Uma comitiva de aproximadamente 30 pessoas do Ministério da Defesa (MD), incluindo militares das três Forças Armadas, chegou nessa terça-feira (1º) à capital do Haiti para realizar uma avaliação do 23º contigente brasileiro (Contbras) na Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (Minustah).
O objetivo é verificar a execução de atividades logísticas e operacionais e identificar possíveis pendências administrativas, tendo em vista a possibilidade de término da missão, já que há previsão de que as eleições no país sejam finalizadas no dia 24 de abril.
A comitiva do MD foi recebida em uma cerimônia realizada dentro das instalações do Batalhão de Infantaria e Força de Paz (Brabat), com as presenças do force commander da Minustah, o general brasileiro Ajax Porto Pinheiro; do comandante do Brabat, coronel Ricardo Bezerra; e do embaixador do Brasil no Haiti, Fernando Vidal, além de outros oficiais militares. Durante sua apresentação, o general Ajax, que comanda o braço militar da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, ressaltou as qualidades dos contingentes, tanto brasileiro quanto de outros países. "É uma das melhores tropas com quem já trabalhei. São o que os Exércitos de cada país possuem de melhor. O grupo é muito bom, muito rápido e trabalha muito bem. Em crise, eles têm uma capacidade de reação muito rápida. Todo o planejamento de operação é muito bem feito e também notamos uma grande integração", avalia o general.
O titular do Force Commander – uma espécie de Quartel-General militar da ONU – administra uma rede composta por 10 quartéis independentes: companhias de engenharia do Brasil e do Paraguai; batalhões de engenharia do Brasil e do Chile (este último no norte do Haiti, com dois pelotões, sendo um de El Salvador e outro de Honduras); um batalhão menor, do Uruguai, em parceria com o Peru; duas unidades de aviação (Chile e Bangladesh); um hospital argentino; uma companhia da Guatemala; e outra das Filipinas. "Temos a representação de 11 tropas, de 11 países, e 19 nacionalidades, porque temos oficiais de estado-maior do México, EUA, Canadá, Sri-Lanka, Nepal, Jordânia, Equador e Bolívia", afirmou o general Ajax.
O general Carlos Sardinha, oficial com maior graduação da comitiva, disse que um dos objetivos da visita é iniciar o trabalho de planejamento preliminar para uma possível reversão da tropa brasileira para o território nacional. "Viemos aqui com uma equipe multidisciplinar: sou do Comando Logístico (Colog), e tem representantes do MD, da Marinha, do Estado-Maior e do Comando de Operações Terrestres (Coter) do Exército e também da Força Aérea Brasileira. Não sabemos ainda quando a reversão vai acontecer, porque será uma decisão da ONU, mas já podemos começar a trabalhar nesse sentido", disse.
23º Contbras
Na manhã desta quarta-feira (02), o comandante do Brabat, coronel Ricardo Bezerra, fez uma apresentação sobre a atuação do batalhão. O 23º contingente de militares brasileiros no Haiti (23º Contbras) foi ativado no dia 3 de dezembro de 2015. O batismo de fogo ocorreu uma semana depois, em 10 de dezembro, no bairro de Citè Soleil, uma das comunidades mais violentas de Porto Príncipe, com cerca de 300 mil habitantes. "O objetivo da nossa atuação é mostrar que a área está ocupada. Mandamos 500 homens à região na terça-feira seguinte à nossa chegada. Visitamos cada quarteirão e enfrentamos tiros", relatou o comandante.
Ainda segundo o coronel, o comando estabelece uma rotina bem definida de atividades para a tropa, com um dia de patrulha, outro de serviço e outro de treinamento. "Fazemos o adestramento contínuo de nossas tropas. Faz parte da nossa rotina", afirmou, ao acrescentar que o contingente também recebe acompanhamento de psicólogos e participa de atividades de lazer, como partidas de futebol, apresentações culturais e sessões de cinema.
O Brabat 23 tem um volume expressivo de militares vindos do Rio Grande do Sul, tendo 665 homens e mulheres do Exército, 181 da Marinha e 4 da Aeronáutica. Além disso, há outros 120 militares que atuam no Batalhão de Engenharia do Brasil (Braengcoy). O Campo General Jaborandy, onde o Brabat e o Braengcoy estão instalados, tem um efetivo total de 1.220 pessoas (incluindo civis), em uma área de 390 mil m². Até o dia 10 de fevereiro, as tropas do 23º Contbras haviam realizado patrulhas em quase 17 mil km e percorrido mais de 134,8 mil km durante a realização de suas atividades. Nesse mesmo período, não houve nenhum disparo acidental de arma de fogo, fato destacado pelo comandante da unidade.
No Haiti, militares do MD e das Forças conhecem hospital e visitam QG militar da ONU
A comitiva de militares do Ministério da Defesa (MD) e das Forças Armadas que está em missão no Haiti visitou nesta quarta-feira (02) um hospital mantido pela Argentina, em apoio à Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah). O hospital opera dentro dos limites do Campo General Jaborandy e é administrado, em sua maioria, por militares da Força Aérea Argentina.
De acordo com o tenente-coronel Otero, diretor logístico do hospital, a unidade atende de 15 a 20 pessoas diariamente. Segundo ele, o foco dos atendimentos é voltado aos militares membros da Minustah, mas também é possível atender a população civil local. "Nós prestamos assistência de nível 2 à ONU e aos organismos estrangeiros em urgências e emergências. Mas também podemos atender civis em casos de catástrofes", afirmou o diretor, durante apresentação à comitiva do MD.
A unidade de saúde conta com cerca de 10 médicos de diferentes especialidades e 25 enfermeiros, além de outras pessoas, inclusive militares, que prestam apoio administrativo e logístico. Os serviços oferecidos no hospital incluem análises laboratoriais, cirurgias – com capacidade para realização de dois procedimentos cirúrgicos simultaneamente, odontologia, enfermaria, ginecologia e unidade de terapia intensiva (UTI).
O coronel explicou que a Minustah classifica em quatro os níveis operação de unidades hospitalares, de acordo com os procedimentos médicos realizados: as de nível 1 fazem o atendimento médico básico, como nos casos de pacientes com febre ou distensões musculares; o nível 2, como é o caso do hospital argentino, realiza cirurgias e possui UTI; o nível 3 conta com procedimentos mais complexos, realizando tomografias e diagnóstico/tratamento através de hemodinâmica; enquanto o nível 4 realiza transplantes e amputações."No Haiti, conseguimos atender até o nível 2. No 3º, o paciente é transportado, por via aérea, até a República Dominicana – país que divide a outra metade da Ilha de Hispaniola com o Haiti – e no 4, o transporte tem que ser feito até Miami, nos Estados Unidos", explica.
De 2011 a 2015, o hospital fez 179.594 atendimentos médicos, sendo 70% deles em apoio a membros da Minustah e 30% à população local.
QG militar da ONU
Desde 1º de junho de 2004, com a criação da Minustah, a ONU auxilia o governo do Haiti no processo de restauração do ambiente de paz no país. A missão é comandada pelo representante do secretário-geral da ONU para o Haiti, posto ocupado atualmente pela diplomata Sandra Honoré, de Trinidad e Tobago. Essa estrutura possui três elementos subordinados: o primeiro vice-representante, que lidera as áreas administrativa, policial e de segurança; o segundo vice-representante, responsável pela coordenação com outras entidades dentro e fora do sistema ONU; e o Force Commander, que lidera a parcela militar da missão.
Diversos oficiais-generais brasileiros já foram designados para o comando do componente militar na missão, como os generais Augusto Heleno Ribeiro Pereira, Urano Teixeira da Mata Bacelar e José Luiz Jaborandy Junior. Hoje, o ocupante do cargo é o general-de-divisão Ajax Porto Pinheiro, que recebeu a comitiva do MD nas instalações do Quartel-General do Force Commander, na capital haitiana. Dentro da unidade operam seções como inteligência, logística, planejamento e relações com a mídia, por exemplo. A UNPol (sigla em inglês da Polícia da ONU) também utiliza parte dessas instalações.
Homenagem
Também nesta quarta, foi realizada, no Brabat, a formatura de homenagem aos militares mortos por consequência do terremoto que assolou o Haiti em janeiro de 2010, resultando na morte de 21 brasileiros, sendo 18 deles militares.
No então QG da Minustah, no Hotel Villa Privê, foram cinco os mortos: os coronéis João Souza Zanin, Emílio dos Santos e Marcus Cysneiros; e os majores Francisco Adolfo e Marcio Guimarães.
Na Casa Azul (prédio que abrigava um grupo de combate do Exército), faleceram o tenente Bruno Ribeiro Mario; os sargentos Davi Ramos de Lima, Leonardo de Castro e Rodrigo de Souza Lima; os cabos Douglas Pedrotti Neckel e Washington de Souza; e os soldados Antonio José Anacleto, Tiago Anaya Detimermani, Rodrigo Augusto da Silva e Felipe Gonçalves Julio.
No Forte Nacional, morreram o tenente Raniel de Camargos, o cabo Ari Dirceu Junior e o soldado Kleber da Silva Santos.
A área de entrada do Brabat, em Porto Príncipe, conta com um monumento dedicado a esses militares, com as inscrições "Aqui vieram/ Aqui deixaram suas vidas/ Aqui vivem seus ideiais". O monumento também marca a data em que ocorreu o terremoto: 12 de janeiro de 2010.