Centro de Instrução de Guerra na Selva – Centro Coronel Jorge Teixeira
3 de junho, Dia do Guerreiro da Selva
Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva,
Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);
Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);
Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);
Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS);
Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional.
Site: http://www.amazoniaenossaselva.com.br
E-mail: hiramrs@terra.com.br
Blog: http://www.desafiandooriomar.blogspot.com
Em terra de perenes desafios, uma grande cruzada para o crescimento, onde o
épico confronta com a realidade. Não basta querer fazer e querer desenvolver: é
preciso um esforço de Hércules para que todo dia superemos as dificuldades.
(Jorge Teixeira de Oliveira)
– Jorge Teixeira de Oliveira
Fontes: Divisão de Doutrina e Pesquisa do CIGS e Jornal Gente de Opinião.
Jorge Teixeira de Oliveira nasceu no dia 03 de junho de 1921, em General Câmara, Rio Grande do Sul. Filho de Adamastor Teixeira de Oliveira e Durvalina Estibem de Oliveira casou-se com Aida Fibiger de Oliveira, e teve dois filhos, Rui Guilherme Fibiger Teixeira de Oliveira e Tsuyoshi Myamoto (criação). O Coronel Jorge Teixeira foi declarado Oficial de Artilharia na turma de 1947 da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Resende, Rio de Janeiro, e concluiu o mestrado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1963. Foi o primeiro comandante do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS). Para capacitar o núcleo inicial de recursos humanos que formaria o corpo docente do CIGS, o então Major Teixeira, mais conhecido como “Teixeirão”, e uma plêiade de excelentes Oficiais e Sargentos, da Brigada de Infantaria Pára-quedista, do Rio de Janeiro, foram enviados ao Panamá para cursar o “Jungle Expert” na Escola das Américas, no Forte Sherman (US Jungle Operations Trainning Center, Fort Sherman, Canal Zone – JOTC). Após o curso, Teixeira e sua equipe iniciaram o planejamento e execução da estrutura que resultou na formação, em curto prazo, da primeira turma de Guerreiros de Selva, em 19 de novembro de 1966. A determinação hercúlea e a perseverança desses militares apaixonados pela Amazônia Brasileira edificaram solidamente os alicerces do CIGS, não apenas a estrutura física, mas, sobretudo, a mística que se consolidou ao longo dos anos. O “Teixeirão” escolheu, delimitou a área da sede do campo de instrução e a construção dos pavilhões que deram personalidade ao Centro de Instrução de Guerra na Selva. Deu-se o início, então, a uma verdadeira epopeia. A carência de recursos materiais foi suplantada com muita dedicação e capacidade de trabalho por parte dos instrutores e monitores.
Os pioneiros foram o Major Omar de Moura Oliveira, Subcomandante, os Capitães José Luiz Leal Santos, oficial de operações, Domingos Carlos Sá Novaes, administrador e Paulo Henrique Pires Luz, veterinário, os Tenentes Guedes e D’Alencar e os Sargentos Dantas, Liberato, Sobreira, Monteiro, Geraldo e Cid. E, por dever de justiça, não se pode deixar de mencionar outros Pioneiros que contribuíram significativamente para que o CIGS se transformasse no melhor escola do gênero do mundo. Alguns tiveram o privilégio de comandar o Centro mais tarde, como aconteceu com o Coronel Gélio Augusto Barbosa Fregapani, 6° Comandante, General Thaumaturgo Sotero Vaz, 8° Comandante e com o General Adalberto Bueno da Cruz, 10° Comandante.
O “Teixeirão” comandou as tropas brasileiras em Roraima, nas localidades de Bonfim, Normandia, Surumu e Marco BV 8 para fazer face aos problemas advindos da revolução interna ocorrida em Rupumuni, Venezuela, quando exerceu na plenitude suas habilidades de chefe e líder.
Gosto que haja dificuldades em minha vida, pois quero e espero superá–las. Sem obstáculos não haveria nem esforços, nem luta, e a vida seria insípida.
(Coronel Jorge Teixeira de Oliveira)
No dia 3 de maio de 1970, assumiu a presidência da Subcomissão Geral de Investigação do Estado do Amazonas. Foi exonerado do Comando do CIGS, em dezembro de 1970, e, em 1971, nomeado como primeiro Comandante do Colégio Militar de Manaus. Sua atuação e comportamento transcenderam a vida militar, tendo conquistado o carinho e admiração da população amazonense, que acreditava na sua sinceridade de propósitos e valor. O reconhecimento dos amazonenses foi materializado quando resolveram outorgar–lhe o título de Cidadão do Amazonas, entregue pela Assembléia Legislativa do Estado.
Em 1999, reconhecendo a importância do trabalho pioneiro do Coronel Teixeira, o Exército Brasileiro concedeu ao CIGS a denominação histórica de Centro Coronel Jorge Teixeira. Uma justa homenagem àquele que legou às gerações posteriores uma escola militar ímpar, considerada a melhor Escola de Guerra na Selva do planeta.
O Coronel Jorge Teixeira de Oliveira marcou a história da Cidade de Manaus e do estado de Rondônia, que passaram por sua administração. “Teixeirão” foi nomeado Prefeito de Manaus, em 15 de abril de 1975. O responsável pela nomeação foi o governador Henock da Silva Reis. Jorge Teixeira recebeu a Prefeitura de Manaus das mãos do presidente da Câmara Municipal e prefeito interino, Ruy Adriano de Araújo Jorge. Na época, Manaus despontava em termos de desenvolvimento econômico, e populacional, após a instalação da Zona Franca de Manaus, em 1967, e a criação do Pólo Industrial. O Coronel Jorge Teixeira ao assumir a função de Prefeito Municipal de Manaus, agilizou projetos antigos e viabilizou trabalhos de reestruturação da Cidade. Uma de suas atribuições foi criar o Plano de Desenvolvimento Local Integrado (PDLI), transformando, em seguida, em lei e posto em execução, na do início aos trabalhos de desenvolvimento da Cidade de Manaus. O povo manauense vibrava com seu líder atuante, alegre, comunicativo, amigo, brincalhão, querido por seus comandados e admirado pelos amazonenses.
O Coronel Jorge Teixeira foi, também, o último governador do antigo Território Federal de Rondônia e o primeiro governador do novo Estado. Ele foi nomeado pelo Presidente da República João Baptista de Oliveira Figueiredo, assumindo o cargo, em 10 de abril de 1979, com a tarefa de preparar a transição do Território Federal de Rondônia para Estado.
A “Era Teixeirão”, iniciada em 10 de abril de 1979, se estendeu até 1985. Na época, o garimpo no Rio Madeira estava no auge e o território recebia milhares de migrantes ávidos em busca de fortuna e terra.
A criação de novos municípios em junho de 1981 – Colorado, Espigão D’Oeste, Presidente Médici, Ouro Preto, Jaru e Costa Marques – foram obras de Teixeirão. As obras se avolumavam, com o respaldo do Ministro do Interior Mário Andreazza, foi construída a Usina Hidrelétrica de Samuel, asfaltada a rodovia BR 364, implantada a Assembléia Legislativa, Tribunal de Contas do Estado, entre outras grandes obras. “Teixeirão” ganhou a maioria das eleições que participou elegendo Deputados estaduais, federais e Senadores.
No dia 16 de dezembro de 1981, o Projeto de lei complementar n° 221–A/81, foi aprovado na Câmara Federal, dando origem a Lei Complementar n° 41, de 22 de dezembro de 1981, que criava a nova Unidade da Federação, o Estado de Rondônia. Jorge Teixeira foi empossado no cargo de governador do Estado de Rondônia, no dia 29 de dezembro de 1981, em Brasília.
O governo do “Teixeirão” foi pródigo em realizações: instalou o Conselho de Educação, inaugurou o tronco de microondas Porto Velho-Ji-Paraná, criou a RONASA (Rondônia Navegação Comércio e Representação Ltda), inaugurou a transmissão direta de televisão para a Cidade de Pimenta Bueno, entregou 200 títulos de terras aos soldados da borracha…
No dia 01 de junho de 2005, o Coronel Jorge Teixeira de Oliveira, ex–Prefeito de Manaus, recebeu homenagem póstuma na Assembléia Legislativa do Estado, em pronunciamento feito pelo Deputado Messias Sampaio (PRTB). O parlamentar destacou o trabalho feito pelo militar, na Cidade de Manaus quando foi Prefeito e no território de Rondônia, quando foi Governador.
Que Não Ousem Ameaçar a NOSSA Amazônia!
Conhecem como ninguém a arte da guerra na selva. Integram frações coesas que deslizam silentes, mimetizadas nos labirintos da mata misteriosa. São fugazes e atuam de surpresa, sem frente nem retaguarda, emboscando e inquietando. (Coronel Gustavo de Souza Abreu – Secretário de Política, Estratégia e Assuntos Internacionais do Ministério da Defesa)
Na minha descida de caiaque pelo Rio Amazonas, ao passar pela foz do Puraquequara, em dezembro de 2010, gratas recordações embalaram o coração deste velho guerreiro. Em 1999, eu e outros 19 camaradas tivemos nossos limites físicos e emocionais testados por ocasião do Curso de Operações na Selva (COS). As adversidades impostas pela selva, a constante pressão psicológica exercida pelos instrutores contrastava com o ambiente de sã camaradagem que permeava naquele seleto grupo de oficiais estagiários.
Desde os tempos de aluno do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) que acalentei o sonho de um dia me tornar um Guerreiro de Selva. Fui inspirado pelo então Capitão Cav Francisco de Paula Barcellos da Silva, chefe da seção de Educação Física e instrutor do Curso de Infantaria do CMPA. Nos exercícios de campo, eu e os demais alunos, ouvíamos atentos seus relatos sobre o Curso e planejávamos um dia, quem sabe, ostentarmos o “Brevê da Onça”.
Por diversas vezes tive minha matrícula indeferida. Por vezes a legislação impunha que o militar estivesse servindo no Comando Militar da Amazônia e eu estava servindo nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, em outras priorizava os oficiais mais antigos e eu era moderno, outras aos mais modernos e eu era antigo… Quando passei a chefia do 1° Centro de Telemática, em Porto Alegre, RS, em 1999, consegui, a pedido, ser transferido para a 23ª Brigada de Infantaria de Selva (23ª Bda Inf Sl), Marabá, PA, com um único objetivo, tentar, pela última vez, concretizar meu ideal. Treinei exaustivamente durante sete meses e apesar do Comandante da 23ª Bda Inf Sl, General Sá Rocha, ter dado parecer negativo ao meu requerimento, e embora eu afirmasse, no mesmo, que iria para a reserva logo após a conclusão do curso, condições que, normalmente, invalidariam de imediato a proposta, tive minha matrícula aprovada. Havia uma determinação para que o efetivo mínimo para o funcionamento do Curso fosse de vinte oficiais e esse número não estava sendo alcançado. Foram chamados seis capitães com EsAO, um Major da Polícia Militar do Estado do Amazonas, dois oficiais, de outros Comandos Militares que tinham sido classificados no CMA atingindo um total de dezenove estagiários. Graças a falta de outros voluntários, portanto, é que consegui que meu requerimento fosse aceito. Foi uma das experiências mais gratificantes de toda a minha vida, a superação de limites aliada a um companheirismo sem precedentes gravou, de maneira indelével, na minha memória a imagem daqueles indômitos guerreiros.
A passagem mais marcante de todo o Curso foi, sem dúvida, a de ver o então Tenente Coronel André Thiago Salgado Chrispim carregando duas mochilas de 25 kg durante quase todo o curso para impedir que um colega, que tinha sofrido um grave problema na coluna, viesse a ser desligado. Na formatura, de conclusão do curso, como xerife do grupamento, indiquei, o Chrispim para fazer a “Oração do Guerreiro de Selva”. Por ocasião da brevetação, o General Luiz Gonzaga Schroeder LESSA, meu ex–Diretor de Informática e então Comandante Militar da Amazônia (CMA), insistiu para que eu assumisse o compromisso de trazer ao povo do Rio Grande do Sul uma visão mais realista das questões que afligem a Região Amazônica. Desde o ano de 2000 que viemos cumprindo este acordo computando até o dia de hoje 371 palestras realizadas.
Histórico do Centro de Instrução de Guerra na Selva – CIGS
Fonte: www.cigs.ensino.eb.br.
Com o Decreto Presidencial 53.649, de 02 de março de 1964, foi criado o Centro de Instrução de Guerra na Selva, subordinado ao Grupamento de Elementos de Fronteira. O Brasil vivia momentos de inquietação, marcados por tensões sociais e graves perturbações da ordem interna. Naquela época, o Exército ressentia-se da falta de uma unidade capaz de especializar militares no combate na selva e de constituir pólo irradiador de doutrina de emprego de tropa nesse complexo ambiente operacional amazônico. Tais fatores, sem dúvida, inspiraram a criação do CIGS, que veio preencher uma lacuna existente no Exército que ainda ocupava de maneira muito modesta esta parte do território nacional de inestimável valor estratégico.
Foi um começo marcado por dificuldades: falta de experiência na constituição, consolidação e condução de um Centro de Instrução; instalações físicas improvisadas no antigo Quartel-General do 1° Grupamento de Elementos de Fronteira (1°GEF), na Ilha de São Vicente; a falta de material de todas as classes. Entretanto, tais dificuldades não desanimaram aqueles que, premiados pelo destino, tiveram o privilégio de compor a primeira equipe, a “Equipe Pioneira”, responsável por dar início às atividades de instrução no CIGS.
Na condução dessa equipe, o então Major Jorge Teixeira de Oliveira, o saudoso “Teixeirão”, homem caracterizado por qualidades pessoais e profissionais que o habilitaram como verdadeiro líder, admirado por todos quantos tiveram a oportunidade de conhecê-lo. Sob a orientação de Jorge Teixeira, “os pioneiros” superaram todos os obstáculos e deram ao CIGS as melhores condições para um início de atividades marcado por êxitos e realizações. Em 10 de outubro de 1966, mercê dos esforços dessa equipe de “pioneiros”, foi iniciado o primeiro Curso de Guerra na Selva do nosso Exército e a primeira turma foi brevetada no dia 19 de novembro de 1966, em solenidade realizada no atual estádio do Colégio Militar de Manaus. Era a primeira grande contribuição do CIGS ao Exército e ao Brasil! Os continuados êxitos alcançados, frutos do desprendimento, da disciplina, da dedicação, do sentimento de cumprimento do dever e de amor ao Exército, à Amazônia e ao Brasil, por parte dos integrantes das diversas equipes que sucederam a equipe pioneira, fizeram com que, paulatinamente, o CIGS fosse obtendo o reconhecimento, em âmbito nacional e internacional, como referência na atividade que desenvolve: a formação dos guerreiros de selva brasileiros.
A necessidade sentida pela Força de alterar o perfil dos militares aqui especializados levou a estudos que culminaram por ampliar e alterar a vocação do CIGS, que passou, no período de 1970 a 1978, a designar–se Centro de Operações na Selva e Ações de Comandos – COSAC. Em 11 de janeiro de 1978, a Unidade retornou a sua antiga denominação – CIGS –, deixando de especializar os comandos brasileiros tendo este encargo retornado à Brigada Para-quedista no Rio de Janeiro. Em 17 de dezembro de 1999, recebeu a denominação histórica “Centro Coronel Jorge Teixeira”, em justa homenagem ao seu mais insigne integrante.
Missão do CIGS
Fonte: www.exercito.gov.br.
Especializar Oficiais, Subtenentes e Sargentos para o combate na selva; adestrar e avaliar tropas da Força Terrestre na Amazônia; realizar pesquisas e experimentações doutrinárias; valorizar e difundir a mística do guerreiro de selva; atuar no controle do meio ambiente e projetar a boa imagem da Instituição. Para o cumprimento das missões do CIGS impostas e deduzidas, a Política de Comando é elevar o atual nível das funcionalidades ensino, doutrina e pesquisa, valorizando:
– a mística do guerreiro de selva;
– e implementar a funcionalidade avaliação do adestramento.
Cursos de Operações na Selva
Fonte: www.exercito.gov.br.
O COS – Curso de Operações na Selva – é um curso de especialização militar do Exército Brasileiro, pós-formação, destinado a Oficiais, Subtenentes e Sargentos das Forças Armadas brasileiras. Visa à capacitação de recursos humanos em operações na selva, prioritariamente destinados às unidades militares do Exército na Amazônia, disponibilizando parte das vagas para a Marinha e para a Aeronáutica. Também disponibiliza vagas para militares de nações amigas, conforme interesses diplomáticos nacionais. O conteúdo programático para estrangeiros é menor, deixando de constar, por exemplo, temas que envolvem questões de segurança nacional. O COS é um duro teste das condições físicas e orgânicas – para o enfrentamento do hostil ambiente da selva amazônica –, de preparo intelectual – para o desempenho de funções que exijam liderança em combate na selva – e de preparo psicológico – para lidar com as condições adversas do ambiente e com situações de realismo próprio das atuações de guerra.
Símbolos Internacionais
Fonte: Intercâmbios, 2006.
Ao longo de sua existência, o CIGS tem construído uma imagem de destaque, tanto no Brasil quanto no exterior. Não é à toa, portanto, que, todos esses anos, inúmeros Oficiais e Sargentos das Forças Armadas de nações amigas têm seguido em direção a Manaus para realizar os Cursos de Operações na Selva. (…) Na realidade, para os militares visitantes, são destinados, agora, os Cursos de Treinamento na Selva (CTS), que os prepara para algumas funções como o planejamento, coordenação e execução de operações em ambiente de selva equatorial. Muito semelhante, mas com duração menor, o CTS abrange em seu currículo disciplinas como Vida na Selva, Instruções Básica e Especial, Marchas, Patrulhas e Treinamento Físico Militar e a sua subdivisão por fases é igual à dos COS. Contudo, a Fase de Operações na Selva, para esses alunos, é limitada a atividades de patrulha. Aliás, com a relação à toda a instrução ministrada, ocorre a supressão de algumas matérias que só podem ser ministradas a militares brasileiros. Por outro lado, o CIGS, em função da reciprocidade também envia integrantes para cursos em escolas do mesmo escopo em países vizinhos. Até 1999, ainda era frequentado o “Jungle Operations Training Center” (JOTC), no Panamá, sob a responsabilidade do Exército dos Estados Unidos. Com a devolução da área do Canal à administração panamenha (onde se situava a base do JOTC), outras opções foram procuradas para a continuidade da troca de conhecimentos. Nos últimos anos, o intercâmbio tem sido mais positivo em relação ao Exército do Equador, para onde militares brasileiros têm seguido com alguma regularidade para realização dos Cursos de Selva e Tigres. Ambos, ao seu término, proporcionam com atividade conclusiva patrulhas em áreas fronteiriças com a Colômbia nas quais é muito forte a presença das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARCs). Através desse novo relacionamento, o CIGS, tal qual outrora aconteceu em relação ao JOTC, se esforça para buscar o estreitamento dos laços entre os países amazônicos na área de cooperação militar, difundindo a excelência do padrão do guerreiro de selva brasileiro, já que todos são, em suas respectivas porções, parceiros na tarefa de preservação da soberania.
O Guerreiro de Selva
Fonte: Coronel Gustavo de Souza Abreu.
Ao se referir ao guerreiro de selva – em sentido amplo – empresta–se um significado especial. Trata–se do homem que de uma maneira ou de outra empreende uma luta pela Amazônia brasileira. Nesse sentido, o cidadão não-militar pode ser um guerreiro de selva, desde que sua história de vida caracterize-se pela defesa, em qualquer sentido, dos interesses nacionais sobre a Região Norte do Brasil em termos de soberania. Assim, na guerra, o combatente da resistência, integrando a força de sustentação, subterrânea ou outra, é um autêntico guerreiro de selva. Na paz, é o mateiro do CIGS e dos Pelotões de Fronteira, o apoiador das ações das Forças Armadas, aquele que empresta sua área e seus meios para exercícios, aquele que participa como figuração nas manobras, além de diversas outras formas de manifestação genuína de brasilidade.
É importante destacar que o combatente de selva, militar, é um misto do homem que tem educação militar tradicional, em sua grande parte oriunda de outras regiões do Brasil, que só se torna um combatente verdadeiro após instalar-se e passar por um processo de adaptação, seja por consequência de estágios, treinamentos e ou cursos proporcionados pelo CIGS. A contribuição das culturas indígenas e caboclas – traduzida metodologicamente por intermédio dos cursos, estágios e adestramentos das tropas – representa importante fator determinante da qualidade do combatente de selva. Prescindir desse conhecimento autóctone é partir para o empirismo, com riscos que a História ensina a não correr.
Conceitos
Combatente de selva, guerreiro de selva e guerreiro da selva são termos que costumam ser tratados como sinônimos. Há, entretanto, uma sutil diferença entre eles. Combatente de selva é mais amplo, guerreiro de selva é aquele que fez o curso de “guerra na selva” do CIGS e guerreiro da selva é o especialista brasileiro.
– Combatente de selva: militar, de qualquer posto ou graduação, de carreira ou temporário, que tem instrução específica própria de unidades de selva, para o desempenho de cargo previsto em Quadro de Organização (QO) das organizações militares do CMA.
– Guerreiros de selva: termo genérico do especialista em operações na selva formado pelo CIGS, das Forças Armadas nacionais e estrangeiras. No jargão militar internacional é o “jungle expert”, apto a combater em qualquer selva do mundo com características semelhantes à da Amazônia.
– Guerreiros da selva:termo estrito atribuído ao guerreiro de selva brasileiro. Tem conotação poética, ao referir–se especificamente ao guerreiro “da” Amazônia Brasileira. Assim, quando o sentido do texto, poema, comentário etc referirem-se ao nacional, deve-se optar pelo termo “guerreiro da selva”, da selva Amazônica Brasileira. A “Oração do Guerreiro da Selva” e o poema “Que Não Ousem” são exemplos de referências de exaltação aos Guerreiros da Selva Amazônica Brasileira.
As Leis da Guerra na Selva
Fonte: Coronel Gélio Augusto Barbosa Fregapani (Analista de Inteligência da ABIN).
1ª Tenha a iniciativa, pois não receberás ordens para todas as situações, tenha em vista o objetivo final;
2ª Procure a surpresa por todos os modos;
3ª Mantenha seu corpo, armamento e equipamento em boas condições;
4ª Aprenda a suportar o desconforto e as fadigas sem queixar–se e seja moderado em suas necessidades;
5ª Pense e aja como caçador, não como caça;
6ª Combata sempre com inteligência e seja o mais ardiloso.
No início do CIGS, o curso então era praticamente de instrução individual; de coletivo apenas um pouco de patrulhas e emboscadas. Ao terminar meu tempo de instrutor, visando influir no que reconhecia como lacuna, escrevi na revista Defesa Nacional alguns artigos sobre o assunto “GUERRA NA SELVA”. Em um deles descrevi como deveria ser um Grupo de Combate (GC) de infantaria de selva, naturalmente distinto de um GC comum e com armamento e equipamento adequados. O nome do artigo é “A TROPA DE SELVA”, se não me falha a memória e foi publicado por volta de 1970. Nele que escrevi as “LEIS DA GUERRA NA SELVA”.
As “leis” se popularizaram quando, no meu comando, as mandei escrever numa parede. Ainda hoje as considero pertinentes e adequadas.
A Oração do Guerreiro da Selva
Fonte: Coronel Humberto Batista Leal.
A primeira ideia que tive de escrever uma oração para os combatentes de selva nasceu durante o meu curso de Guerra na Selva em 1980, precisamente na área destinada ao descanso dos alunos na Base de Instrução II. Ali eu falei para alguns companheiros de Curso que desejava escrever um poema para ser recitado pelas tropas de selva. Eu juntava, em silêncio, as palavras mais simples que encontrava, para compor os versos que tivessem a simplicidade da floresta e dos homens que usavam o Brevê da Onça. Havia instantes de incerteza e angústia naqueles dias difíceis, e imaginávamos o que seria a guerra naquele ambiente hostil. Nessas horas de se buscar forças para vencer fadigas diárias, desafios ameaçadores, não há como o homem evitar o mergulho dentro de si mesmo; e, ao fazê-lo, conduz naturalmente o pensamento a Deus – o mesmo Deus que não explica nossas guerras, mas nos fortalece diante das interrogações do destino, mesmo as mais enigmáticas e incompreensíveis indagações. Em junho daquele ano, pouco mais de vinte oficiais concluíam o curso.
Meses depois, já nomeado instrutor do Centro de Instrução de Guerra na Selva, retornei a Manaus, ficando hospedado, com minha esposa e filho, na casa do então 1° Tenente Benedito Rosa Filho. Na Rua Brasil, da Vila Militar de São Jorge, mesma Rua do Hotel de Trânsito dos Oficiais.
Éramos comandados pelo Tenente-Coronel Gélio Augusto Barbosa Fregapani, autor das Leis da Guerra na Selva e um entusiasmado Comandante. A Seção de Selva era dirigida pelo Capitão Barros Moura; a de Doutrina e Pesquisa, pelo Capitão Joel. A equipe se compunha de Capitães e Tenentes.
Eu fiz dupla em Orientação na Selva com o meu estimado amigo Tenente Antônio Carlos Duarte Soares. Em março de 1981, passamos muitos dias percorrendo as pistas de orientação, identificando e reparando placas. E falávamos da oração. Ao retornar a Manaus, numa daquelas noites de descanso na casa do Rosa Filho, conversávamos na varanda quando peguei uma caneta e escrevi os versos que levaria, no dia seguinte, à apreciação do nosso Comandante Fregapani. Ele gostou do que leu e ouviu. Reuniu, naquela mesma semana, no anfiteatro da Base de Instrução V, os Oficiais e Sargentos, e falou da Oração do Guerreiro de Selva. Disse-me para recitá-la e aos demais para que repetissem o que eu dizia. Foi a primeira vez que a recitamos – ainda timidamente.
A partir de então, passamos a declamar a Oração do Guerreiro de Selva antes e após o início das atividades nas Bases de Instrução. Mandamos pintar placas com o poema e as afixamos nas bases. Todos procuravam memorizar a Oração. Logo começamos a declamá-la nas formaturas e nas atividades de instrução. Isto só acontecia no Centro de Instrução de Guerra na Selva. Foi assim que tudo começou.
O poema é demasiadamente simples, como transcrevo em seguida:
Senhor, tu que ordenaste ao guerreiro de selva:
“Sobrepujai todos os vossos oponentes”,
dai-nos hoje da floresta:
a sobriedade para persistir,
a paciência para emboscar,
a perseverança para sobreviver,
a astúcia para dissimular
e a fé para resistir e vencer.
E dai-nos também, Senhor,
a esperança e a certeza do retorno,
mas se defendendo esta Brasileira Amazônia
tivermos de perecer, ó Deus,
que o façamos com dignidade
e mereçamos a vitória!
Selva!
Talvez tenhamos herdado do latim o tutear (tratar por tu) Deus, que expressa familiaridade com o divino. Gramaticalmente eu deveria ter escrito “vós”, para concordar verbalmente com o “dai–nos” do terceiro verso. Mas resolvi escrever “tu”, porque assim também os habitantes do Norte costumavam falar. Mesmo quando a televisão chegou a Manaus, em 1970, trazendo os modismos da fala do Rio de Janeiro, os amazônicos nunca foram de falar “você” ou “vós”. E era assim que, nas horas aflitivas na selva, eu rezava: chamando Deus com o pronome “tu”, segunda pessoa do singular, como quem chama um amigo que é o refúgio mais ansiado.
“Sobrepujai todos os vossos oponentes”: é o que podemos esperar de Deus, a força espiritual para superar os que por contingência se tornam nossos adversários, sejam os inimigos, sejam os elementos hostis da floresta, sejam os nossos próprios medos. Tornamo-nos imbatíveis quando guiados por Deus: somos corajosos o suficiente para enfrentar todas as nossas guerras. E é isto que esperamos ouvir interiormente quando pedimos forças aos céus.
Dai-nos hoje da floresta:
a sobriedade para persistir,
a paciência para emboscar,
a perseverança para sobreviver,
a astúcia para dissimular
e a fé para resistir e vencer – é na própria floresta que encontramos certas virtudes necessárias ao guerreiro: sem sobriedade, não há como resistir à exaustão e à confusão mental, não se pensa e não se age; sem a paciência, não há como ser parte da própria selva, ser parte dos seus silêncios e dos seus ardis, ser parte de suas vozes; sem perseverança, não há como resistir ao cansaço, ao medo, às doenças, à fome, ao desconforto, às incertezas; sem astúcia, não há como agir à semelhança da onça que se move silenciosamente antes do bote decisivo, sem nunca precisar o instante do ataque; e sem fé, fundamento de todas as coisas, não há como ser fortaleza inexpugnável, que a tudo resiste porque almeja a glória de vencer.
E dai–nos também, Senhor,
a esperança e a certeza do retorno.
Mas se defendendo esta brasileira Amazônia,
tivermos de perecer, ó Deus,
que o façamos com dignidade
e mereçamos a vitória!Selva! – os versos falam por si próprios: na guerra, diz-se que o homem precisa primeiramente almejar o seu retorno – esta é sua esperança, o seu anseio primeiro, fazer a guerra, voltar para casa –, mas só consegue alcançar a certeza do retorno, pouco a pouco, a cada dia e a cada mal, a cada patrulha e a cada batalha. Nem sempre, contudo, este retorno é garantido; ainda assim, para os que se amparam em Deus, há a resignação de enfrentar e aceitar seu destino e sua hora; e se houver que se defrontar com a morte, que esta seja digna e heróica, como convém aos que lutam, até com o sacrifício da própria vida por uma causa, sem nunca perder de vista a vitória. Somos todos efêmeros, bem o sabemos, como efêmeras são as palavras, como efêmeras são as guerras. Mas somos eternos quando, confrontados com a temporalidade, vencemos o esquecimento com nossos feitos, mesmo os mais simples e insignificantes feitos.
Nossa causa é defender a Amazônia brasileira – em última instância, o Brasil, sua soberania.
Poema “Que Não Ousem”
Fonte: Coronel Gustavo de Souza Abreu.
Que não ousem… Que não ousem ameaçar a nossa Amazônia!
Na imensidão da floresta brasileira haverá sempre bravos guerreiros da selva, em cada Foz, em cada nascente, preservando o legado dos nossos antepassados. Trovões ouvidos de terras distantes jamais intimidarão os seus guardiães. Que não ousem! Em todos os rincões da Hiléia – de Uiramutã a Santa Rosa do Purus, de Cruzeiro do Sul a Oiapoque, de Tabatinga a Marabá – estão presentes intrépidos, persistentes e audaciosos amazônidas. Em sua simplicidade, prescindem da sofisticada tecnologia. São capazes de sobreviver e combater, valendo-se essencialmente da selva, a sua fiel e inseparável aliada. Conhecem como ninguém a arte da Guerra na Selva. Integram frações coesas que deslizam silentes, mimetizadas nos labirintos da mata misteriosa. São fugazes e atuam de surpresa, sem frente nem retaguarda, emboscando e inquietando. São como o aru (neblina), que surge e dissipa-se imperceptível, flutuando pelos Igarapés, socavões e paxiúbas. São como a onça, que cerca pacientemente a presa para atacar no momento oportuno, fazendo ecoar um esturro ubíquo e aterrador. Se preciso for, esses guerreiros da selva resistirão perseverantes até que a última arma de ficção alienígena torne-se inútil. Em suas veias corre o sangue daqueles que expulsaram o invasor do nosso solo sagrado e imortalizaram Guararapes.
Que não ousem!
A aventura pode custar caro demais.
Selva!
O Brado de “Selva!”
Fonte: General Adalberto Bueno da Cruz (ex–secretário de Defesa Social – SDS, de PE).
Quando do início de suas atividades, as idas à área de selva eram muito frequentes. O movimento de viaturas era grande e a nova unidade ainda não dispunha de “Ficha de Saída de Viaturas” para serem controladas no Portão do Corpo da Guarda. Normalmente a sentinela ao ver a saída de uma viatura perguntava qual o seu destino e o motorista ou quem ia à boléia respondia “SELVA”.
Como a maioria das saídas era para a Área de Instrução, o motorista ao passar pelo portão dizia que ia para a “selva”. Daí nasceu uma tradição, de maneira simples e espontânea, e que se espalhou inicialmente pelo GEF (1° Grupamento de Elementos de Fronteira), depois pelo CMA e hoje, caracteriza no Exército inteiro, os Guerreiros de Selva.
Até agosto de 1968 a saudação “SELVA” era restrita ao CIGS e de caráter interno. Porém, no desfile do dia Sete de setembro deste ano, o grito foi utilizado pela primeira vez em público e em formatura oficial. Os instrutores para manter a cadência da tropa contavam o tradicional “um-dois-três” e depois gritavam “SELVA!”. A partir daí espalhou-se para o GEF e pelo CMA, caracterizando, os Guerreiros de Selva, a tropa da AMAZÔNIA.
A sua implantação não foi fácil. Houve muita reação principalmente dos mais antigos do GEF que reagiam as idéias novas, mas o CIGS tinha a sua destinação histórica de renovar os “corações e mentes” da tropa da AMAZÔNIA, e obteve sucesso. Este simples brado mudou a fisionomia militar dos que serviam na AMAZÔNIA, despertando o espírito de operacionalidade que estava adormecido pelos chavões “área castigo”, “ninguém quer nada”, “só tem gente problema” e outros.
Onça Pintada
Fonte: Divisão de Doutrina e Pesquisa do CIGS
Os Guerreiros da Selva são como a onça, que cerca pacientemente a presa para atacar no momento oportuno, fazendo ecoar um esturro ubíquo e aterrador.
Se na América não vive o Leopardo, em compensação vive a onça, também conhecida por Jaguar ou Onça-Pintada, nome comum do maior e mais poderoso felídeo do continente americano. Seu nome, nas línguas indígenas das florestas subtropicais, é Jaguar. É impropriamente chamada de tigre, pois é mais feroz que este e maior que a pantera. A onça pintada é o maior felino do continente americano, sendo encontrada do extremo Sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Essencialmente carnívora, se alimenta de mamíferos de portes variados como antas, veados, capivaras e porcos do mato, podendo ainda, eventualmente, se alimentar de quelônios, peixes e jacarés. A pelagem varia entre amarelo escuro quase dourado até castanho claro. A onça preta é uma variação melânica, possuindo maior quantidade de pigmento (melanina) em sua pele. Nesse caso, a coloração amarela é substituída por uma pelagem preta ou quase preta com o mesmo tipo de manchas osciladas encontradas nas onças pintadas (rosetas). O corpo é completamente revestido por pintas negras, que formam rosetas dos mais diversos tamanhos, com um ou mais pontos negros em seu interior. Habita florestas tropicais úmidas, subtropicais e matas de galeria, incluindo ainda cerrado, caatinga e pantanal. Seu período de vida varia entre 18 a 20 anos, podendo, em cativeiro, alcançar os 28 anos. Pesa em torno de 65 kg (55–110 kg), medindo em torno de 132 cm de comprimento (110–175 cm) até 60 cm de altura (48–75 cm), com a cauda relativamente curta (40–68 cm). Tem hábitos solitários, diuturnos, com locomoção cuidadosa e sem ruídos, perseguindo a presa sem ser percebida. Atinge a maturidade sexual aos 3 anos, com uma gestação variando entre 93 a 110 dias, quando nascem, em média, dois filhotes. Exímia nadadora utiliza a ponta da cauda como isca para obtenção de pescado. Possui ainda garras potentes e retráteis, que são afiadas em troncos largos, cujas ranhuras auxiliam na demarcação de seu território. A força de sua patada pode chegar a 200 kg. Ela mergulha, salta, corre, e tem sentidos muito aguçados. Constitui o terror das selvas Sul americanas, pois a ferocidade, tenacidade, paciência e a agilidade surpreendem e revela bastante sagacidade na caça. Por tudo isso, é considerada por combatentes e guerreiros de selva brasileiros o seu animal símbolo.
– Livro do Autor
O livro “Desafiando o Rio-Mar – Descendo o Solimões” está sendo comercializado, em Porto Alegre, na Livraria EDIPUCRS – PUCRS, na rede da Livraria Cultura (http://www.livrariacultura.com.br) e na Associação dos Amigos do Casarão da Várzea (AACV) – Colégio Militar de Porto Alegre.
Para visualizar, parcialmente, o livro acesse o link:
http://books.google.com.br/books?id=6UV4DpCy_VYC&printsec=frontcover#v=onepage&q&f=false.