Por Ramón Montañez, diretor de Estratégia Internacional, Mercados Emergentes da Motorola Solutions
A percepção da população em relação à segurança é tão importante para uma cidade quanto a própria segurança, pois além de impactar a governabilidade, afeta a atratividade para o investimento e, consequentemente, seu desenvolvimento econômico.
Em boa parte da América Latina, a percepção ainda é negativa, ou seja, as pessoas se sentem inseguras em suas cidades. E a questão é que essa tendência não tem previsão (a curto e a médio prazos) de ser revertida. Isso foi indicado pelo Relatório de Lei e Ordem conduzido pelo instituto Gallup, que aponta que menos da metade da população latina (49% dos pesquisados) se sente seguro, enquanto a média global é de 71%.
Nesse sentido, é necessário fortalecer a sensação de segurança na população. Um dos caminhos para isso é utilizar a tecnologia a favor da segurança pública. Atualmente, o leque de soluções para aprimorar a segurança passa por câmeras inteligentes de videomonitoramento, drones, iluminação com sensores, controles de acesso, sistemas de detecção de metais e muito mais.
A câmera corporal ou bodycam é um exemplo de ferramenta que contribui para maior transparência na segurança. Ela promove a captura e o registro de incidentes, o que além de representar uma informação valiosa para ampliar a consciência situacional, é uma evidência neutra dos incidentes, sendo cada vez mais considerada como material probatório no sistema judicial. Por isso, mais de 60% dos cidadãos dizem sentir maior sensação de segurança na sociedade quando se utilizam tecnologias de vídeo avançadas, de acordo com o estudo “Consenso para a Mudança”, realizado pela Goldsmiths, universidade de Londres. Esse estudo entrevistou 12.000 pessoas em 10 países (Austrália, Alemanha, Itália, Malásia, países nórdicos, Singapura, Espanha, Taiwan, Reino Unido, Estados Unidos), além de 50 organizações de segurança pública e estabelecimentos comerciais.
As bodycams – que podem ser usadas nos uniformes dos agentes de segurança pública, de emergências e metropolitanos, como policiais, agentes de trânsito e bombeiros – facilitam a documentação de eventos em tempo real antes, durante e depois de um incidente, agindo como mais um “par de olhos” que monitoram, registram e armazenam o fato, documentando se houve o cumprimento da lei. Graças a isso, servem como evidência em qualquer processo judicial. A maior transparência nas ações dos agentes impacta positivamente na sensação de confiança da população. Dessa forma, as informações podem ser compartilhadas com os Centros de Comando e Controle e utilizadas na tomada de decisão, proporcionando maior consciência para que a polícia ou autoridade pública tome decisões de forma ágil, eficiente e precisa.
As informações coletadas pelas câmeras não podem ser manipuladas, editadas ou compartilhadas em dispositivos externos. Isso a fim de aumentar a proteção dos registros. O material pode ser reproduzido quantas vezes for necessário para revisar evidências críticas e fazer análises pós-incidente, salvar informações valiosas e descartar o que for irrelevante.
Globalmente, já é uma forte tendência o uso de bodycams para fins de segurança pública. A segurança do MetroRio no Brasil é um exemplo do uso dessa tecnologia a fim de proteger os agentes de segurança e população, demonstrando total transparência das ações junto aos cidadãos. Os dados sobre o uso de bodycams em países como França, Itália, Reino Unido ou os EUA revelam uma diminuição do uso da força policial e das queixas apresentadas por cidadãos. Na cidade de Ravenna, desde 2020, a utilização destes dispositivos pela polícia municipal reduziu em 50% as situações de violência contra a autoridade. Em Londres, em 2018, as queixas contra a polícia diminuíram 20%. Em Birmingham, nos EUA, onde a polícia utiliza bodycams desde 2015, diminuíram 34% os incidentes de uso de força e 71% as queixas de cidadãos.
Com esses números podemos dizer que as bodycams já significam uma evolução da sociedade e das suas forças de segurança, promovendo aumento do respeito e da confiança entre os agentes de segurança pública e as comunidades. Portanto, podem ser consideradas importante ferramenta de apoio aos objetivos de modernização da administração pública.
