FELIPE NÓBREGA DE SÃO PAULO
Ondas de violência como a que ocorre na região metropolitana de São Paulo movimentam o segmento de carros blindados, afirma Christian Conde, presidente da ABRABLIN (associação das blindadoras).
O setor prevê fechar o ano com recorde de aproximadamente 8.900 emplacamentos, cerca de 10% a mais que o registrado em 2011.
O aumento do poder aquisitivo e a queda de cerca de R$ 2.000 no valor médio da proteção balística nos últimos 12 meses também ajudaram a impulsionar as vendas.
Blindar um carro hoje custa, em média, R$ 46.650 (nível 3-A, o máximo permitido pelo Exército para carros de passeio e capaz de suportar tiros até de submetralhadoras Uzi).
"Muitos estão adquirindo o primeiro blindado. Para que o veículo ofereça real proteção, o motorista precisa se reeducar", afirma Conde.
A mudança começa pela postura ao volante. O peso extra da proteção (cerca de 200 kg), concentrado na parte superior do carro, tende a inclinar mais a carroceria nas curvas, aumentando o risco de perda de controle.
A carga adicional acelera o desgaste de peças, como as da suspensão, e prejudica ainda o poder de frenagem.
"O ideal é manter uma distância maior do carro da frente, até porque o condutor pode precisar de espaço para escapar de um ataque", recomenda Roberto Manzini, instrutor de pilotagem.
Parado, o veículo blindado se torna vulnerável por não suportar disparos em um mesmo ponto. É por isso que especialistas em segurança recomendam, por exemplo, que o motorista deixe a marcha a ré engatada enquanto espera o portão da garagem abrir eletronicamente, o que agilizaria uma possível fuga.
Há cursos que ensinam como guiar um blindado. Além de manobras de evasão, o condutor aprende a avaliar situações de risco e como se comportar em cada uma delas.
Um dos mais conhecidos é o módulo Protection, do BMW Driver Training, que dura um dia e custa R$ 2.700.
Utilitários esportivos são os mais blindados
FELIPE NÓBREGA DE SÃO PAULO
O gerente de inovação Rudney Borges, 29, já decidiu. Irá trocar o seu utilitário blindado por outro, mais novo. "Esses carros são parrudos, espaçosos e versáteis", justifica.
Assim como Borges, milhares de consumidores estão preferindo blindar jipinhos. Com o fenômeno, os sedãs deixaram as primeiras posições no ranking do setor .
Porém, segundo engenheiros ouvidos pela Folha, os utilitários não são o tipo de veículo mais recomendado para receber proteção balística.
"Como o peso extra (cerca de 200 kg) se concentra na parte superior do carro, modelos altos como os SUVs tendem a inclinar mais em curvas, elevando o risco de perda de controle, principalmente mudanças repentinas de direção", diz João Franco, especialista em dinâmica veicular.
A sensação de instabilidade piora quando o carro tem teto panorâmico à prova de balas -os vidros são os principais responsáveis pelo sobrepeso em uma blindagem.
Para minimizar esse efeito, o melhor é optar por modelos com tração integral (AWD), que ajuda na estabilidade. Muitas blindadoras oferecem também kits de reforço para freios e amortecedores, já que a suspensão mais robusta dos utilitários é projetada apenas para suportar o porte avantajado do próprio carro.
A armadura interfere também na dinâmica de picapes e minivans, e a maior área de carroceria eleva os custos da proteção entre 8% e 15% em comparação aos sedãs médios, calcula Rafael Barbero, diretor da Avallon. A empresa cobra, em média, R$ 52 mil para blindar carros grandes.
Hatches e sedãs de boa potência (acima de 140 cv de potência) são menos suscetíveis aos efeitos da blindagem.
"Até o aumento do consumo de combustível acaba sendo menor [no máximo, 10%]", diz Ricardo Dilser, assessor técnico da Fiat.
USADOS
A sensação de insegurança no trânsito não assusta só os mais ricos.
"Muitos potenciais compradores de carros populares novos estão migrando para blindados usados", observa Eisi Uehara, consultor de vendas da Totality Inbra Blindados.
Por R$ 30 mil, é possível comprar, por exemplo, um Chevrolet Vectra ano 2006 à prova de balas.
Isso ocorre porque a depreciação de blindados usados costuma ser maior que a média do mercado.
O desgaste acelerado de vários componentes do carro -por conta do peso extra- e a necessidade de manutenções específicas (e caras), também assustam.
"Após 10 anos, a liquidez cai muito", diz Uehara.
Antes de fechar negócio, o consumidor deve buscar referências da empresa que blindou o veículo e exigir o certificado do Exército (obrigatório), que atesta o nível de proteção.