O ministro da Defesa, Celso Amorim, defendeu hoje no Senado a necessidade de que o Brasil desenvolva softwares e outras ferramentas nacionais para proteção das redes de computadores de seus órgãos de Estado. “O desafio principal que temos é o de desenvolver ferramentas nacionais com brasileiros para nos defender”, afirmou.
Na companhia do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general José Elito de Carvalho Siqueira, Amorim participou de audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da casa legislativa. O convite teve como motivação as denúncias de espionagem de comunicações de cidadãos, empresas e órgãos públicos por agências de inteligência dos Estados Unidos.
Durante a reunião, o ministro Amorim admitiu haver fragilidade nos mecanismos de defesa das redes cibernéticas do País. “Porém, acho que, como em toda situação, o primeiro passo para se resolver o problema é diagnosticá-lo”, afirmou. “E acho que estamos diagnosticando corretamente que existe uma vulnerabilidade em termos de defesa cibernética”.
O ministro da Defesa frisou, entretanto, que a fragilidade dos meios de segurança das redes de computador não é uma peculiaridade do Brasil, como pôde ser observado em declarações recentes de líderes mundiais europeus e sul-americanos a respeito das denúncias espionagem. “A Alemanha e a França, países que dispõem de sistemas muito sofisticados, a julgar pela declaração dos seus próprios líderes, também foram tomados de surpresa pela escala e pela amplitude dessas ações”, ressaltou.
Amorim lembrou que até mesmo o ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta, admitiu que seu país estava sujeito a ter um “Pearl Harbor cibernético”. “Se o secretário de Defesa dos EUA diz isso é porque é algo complexo de se conseguir resolver de um dia para outro”, disse, acrescentando que ele próprio mantém cuidados especiais com suas comunicações eletrônicas.
Satélite brasileiro
O ministro da Defesa, em resposta às perguntas feitas pelos parlamentares, também tratou do projeto de construção de um satélite geoestacionário a ser colocado em órbita por um consórcio brasileiro. O projeto prevê investimentos de R$ 720 milhões. A licitação deve ser concluída no fim do mês e a assinatura do contrato está prevista para agosto deste ano. A previsão é que o satélite geoestacionário entre em funcionamento 32 meses após o contrato assinado.
Amorim afirmou que o projeto é prioridade. Ele explicou que a Defesa terá uma banda específica para comunicações militares, a chamada banda X. O ministro assinalou aos parlamentares a necessidade de o Brasil desenvolver satélites exclusivos para a defesa, além do geoestacionário em curso. “É um projeto e esses projetos custam caro, como custa também caro o Sisfron, que é uma prioridade nossa”, afirmou, fazendo referência ao sistema do Exército de monitoramento de fronteira.
A audiência no Senado começou com o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, lendo a nota oficial divulgada mais cedo pela Secretaria de Imprensa da Presidência da República sobre as medidas tomadas pelo governo em relação às denúncias de espionagens.
Na audiência, os senadores fizeram perguntas sobre temas como a possibilidade de o Brasil conceder asilo ao ex-agente norte-americano Edward Snowden, apontado como o autor do vazamento dos documentos referentes à espionagem, bem como questões ligadas à internet e defesa das redes de computadores públicas e privadas.
Ao término da reunião, os ministros conversaram com os jornalistas, ocasião em que Amorim voltou a defender a solução de softwares livres para os sistemas de comunicação nacionais.