança da política de ocupação da Região Amazônica pelo governo.

O que a CPT sabe sobre as motivações da morte desse trabalhador rural no município de Pacajá?
DIRCEU LUIZ FUMAGALLI: Nossos agentes ainda estão buscando informações, mas essa morte está dentro de um contexto específico ali naquele assentamento em Pacajá, que, no ano passado, já teve uma situação de conflito que causou várias mortes. Um dos grandes problemas que estamos identificando nessa região é que os próprios trabalhadores das comunidades começam a conflitar entre si. Trabalhadores que ocupam a área e assentados motivados pelas madeireiras caem na lógica da exploração da madeira e isso gera conflito interno.

Por que, mesmo com as ações anunciadas pelo governo federal, como a Força Nacional nessas áreas conflagradas, as mortes continuam?
FUMAGALLI:A presença da Força Nacional não é algo que intimide os mandantes porque não é consolidada. Eles sabem que é uma situação extremamente temporária e transitória. Não é um projeto de permanência do Estado. Eles sabem que o Estado não tem projeto de se fazer ali presente, desenvolvendo políticas que vão assegurar a vida daquelas comunidades. Portanto, não vão se intimidar. Além disso, há uma impunidade aberta neste país.

A tendência é de agravamento dos conflitos e da violência?
FUMAGALLI: Sim. Ela deve se acirrar porque as novas leis que incidem sobre a questão agrária, na regularização fundiária, e sobre o meio ambiente, com o novo Código Florestal, vão abrindo as possibilidades para o capital avançar (sobre a floresta). Se não houver mudança efetiva da presença do Estado, as coisas tendem a piorar, porque os mandantes se sentem livres para continuar sua prática.

Por que tem sido tão difícil combater os conflitos de terra?
FUMAGALLI: A incidência se dá e vai continuar até que se mude a lógica da ocupação. O que está pautado para essas áreas é a exploração da madeira e a abertura de novas frentes para a pecuária e outros monocultivos. Isso é que vai fomentar e potencializar o conflito. Enquanto não mudar, vamos ver esses tristes resultados, vidas de trabalhadores sendo dizimadas.

Qual seria o caminho eficaz?
FUMAGALLI: Tem um modelo já em curso. O problema é que parte de quem detém o poder econômico e político acha que ele é um modelo ultrapassado e não de desenvolvimento. O que tem que acontecer é um diálogo mais aberto entre as iniciativas. Em que condições essas comunidades vivem nesse território e é necessário para nós brasileiros continuarmos desmatando? Temos mais de 200 milhões de hectares de terra para a pecuária, a maior parte degradada. É desnecessário continuar avançando sobre a floresta. O problema é que existe investimento e estímulo entre os trabalhadores para que continuem avançando.

Quem tem dado esse estímulo?
FUMAGALLI:O Estado tem investido nesse modelo. Todas as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), os investimentos são para abrir fronteiras e criar infraestrutura para o escoamento da produção de monocultivos, dos minérios etc. Portanto, há por parte do governo não só um incentivo, mas investimento.

O senhor vê preocupação real do governo em enfrentar o problema?
FUMAGALLI: Não vou dizer que há preocupação na defesa das vidas. É que essa situação de conflito no Pará tem arranhado a imagem do Brasil. A gente começa a perceber pressão e solidariedade da comunidade internacional. Quando isso vem à tona, é claro que o governo tem mais cuidado.

 

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