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Caso Battisti – Síntese de uma Derrota

Nota DefesaNet

Um texto que definitivo na análise do "Caso Battisti". A "Luta Revolucionária Continua" na ótica dos atuais membros do governo brasileiro.

O Editor

Alon Feuerwerker
Sumário da coluna (Nas entrelinhas) publicada na sexta-feira  (10 Junho 2011) no Correio Braziliense.

 A recusa final do Brasil a extraditar Cesare Battisti foi, em linguagem de bilhar, uma bola cantada. Este governo brasileiro, povoado por remanescentes da guerrilha urbana, não iria mesmo incorporar ao currículo a pecha de ter entregue à Justiça de outro país um sujeito autodeclarado de esquerda, e por crimes cometidos num contexto político de luta armada.

É só isso. Escrevo “num contexto político” para não resvalar na penosa e inútil discussão sobre a classificação dos crimes imputados a Battisti. Que se debata o tema até o final dos tempos. Ou até cansar. Ou até perder a importância. Se é que já não perdeu.

Teses pinçadas apenas para adornar propósitos. O governo brasileiro não queria entregar Battisti à Itália e construiu uma argumentação que desse tinturas jurídicas ao ato de vontade. Ficou meio tosco, mas no final prevaleceu a força do poder e a premissa -razoável- de que quem faz política externa é o chefe do Executivo.
 

É também razoável a observação, dos acusadores de Battisti, de que as atividades do italiano a partir de uma certa hora escorregaram para o puro e simples banditismo. Mas esse tampouco é um fenômeno incomum em situações guerrilheiras.

Nem é preciso ir longe. Temos ao lado o nada edificante exemplo das Farc.


Na faina para acolher Battisti, o governo brasileiro enveredou por atalhos conceituais bizarros. O mais de todos foi colocar em dúvida o estado de direito democrático italiano.

A Itália era uma democracia quando Battisti e seus “Proletários Armados para o Comunismo” aderiram à ação política violenta.

Continuava sendo uma democracia quando o italiano foi ali julgado pelos crimes a ele atribuídos. E continua sendo uma democracia agora que pede a extradição.

Battisti também deu sorte de o primeiro-ministro da Itália chamar-se Silvio Berlusconi. A resistência à extradição pôde ganhar uma aura militante, contra o burlesco premiê.

Só que aí tem um problema: quem mais lutou e luta lá para que Battisti seja extraditado não é a direita berlusconiana. É a esquerda. Ou melhor, a centro-esquerda herdeira do Partido Comunista Italiano (PCI).

Num plano intelectual, os movimentos armados de então na Itália apresentavam-se como alternativa à política dos comunistas, que tinham decidido buscar alianças com os conservadores para chegar ao poder por meio de eleições e realizar reformas progressistas no capitalismo.

Hoje a estratégia universalizou-se, e talvez o exemplo mais vistoso seja o PT. Mas na época o reformismo era um pecado capital aos olhos do revolucionarismo radical, então bem na moda.

Na prática, a luta armada italiana serviu apenas de instrumento da direita para atrasar a chegada da esquerda ao poder, algo que ali só se realizaria após o fim da União Soviética e da Guerra Fria.

Não à toa o episódio emblemático daquela guerrilha foram o sequestro e assassinato de Aldo Moro, o líder conservador mais propenso a formar um governo em aliança com a esquerda.

A História e suas ironias. O governo brasileiro que impediu Battisti de apodrecer até o fim dos dias num cárcere italiano é produto exatamente da estratégia contra a qual Battisti pegou em armas quando jovem.

Ele pôde viver para assistir a essa síntese do fracasso político dele próprio. Pena que as vítimas não puderam.

Murismo

O Brasil absteve-se na votação da Agência Internacional de Energia Atômica que denunciou a Síria ao Conselho de Segurança da ONU por atividades nucleares clandestinas.

De abstenção em abstenção, vamos construindo um sólido protagonismo no ponto mais alto.

Do muro.
 

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