Diana Figueiredo
Faltam 45 dias para os Jogos Olímpicos RIO-2016, e apesar de todas as preocupações com segurança pública, o Ministério da Defesa afirma que está pronto para os jogos e que o grupo terrorista Estado Islâmico não é uma ameça direta ao país. “Não há especificamente uma ameaça contra o Brasil. O Brasil não tem histórico de terrorismo, mas as pessoas que vem para cá têm histórico de terrorismo e estamos preparados para isso também”, garante o chefe da Assessoria Especial para Grandes Eventos do Ministério da Defesa, General Luiz Felipe Linhares, em entrevista ao EXTRA.
Segundo o General Linhares, cerca de 85 mil agentes estarão envolvidos na segurança dos jogos que acontecem em agosto, o dobro de Londres-2012.
Desses, 38 mil são das Forças Armadas, sendo 20 mil deslocados somente no Rio de Janeiro. Outras cidades que terão partidas de futebol também contarão com as forças armadas. “A gente quer estar preparado para qualquer eventualidade. Mais preparado que o pessoal de Londres estava. Duas vezes mais bem preparado. É a primeira Olimpíada da América do Sul, e a gente quer a melhor olimpíada da história”, disse o general. Ainda segundo ele, países como França, Israel, Estados Unidos, Bélgica e Rússia são alguns de muitos que estão ajudando com expertise a garantir que não haja nenhum incidente no país.
Recentemente tivemos atentados terroristas cometidos pelo Estado Islâmico em Paris e na Bélgica. O Brasil aumentou a segurança para os jogos?
General Linhares – Nós estamos prontos para as Olimpíadas. Estamos prontos porque desde 2009, quando foi definido que o Brasil sediaria as Olimpíadas, nós começamos a nos preparar. As forças têm a tradição de ter planejamento, adestramento de tropa e exercícios para o evento. Tivemos uma série de eventos que aconteceram desde 2007 como os jogos Pan-Americanos, Jornada Mundial da Juventude, Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Adquirimos expertise em cada um desses eventos. Na Rio+20, em 2012, estivemos focados na segurança das autoridades. Os jogos são os clímax que reúne toda a expertise que conseguimos obter o longo do tempo. Intensificamos o treinamento porque muitos recursos só passaram a chegar em 2014 e começamos realmente a exercitar a tropa.
Esses eventos terroristas nos últimos meses levantaram o alerta?
General Linhares – Esses eventos fazem parte das conversas que temos tido como outros países como a França. Para eles, aqueles eventos serviram de aprendizado, assim como para nós como discussão e estudo de caso onde as pessoas têm que intensificar o treinamento e melhorar os protocolos – procedimentos padrão que se definem que faz o que. Quando acontece um incidente de terrorismo ou acidente vamos obtendo mais informações até do que aquelas que saem na mídia sobre o que aconteceu tanto do lado do terrorista como do lado do país, e isso faz com que a gente melhore.
O efetivo das forças será mesmo de 38 mil militares, sendo 20 mil no Rio?
General Linhares – Sim, esses são números aproximados e eles são colocados como prioridade para o Rio de Janeiro. Entenda que 95% dos eventos acontecerão no Rio de Janeiro, e em outras terão eventos de futebol: Manaus, Belo Horizonte, Brasília, São Paulo e Salvador. E esse é o pessoal diretamente ligado aos jogos, mas estamos com todas as forças empenhadas até mesmo indiretamente. Temos uma fronteira muito grande e serão intensificadas as ações de combate ao contrabando e ao combate de entrada de bens ou materiais que possam trazer risco. Todo o efetivo está sendo empenhado para o controle da circulação de explosivos, mas diretamente é esse efetivo que você mencionou (20 mil).
Os militares ficarão em locais de competição ou em toda a cidade?
General Linhares – Existe um plano estratégico de segurança (PESI) que foi assinado em 30 de setembro do ano passado já culminando com os três eixos de atuação: Defesa Nacional (Ministério da Defesa), Segurança pública (Ministério da Justiça) e inteligência (Abin). Esse plano por si só diz o que cada um faz e suas competências e o que é feito integrado. Então, no Rio de janeiro vai ter gente esperando acontecer alguma coisa (contingente), em enfrentamento ao terrorismo (os três eixos), trabalhando na varredura de material e na proteção de estruturas estratégicas como plantas de energia, água e comunicações. Não estaremos apenas nos locais de competição, mas em todo o Rio de Janeiro.
A Abin informou recentemente que o Brasil poderia ser um alvo do Estado Islâmico. De fato, o grupo é uma preocupação nos treinamentos?
General Linhares – O Estado Islâmico é considerado nos estudos, claro. Mas hoje não há especificamente uma ameaça contra o Brasil, o Brasil não tem histórico de terrorismo, mas as pessoas (países) que vem para cá têm histórico de terrorismo e temos que estar preparados para isso também.
O último ataque terrorista na França tinha como alvos um estádio onde acontecia um jogo de futebol. Essa é a preocupação também?
General Linhares – Isso. E se você lembra bem eles não tiveram sucesso. Eles (os terroristas) não conseguiram entrar no estádio e fizeram explosões particulares. O dano foi muito menor do que se eles tivessem entrado no estádio.
O senhor lembrou que o Brasil não tem histórico de terrorismo. Mas há brasileiros que viajaram para Síria e, possivelmente, teriam se radicalizado, por exemplo?
General Linhares – Não temos especificamente ninguém identificado como ameaça, mas os protocolos dizem quais são as ações. Sempre lembro que os jogos não são brasileiros, são jogos no Brasil. Logo, a gente sabe que é um evento mundial e de interesse internacional e, por isso, todos colaboram. A gente conta com o apoio dos países que virão. Muitos deles têm histórico, experiência ou estrutura que estão nos ajudando. França, Israel, Estados Unidos, Bélgica e Rússia são alguns de muitos que estão ajudando.
No total, serão 85 mil agente de segurança com os policiais militares, federais e outras forças. O dobro do que foi usado em Londres 2012. Por qual motivo? Esse número é maior porque as ameaças aumentaram ou porque o Rio de Janeiro já tem graves problemas de segurança pública?
General Linhares – Não tenho os dados precisamente da Polícia Militar e da Polícia Federal, mas quando conversamos o número era esse de cerca de 85 mil, o dobro de Londres. A gente quer estar preparado para qualquer eventualidade, mais preparado que o pessoal de Londres estava preparado. Duas vezes mais bem preparado. É a primeira Olimpíada da América do Sul, e a gente quer fazer a melhor olimpíada da história.
Como a população pode ajudar?
General Linhares – Contamos muito com o apoio da população. Ela pode ligar para o 190 e avisar se há alguma coisa estranha como uma mala abandonada, uma mochila abandonada, alguém fazendo muitas perguntas sobre os jogos, alguém com muitos celulares ou um carro abandonado, por exemplo. Se a população puder nos ajudar, faz com que a gente investigue e colabora. Se pudermos levar as informações para a população é um grande caminho para reduzir a possibilidade de ameaça aos jogos.