TÂNIA MONTEIRO, ENVIADA ESPECIAL / RIO – O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff se emocionou ontem ao comentar que não conhece e não quis conhecer a identidade dos seus torturadores, lembrando que eles "não tinham nomes verdadeiros" e que o que havia eram "elucubrações". Para Dilma, "a questão não é o torturador, mas é a tortura" e "o problema é em que condições a tortura é estabelecida e é operada".
"Não há sentimento que se justifique contra este tipo de ato. Há a frieza da razão. E a frieza da razão é não esquecer. E, por isso, nós criamos a Comissão da Verdade", desabafou a presidente, destacando que é "preciso conhecer a história, para que todos tenham o compromisso a fim de não deixar jamais isso acontecer". "Vingar ou se magoar ou odiar é ficar dependente de quem você quer se vingar, de quem você quer odiar ou magoar e isso não é um bom sentimento para ninguém", prosseguiu.
As afirmações da presidente Dilma se referiam a um depoimento prestado por ela, em 2001, sobre as torturas sofridas quando esteve detida na prisão em Minas Gerais. "No passar dos anos, uma das melhores coisas que me aconteceram foi não me fixar nas pessoas, nem ter por elas qualquer sentimento, como disse no meu discurso, nem ódio, nem vingança, mas também tampouco perdão", comentou, ao citar que não tem sentimento pessoal em relação a quem praticou atos de violência contra ela.
Para Dilma, é preciso "virar a página". "E para virar a página deste País nós temos a Comissão da Verdade e é isso o que esta comissão eu espero que faça, porque nós precisamos saber a verdade." E completou: "A verdade é isso. Não se esquece, mas não se esquece do ponto de vista histórico, não do ponto de vista individual".
Tortura. A presidente encerrou o comentário sobre sua passagem na prisão, reconhecendo que entende a curiosidade de todos sobre aqueles momentos, mas lembrou que, durante a campanha presidencial, todos os dias ela respondia a perguntas sobre este tema.
Na semana passada, o jornal O Estado de Minas divulgou relatos de Dilma sobre sessões de tortura. Segundo ela, quando esteve presa em Minas Gerais aprendeu a encarar "a morte e a solidão". "O estresse é feroz, inimaginável. Descobri, pela primeira vez, que estava sozinha. Encarei a morte e a solidão. Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente pelo resto da vida", disse, no depoimento.
Dilma contou ter passado por sessões no pau de arara e ter recebido choques e outras agressões que causaram até deformação. "Minha arcada girou para o lado, me causando problemas até hoje, problemas no osso do suporte do dente. Me deram um soco e o dente se deslocou e apodreceu. Só mais tarde, quando voltei para São Paulo, o Albernaz (capitão do DOI-Codi de São Paulo) completou o serviço com um soco, arrancando o dente", relatou.