Ricardo Galhardo
A decisão de substituir a Polícia Federal na segurança pessoal do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, provocou uma reação negativa da corporação. Diante da repercussão, o ministério divulgou ontem uma nota dizendo que a PF continua na equipe pessoal do ministro, mas não informou se a configuração será mantida.
O Estado revelou ontem que Moraes decidiu trocar a PF por policiais militares que integram a Força Nacional em sua segurança pessoal. Segundo fontes internas, apenas um agente da PF continua na segurança pessoal do ministro. Os demais foram substituídos por homens da Força Nacional e Polícia Rodoviária Federal.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef), Luís Boudens, disse ontem que a entidade vai apresentar um mandado de segurança contra o ministro da Justiça, caso a determinação de delegar sua segurança à Força Nacional seja mantida. “Estamos acompanhando esta situação há duas semanas.
Se a substituição for pela Força Nacional, vamos entrar com um mandado de segurança. O ministro é um constitucionalista e sabe que a lei não permite isso”, afirmou.
A notícia também provocou reação contrária entre os delegados da Polícia Federal. “A categoria enxergou de forma negativa o fato de o ministro tirar a PF”, disse o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Carlos Eduardo Sobral.
Assessores do ministro disseram anteontem, sob a condição de que seus nomes fossem preservados, que a intenção de Moraes é “prestigiar todas as corporações subordinadas ao ministério”.
A decisão, no entanto, fez com que setores da PF se sentissem desprestigiados. “A Força Nacional não tem competência legal para essa função. Estamos começando a olhar isso como um gesto contra a PF.
Acredito que sim. Normalmente, se substituiria uma peça por outra, mas não é o que está acontecendo”, afirmou o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais. Segundo Boudens, dois agentes da PF deixaram a equipe de segurança de Moraes duas semanas atrás depois de divergências com o gabinete do ministro.
Dias depois, outros dois agentes também teriam sido dispensados. “Sobrou um que está analisando se fica”, disse. Polêmicas. Desde que assumiu o ministério, em maio, Moraes se envolveu em polêmicas com a PF.
O ministro se recusou a receber representantes da associação dos delegados da PF que pediam a adoção de uma lista tríplice para a escolha do diretor- geral da corporação.
Em setembro, setores da PF ficaram incomodados pelo fato de Moraes ter vazado, em conversa com eleitores em Ribeirão Preto, a realização da Omertà, fase da Lava Jato que prendeu o ex-ministro Antonio Palocci.
A aparição de Moraes cortando pés de maconha em outra operação da PF também causou desconforto. Setores da corporação se incomodam com a postura “midiática” do ministro.
Procurada para comentar a repercussão negativa da decisão do ministro, a assessoria da pasta não se pronunciou. No fim da tarde, foi distribuída uma nota dizendo que “não é correta a informação e que a PF participa da segurança do ministro”. “Entretanto, destacamos que, por segurança, não comentamos publicamente questões que envolvam a proteção pessoal dessa autoridade”, diz a nota do ministério.
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