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Embraer revê fluxo de caixa para negativo em 2014

Daniela Meibak e Virgínia Silveira

Atraso nos repasses de pagamentos do governo federal aos projetos de defesa desenvolvidos pela Embraer levaram a fabricante brasileira a rever a projeção do fluxo de caixa de 2014. A revisão, aliada aos dados de entregas de aviões e carteira de pedidos, pegou o mercado de surpresa ontem e fez com que as ações da empresa caíssem 5,39%, a R$ 21,40. Os papéis ficaram entre as maiores quedas do Ibovespa, que recuou 0,82%.

Informações preliminares do balanço indicam que a estimativa para o ano deve passar de uma geração levemente positiva em dois dígitos para um fluxo negativo de US$ 400 milhões. A empresa alega, principalmente, a não concretização de receitas previstas para o período e o aumento nas contas a receber, por causa do alongamento do prazo efetivo de pagamento por parte de "alguns clientes".

A Embraer enfrenta dificuldades com os programas de defesa desenvolvidos para a Força Aérea Brasileira (FAB) devido a problemas de contingenciamento de recursos em 2014. O projeto do jato de transporte militar KC-390, por exemplo, tem atraso superior a R$ 500 milhões.

Os programas de modernização dos caças AMX e F-5, avaliados em R$ 2,1 bilhões, também foram afetados e a FAB já estuda reduzir o número de aeronaves AMX modernizadas de 43 para 30. Para que os trabalhos de modernização do AMX fossem feitos, de acordo com o cronograma, a Embraer precisava receber R$ 300 milhões em 2014, mas o investimento para o projeto foi contingenciado em mais de 80%.

A modernização do AMX tem uma necessidade de recursos da ordem de R$ 600 milhões em 2015, mas a previsão é que o projeto receba cerca de R$ 54 milhões. O projeto de modernização do F-5 também foi afetado com uma redução no número de aeronaves. Sem o repasse dos recursos previstos, o programa está atrasado em mais de um ano.

Na avaliação da equipe de análise do Citi, o fluxo de caixa é uma preocupação, pois a empresa tem feito grandes investimentos com o desenvolvimento da nova geração de jatos, a E2. O capital de giro mais fraco tem sido um dos principais riscos, segundo o analista Stephen Trent, que mantém a recomendação neutra sobre as ações.

O Citi lembra que, no terceiro trimestre de 2014, a própria empresa destacou riscos nesse sentido, como de o governo brasileiro atrasar alguns pagamentos das encomendas do segmento de defesa.

Para a Concórdia, apesar de negativa, a revisão deve-se totalmente a questões externas, específicas de um cliente com o qual a companhia possui muito pouco poder de barganha, e não decorre de prejuízos na capacidade produtiva, saúde financeira, ou qualquer aspecto intrínseco à Embraer.

Para o Bradesco, o capital de giro vai se normalizar nos próximos trimestres e, por isso, o anúncio não tem impacto relevante no modelo de análise. O banco brasileiro tem recomendação de compra para a empresa e preço-alvo de R$ 29 por ação.

A fabricante divulgou também prévia do quarto trimestre de 2014 que mostra a entrega de 30 jatos comerciais e 52 executivos. No fechado do ano, as entregas somaram 92 unidades de aviação comercial e 116 na executiva.

Os números do segmento comercial decepcionaram mais uma vez os analistas, enquanto o segmento executivo trouxe uma surpresa positiva. "Com os resultados do quarto trimestre, resolvemos cortar a estimativa para 2015 de entregas para 102 jatos comerciais, ante 108 da estimativa anterior, ainda representando 10 novas unidades ante o ano passado", informou a equipe de Eduardo Couto, do Morgan Stanley, em relatório. O banco completou afirmando que continua confiante em novas encomendas e entregas contínuas para os Estados Unidos e América Latina.

O banco americano lembra que, historicamente, as novas encomendas de aviões estão altamente ligadas a resultados melhores das companhias aéreas. "Como esperamos que as aéreas tenham um bom desempenho em 2015, positivamente impactadas com a queda nos preços do petróleo, vemos espaço para novas ordens para a Embraer."

Sobre aviões executivos, o Morgan Stanley se diz positivamente surpreso com as entregas do Phenom 300, que alcançaram 29 unidades, com liderança no segmento. A recomendação é de compra, com preço-alvo de US$ 43,80.

O volume total de aviões do trimestre foi maior do que o projetado pelo Goldman Sachs, mas o mix ficou menos favorável, com uma quantidade de jatos comerciais abaixo do esperado e com unidades menores dentro desse segmento. "As entregas de jatos executivos foram maiores do que a nossa previsão, mas os preços dessas unidades são muito mais baixos do que os de aviões comerciais.

O Goldman tem estimativa de lucro por ação para o quarto trimestre de 2014 de US$ 1,15 para US$ 1,12 e a estimativa de lucro antes de juros e impostos (Ebit, na sigla em inglês) de US$ 273 milhões para US$ 266 milhões, atualizados com as entregas efetivas", disse a equipe do analista Noah Poponak, do Goldman, em relatório. A recomendação é neutra e o preço-alvo de US$ 41.

Além de reconhecer o mix pior, o Bradesco destacou que a Embraer conseguiu manter um nível saudável de US$ 20,9 bilhões para a sua carteira de pedidos do fim do quarto trimestre. O número ficou acima dos US$ 18,2 bilhões do mesmo período de 2013.

O banco elevou as estimativas de receita líquida, lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) e lucro líquido em 15%, 15% e 14%, respectivamente, para o trimestre. A expectativa é de US$ 2,22 bilhões de receita, Ebit de US$ 296,6 milhões, US$ 377,1 milhões de Ebitda e US$ 163,4 milhões de lucro líquido.

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