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Diplomacia empresarial – Donna Hrinak – Vendendo ou não, continuaremos no Brasil


SÍLVIO RIBAS 
PAULO SILVA PINTO 
 
A ex-diplomata norte-americana Donna Hrinak assumiu há um ano e meio a missão de sofisticar as relações do país com a Boeing. Com português fluente e hábitos locais já incorporados, a presidente da primeira subsidiária brasileira da empresa usa a experiência de 30 anos nas relações internacionais para vender aviões de guerra ao governo e, ainda, iniciar ousados empreendimentos, como a pesquisa de biocombustíveis para uso na aviação. 
 
A executiva ressalta que sua missão não é só garantir o fornecimento de 36 Caças Super Hornet na licitação internacional aberta pela Força Aérea Brasileira (FAB), mas firmar parcerias de longo prazo. Como antecipou o Correio, a FAB vai aposentar, em dezembro, os franceses Mirage 2000, elevando a pressão para um desfecho do negócio de, pelo menos, US$ 4 bilhões. 
 
A serviço de Washington, Donna morou seis anos no país. Na década de 1980, trabalhou no consulado em São Paulo. Voltou 15 anos depois, como embaixadora (2002-2004). Ela tem um filho brasileiro, de 27 anos, e um neto também com dupla nacionalidade. "Fui brasileira em outra vida", brinca. 
 
Sua missão ao ser escolhida para representar a Boeing no país era negociar os caças para o governo? 
 
Minha vinda se casa com o propósito de dar nova dimensão à relação de mais de oito décadas entre a Boeing e o Brasil. Fornecemos o primeiro avião militar, em 1932. Também vendemos a primeira aeronave comercial, para a Varig. Nunca operamos diretamente no país, pois víamos o Brasil apenas como um mercado. Isso mudou e o encaramos, agora, como um importante parceiro para desenvolver produtos, tecnologia e inovação. Vendendo ou não os 36 caças, continuaremos aqui. 
 
Mas qual é sua expectativa em relação ao processo para equipar a FAB, do qual a Boeing é finalista? 
 
A presidente Dilma Rousseff tomará a decisão correta no momento adequado. Acompanhei as declarações do Comandante da Aeronáutica, Brigadeiro Juniti Saito, na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Ele deixou claras a importância do programa e a necessidade de um orçamento diferenciado para a Defesa. A questão principal é que é preciso dar a largada para a montagem dos aparelhos, o que leva alguns anos até o pedido ser totalmente atendido. 
 
A maior barreira é a resistência dos EUA em transferir ao país a tecnologia dos caças? 
 
Essa questão está muito mais aberta, com avanços evidentes e condições que os Estados Unidos dão aos seus melhores aliados. As duas casas do Congresso norte-americano autorizaram a venda, com apoio até da oposição republicana. Esse gesto raro revela a importância que meu país dá a essa parceria. É claro que há certos códigos de segurança de voo nos quais é impossível haver a transferência. Nem a Embraer faz isso. 
 
A senhora vê prejuízo nas negociações após as notícias do suposto esquema de espionagem de cidadãos brasileiros pelo governo norte-americano? 
 
Essa questão é muito séria e seus desdobramentos preocupam o governo norte-americano. Prova disso foi a recente vinda ao Brasil do secretário de Estado, John Kerry, para conversar com o exchanceler Antonio Patriota. Mas, a exemplo de outros episódios, como os embates na Organização Mundial do Comércio (OMC), o importante é não deixar que eles interfiram na qualidade das relações bilaterais. 
 
A Boeing tem planos especificamente desenhados para serem desenvolvidos no Brasil? 
 
Temos uma importante parceria com a Embraer em diferentes campos. Essa cooperação deverá evoluir nas questões de segurança de voo e defesa do espaço aéreo. Gostaria de destacar um campo promissor. Temos um plano para ajudar a estabelecer no país uma indústria de biocombustíveis para aviões, a partir da cana-de-açúcar e do biodiesel. Vamos financiar estudos para aumentar o conhecimento nessas áreas. Estamos conversando com a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e com a Embrapa. 
 
A senhora percebe dificuldades em capacitar mão de obra para a indústria aeronáutica no país? 
 
Há no Brasil valorosos núcleos acadêmicos e empresariais de pesquisa e desenvolvimento no setor aeroespacial, com os quais estamos firmando parcerias. Um importante projeto da Boeing no país é o centro tecnológico em São José dos Campos (SP), que devemos inaugurar até dezembro. Além disso, acompanhamos com entusiasmo o Programa Ciência sem Fronteiras, que encaminha brasileiros para universidades no exterior. Enviamos este ano 32 alunos à nossa maior fábrica, em Everett, no estado de Washington, metade deles bolsistas de engenharia aeronáutica da Universidade Federal de Minas Gerais. 
 
A escalada do dólar pode refrear as viagens internacionais de brasileiros ou criar dificuldades às companhias aéreas locais para honrar a compra de aviões? 
 
Duvido. Em algumas oportunidades, conversei com turistas brasileiros em diferentes partes do mundo e percebi neles a capacidade de ajustar o forte desejo de viajar para fora com restrições eventuais de orçamento. O câmbio sempre imprevisível, em qualquer lugar do mundo. Quanto às nossas clientes, ressalto o perfil estável e de longo prazo das nossas relações. A Gol tem a quinta maior frota de 737. A alta nos preços do querosene impulsionou a busca por modelos mais eficientes no consumo de combustível. Nossas alternativas mais novas rendem economia de 13%. 
 
"Encaramos (o Brasil) como um importante parceiro para desenvolver produtos, tecnologia e inovação. Vendendo ou não os 36 caças, continuaremos aqui". 
 
"Temos um plano para ajudar a estabelecer no país uma indústria de biocombustíveis para aviões, a partir da cana de açúcar e do biodiesel".

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