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América Latina deve olhar para o México

O México se transformou no pior exemplo do que pode acontecer a qualquer país do continente em que o crime organizado avança, ocupa espaços e cria um estado paralelo, desafiando, e muitas vezes submetendo, o Estado legitimamente constituído. Segundo o Instituto de Ação Cidadã do México, pelo menos 71% dos municípios do país estão sob controle dos cartéis de drogas. Desde 2006, quando assumiu, o presidente Felipe Calderón intensificou o combate ao narcotráfico, mobilizando o Exército mexicano. Não tinha alternativa. Mas, a partir daí, abriu-se uma verdadeira guerra, com mais de 50 mil mortos.

A violência extrema é a linguagem dos cartéis. No último domingo, autoridades de Monterrey, no estado de Nuevo León, encontraram 49 corpos mutilados, aparentemente vítimas de um acerto de contas entre gangues de traficantes. Tornou-se comum achar torsos mutilados – sem cabeça e membros – nos mais diversos locais, inclusive nas grandes cidades.

O grande problema para qualquer país que enfrente uma força criminosa dessa natureza é seu enorme poder econômico, decorrente de uma atividade bilionária como o tráfico de drogas. Ele tem capacidade, por meio do suborno, da extorsão e da compra pura e simples de autoridades, policiais ou não, de se infiltrar no aparelho do Estado – no próprio Exército, nos tribunais, nos governos, enfim – tornando o combate ao crime quase uma tarefa de enxugar gelo. Isto ocorre no México, mas não só lá, com o território mexicano repartido em áreas sob domínio dos inúmeros cartéis, com destaque para o Norte. A democracia mexicana e suas instituições estão no fio da navalha.

Outro pilar da democracia, a imprensa livre e independente, se encontra sob fogo cerrado das organizações criminosas. Nos últimos 15 dias, cinco jornalistas foram mortos pelo narcotráfico e o diário "El Mañana", de Nuevo Laredo, no Norte do país, depois de sofrer um atentado com tiros e explosivos, suspendeu, por tempo indeterminado, a publicação de qualquer notícia relativa à violência na cidade e em outras áreas do México.

A imprensa e os jornalistas estão acuados. Desde 2000, 80 deles foram assassinados. O México é hoje o mais perigoso país da América Latina para o trabalho jornalístico, e o terceiro do mundo, superado apenas por Afeganistão e Paquistão, onde há conflitos abertos. O objetivo dos criminosos é claro: calar aqueles que noticiam a violência e os crimes, apuram responsabilidades, fazem denúncias, apontam suspeitos. Em parte, já conseguiram. Segundo o presidente da Associação de Jornalistas de Ciudade Juárez, Roberto Delgado, cada vez menos repórteres expõem seus nomes ou investem em matérias investigativas por medo de represálias.

Torna-se claro que o México, que terá eleições presidenciais a 1 de julho, está em situação desesperadora, lutando para não sucumbir de vez. A Colômbia esteve muito perto disso quando as Farc se tornaram uma narcoguerrilha e chegaram a ter, por ingênua concessão do governo, uma parte do território nacional – ampla base para a guerra civil que quase destruiu o hoje pujante país. São problemas que afetam, com maior ou menor intensidade, toda a América Latina.

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