Taciana Moury
O 25º Contingente do Batalhão Brasileiro de Infantaria (BRABATT, por sua sigla em inglês) da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH) já está em ação no país. Ao todo, 850 militares brasileiros ajudam a manter a segurança desta nação caribenha pelos próximos seis meses.
Além das ações de apoio à Polícia Nacional do Haiti, estes militares têm agora o desafio de apoiar nas atividades de assistência humanitária ao país, devastado pela passagem do furacão Matthew, em outubro de 2016. O balanço oficial da tragédia contabilizou 546 mortos, 128 desaparecidos e 175 mil deslocados. Segundo dados da ONU, 1,4 milhão de pessoas foi afetada e 800 mil ainda necessitam de ajuda humanitária.
O atual contingente brasileiro da MINUSTAH está composto por 639 militares do Exército Brasileiro, 181 da Marinha do Brasil e 30 da Força Aérea Brasileira (FAB), todos da região nordeste do país. A FAB foi a responsável pelo transporte da tropa.
Segundo a chefia de Operação de Paz do Ministério da Defesa (MD) brasileiro, os militares atuam na reconstrução das casas e estradas destruídas pelo furacão, além de realizarem a proteção dos comboios de alimentos distribuídos à população.
Parte do BRABATT está atuando na região oeste do Haiti, especificamente na capital Porto Príncipe, onde está localizada a Base General Bacelar, sede do Batalhão Brasileiro. Outra companhia do BRABATT atua na área de Cité Soleil. De acordo com o comunicado de imprensa do MD, os militares destas bases realizam patrulhas diárias a pé e motorizadas e estão presentes nas principais ruas e avenidas.
A Segundo Tenente Auxiliar Fuzileiro Naval Débora Ferreira de Freitas faz parte do contingente brasileiro no Haiti. Ela é a primeira mulher combatente das Forças Armadas brasileiras a integrar uma tropa em missão de paz. Para ela, a presença feminina facilita o contato com a comunidade na área de operações. “Principalmente em escolas, hospitais, ou durante as patrulhas na rua, percebo que há uma maior facilidade de interação quando se faz presente no local uma figura feminina”, contou a 2º Ten Débora.
A dificuldade em se comunicar com uma população que fala majoritariamente o creole ou o francês e a convivência diária com a extrema pobreza são algumas das dificuldades encontradas pelos militares. “A adaptação à cultura local e a saudade do convívio familiar é o que torna mais difícil a missão”, ressaltou a 2º Ten Débora. Mas, segundo ela, a experiência de atuar em outro país e a oportunidade de conviver com militares de diversas nacionalidades é muito gratificante. “É uma honra participar desta missão”, finalizou.
Missão de paz
Entre 1947 e 2015, o Brasil enviou mais de 48 mil militares para 47 missões da ONU, segundo levantamento da pesquisadora Eduarda Hamann, do Instituto Igarapé. De acordo com a pesquisa, a participação de brasileiros em missões de paz aumentou consideravelmente nos últimos 15 anos. Em 2000, o Brasil participava de três e hoje o país está presente em nove missões de paz, o que corresponde a um crescimento de 300 por cento, segundo o estudo, com mil e trezentos militares espalhados por países de língua portuguesa, como Angola e Timor Leste, e no Líbano, sendo que a maior parte está na MINUSTAH.
Segundo o comunicado de imprensa do MD, a participação em missões de paz é um instrumento muito útil à política nacional. “Além de representar o cumprimento com suas obrigações em nível mundial, contribui para estreitar as relações com países de particular interesse para a política externa brasileira, aumentando a projeção do país no cenário mundial,” disse o comunicado.
Para participar deste tipo de missão, é necessário um treinamento específico. A tropa brasileira que integra o BRABATT 25 passou por uma preparação médica e psicológica, além de um exercício básico de operações de paz. A tropa executou, ainda, diversas oficinas de instrução, desempenhando ações similares às que estão sendo executadas pelos militares brasileiros no Haiti. Eles ainda foram treinados durante o Exercício Avançado de Operações de Paz, aplicado pelo Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil.
Esquadrão Corsário da FAB transporta militares para o Haiti
O esquadrão retomou as atividades aéreas depois de três anos.
Quando os primeiros militares brasileiros que formam o 25º Contingente do BRABATT embarcaram, no final de novembro de 2016, da Base Aérea do Recife, no estado de Pernambuco, a tripulação da aeronave Boeing 767 do Esquadrão Corsário (2º/2º GT), da FAB, comemorava a volta da operacionalidade da unidade. O esquadrão ficou três anos sem atuar por falta de aeronaves, após a desativação dos cargueiros reabastecedores KC-137, retomando em julho de 2016.
Segundo o comandante do Esquadrão Corsário, Tenente Coronel Luiz Eduardo Ferreira da Silva, “o transporte das tropas para o Haiti traduz a missão da Unidade, que é realizar voos de transporte aerologístico”. A Unidade Aérea também foi responsável pelo transporte das tropas de garantia da lei e da ordem que integraram as Forças de Segurança no Rio de Janeiro durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
A chegada da aeronave C-767 potencializou as operações em caráter estratégico, aumentando a capacidade de transporte de carga e passageiros em grandes distâncias, com maior velocidade. Para operar a aeronave, os pilotos do Esquadrão realizaram aulas práticas, teóricas e simuladoras de voo, além de treinamento em aeronaves similares. “Nossos tripulantes operavam a aeronave KC-137, que é a versão militar do Boeing 707. Por isso, foi necessária uma adaptação de todos ao Boeing 767 (C-767), aeronave mais moderna que a anterior”, explicou o Ten Cel Luiz, acrescentando que as equipes de solo também foram adaptadas às necessidades da nova aeronave.
O Esquadrão Corsário foi criado em 1968 e está sediado na Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro.