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Brasil terá blecaute em imagens de satélite sobre Amazônia

Exclusivo DefesaNet

ANÁLISE
 
Júlio Ottoboni
Jornalista Científico
 
 
O Brasil passará a ter um agravamento no blacaute em imagens de satélite para o monitoramento remoto da Amazônia, o que piora em muito o acompanhamento do desmatamento.  Às 11h26, hora de Beijing (1h26, hora de Brasília), desta segunda-feira 9/12, uma falha no lançamento do satélite de sensoriamento remoto sino-brasileiro CBERS-3, desenvolvido conjuntamente por Brasil e China, colocou um fim aos planos de se retomar a produção de imagens nacionais sobre o território brasileiro, que já está paralisada há 5 anos.
 
Com isso, o Brasil terá que recontratar serviços de satélites norte-americanos e europeus de sensoriamento remoto, que não conseguem cobrir toda a extensão do país e nem com os ângulos necessários para as avaliações dos técnicos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que fazem o monitoramento do avanço dos desmatamento em todo o território brasileiro. O satélite lançado foi feito pelo veículo chinês Longa Marcha 4B, do Centro de Lançamentos de Satélites de Taiyuan, China. Porém, houve uma falha de funcionamento do veículo lançador durante o voo. O problema decorreu, provavelmente, no último estágio de ejeção do aparelho, e o satélite não foi posicionado na órbita prevista. Avaliações preliminares dão conta que o CBERS-3 retornou ao planeta. O local mais provável do impacto é o polo norte.
 
Engenheiros chineses responsáveis pela construção do veículo lançador estão avaliando as causas do problema e o possível ponto de queda. Os dados obtidos mostram que os subsistemas do CBERS-3 funcionaram normalmente durante o trajeto para sua colocação em órbita. O satélite já estava com o cronograma em atraso há 3 anos, por falta de recursos, desviados para a viagem ao espaço do astronauta Marcos Pontes, agravada pela falta de aquisição de peças dificultadas pelos Estados Unidos.
 
Para assegurar o cumprimento dos objetivos do programa CBERS, Brasil e China concordaram em iniciar imediatamente discussões técnicas visando a antecipação da montagem e lançamento do CBERS-4. O CBERS-3 não tinha um backup, ou seja, um equipamento reserva que sempre é utilizado nestes casos, inclusive para testes e emergências como a recolocação de satélites com falhas ou lançamentos mal sucedidos. Boa parte dos equipamentos que eram para estar em estoque e mesmo montados foram cortados por falta de cotação orçamentária.
 
A Agência Espacial Brasileira e a Academia Chinesa de Tecnologia Espaciais convocaram uma reunião extraordinária do comitê conjunto de coordenação do programa CBERS (JPC, em inglês), para esta terça-feira, 10 de dezembro, na China, da qual participam representantes de todas as partes envolvidas no projeto. Estão convocados em caráter de urgência o ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Marco Antonio Raupp, o presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB) José Raymundo Coelho, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Leonel Perondi, e chineses responsáveis pelo desenvolvimento da parte chinesa do satélite, pelo lançador e pelas operações de lançamento. Nesta reunião, serão discutidas as causas da falha no lançamento e os próximos passos do programa.
 
O programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS, na sigla em inglês) gera imagens da superfície do território brasileiro para aplicações diversas, tais como zoneamento agrícola, monitoramento de desastres naturais e acompanhamento de alterações da cobertura vegetal, com grande aplicação na região amazônica.
 
O CBERS-3 seria o quarto satélite do programa a entrar em órbita. Os três satélites anteriores operaram adequadamente e cumpriram suas missões. Entretanto todos já estavam fora de operação. O último deles o CBERS-2B deixou de funcionar em janeiro de 2009. Brasil e China alcançaram resultados tem cooperação na área espacial desde 1988, o primeiro acordo foi feito dentro do governo de José Sarney numa polêmica viagem à China realizada em 1986.

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