Manifestantes ligados a organização "socialista, patriota e revolucionária" pede a suspensão do leilão do pré-sal
Um grupo de oito pessoas foi detido na tarde desta sexta-feira após invadir e depredar uma sala mantida pelo consulado dos Estados Unidos em Porto Alegre (RS), durante um protesto contra a espionagem americana e o leilão do campo de Libra, do pré-sal. O ato foi promovido pelo grupo A Marighella, que se intitula uma "organização socialista, patriota e revolucionária".
Segundo a Brigada Militar (a Polícia Militar gaúcha), os manifestantes invadiram por volta das 12h30 a sala onde funciona o escritório temporário do consulado americano em Porto Alegre, localizado no shopping Boulevard, na zona norte da cidade. No local, o grupo jogou tinta em paredes e derrubou bandeiras dos Estados Unidos.
Entre os oito manifestantes havia dois adolescentes, que foram levados ao Departamento Estadual da Criança e do Adolescente (Deca). Os demais foram levados à 3ª Delegacia de Pronto Atendimento (DPPA), onde o caso será registrado.
Em sua página no Facebook, o grupo divulgou uma "Carta ao povo brasileiro" em que conclama a população a promover atos semelhantes em todo o País. "Embora as empresas americanas não estejam participando deste processo de leilão, sabe-se que os Estados Unidos não desistiram de roubar nosso petróleo. A espionagem exercida pelo imperialista (Barack) Obama visa monitorar as movimentações de nossas riquezas, configurando flagrante ataque à soberania nacional", diz o texto, que também repudia a criminalização dos movimentos sociais nos protestos do Rio de Janeiro.
"O povo brasileiro deve repudiar a espionagem norte-americana, e exigir uma política externa mais dura e ofensiva contra os interesses do governo imperialista de Obama. Exigimos, também, a suspensão imediata dos leilões do pré-sal! Libra é nossa! O pré-sal é nosso! O petróleo é nosso! Da mesma forma, o povo exige a liberdade dos presos políticos do Rio de Janeiro. Os companheiros devem ser libertados imediatamente! Pois lutar não é crime", argumenta.
"A Marighella conclama todo o povo brasileiro para fazer o mesmo com as representações consulares norte-americanas espalhadas no Brasil, bem como no local do leilão. É preciso enfrentar com coragem o imperialismo de Obama", prossegue o manifesto, que cobra da presidente Dilma Rousseff a suspensão do leilão, lembrando seu passado na militância contra a ditadura militar. "Onde está a Dilma Guerrilheira, que seria hoje apoiada pela juventude? Por que Dilma não segue os trilhos de (do presidente do Uruguai, Pepe) Mujica, Cristina (Kirschner, presidente da Argentina) e (Hugo) Chávez (ex-presidente venezuelano)? Quem sabe faz a hora, não espera acontecer", conclui.
Espionagem americana no Brasil
Matéria do jornal O Globo de 6 de julho denunciou que brasileiros, pessoas em trânsito pelo Brasil e também empresas podem ter sido espionados pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency – NSA, na sigla em inglês), que virou alvo de polêmicas após denúncias do ex-técnico da inteligência americana Edward Snowden. A NSA teria utilizado um programa chamado Fairview, em parceria com uma empresa de telefonia americana, que fornece dados de redes de comunicação ao governo do país. Com relações comerciais com empresas de diversos países, a empresa oferece também informações sobre usuários de redes de comunicação de outras nações, ampliando o alcance da espionagem da inteligência do governo dos EUA.
Ainda segundo o jornal, uma das estações de espionagem utilizadas por agentes da NSA, em parceria com a Agência Central de Inteligência (CIA), funcionou em Brasília pelo menos até 2002. Outros documentos apontam que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, teriam sido alvos da agência.
Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que o País reagiu com “preocupação” ao caso.
O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto americano.
Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de telecomunicações sediadas no País violaram o sigilo de dados e de comunicação telefônica. A Polícia Federal também instaurou inquérito para apurar as informações sobre o caso.
Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela Câmara dos Deputados.
Monitoramento
Reportagem veiculada pelo programa Fantástico, da TV Globo, afirma que documentos que fariam parte de uma apresentação interna da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos mostram a presidente Dilma Rousseff e seus assessores como alvos de espionagem.
De acordo com a reportagem, entre os documentos está uma apresentação chamada "filtragem inteligente de dados: estudo de caso México e Brasil". Nela, aparecem o nome da presidente do Brasil e do presidente do México, Enrique Peña Nieto, candidato à presidência daquele país quando o relatório foi produzido.
O nome de Dilma, de acordo com a reportagem, está, por exemplo, em um desenho que mostraria sua comunicação com assessores. Os nomes deles, no entanto, estão apagados. O documento cita programas que podem rastrear e-mails, acesso a páginas na internet, ligações telefônicas e o IP (código de identificação do computador utilizado), mas não há exemplos de mensagens ou ligações.