OS IMPACTOS DA MORTE DE SOLEIMANI
André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos
A operação dos EUA que culminou na morte do general Qasem Soleimani, a principal liderança militar iraniana, em Bagdá, no Iraque, por meio de um ataque com Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT) popularmente conhecido como drone, é uma demonstração de força do Presidente Donald Trump junto a seu eleitorado e aos norte-americanos em geral num mandato que vêm obtendo bons índices econômicos e algumas melhorias sociais e por esta razão, com chances de reeleição.
No entanto, faltava em seu currículo, a exemplo de seu antecessor, Barack Obama, a eliminação de um inimigo comum a segurança estadunidense que, nas últimas duas décadas, é uma rede terrorista extremista islâmica e suas lideranças como ocorreu com a Al Qaeda e mais recentemente com o ISIS.
Obviamente que esta comparação é inválida pois embora apresentarem um mesmo padrão operacional de ataques e alvos, são questões bem diferentes. Osama Bin Laden e Abu Bakr Al Bagdadi eram líderes de grupos não reconhecidos internacionalmente como ligados a algum Estado soberano, portanto irregulares, e cujo uso da força e violência rompeu o monopólio destes próprios Estados, ou seja, ilegais e considerada crime por resolução da ONU.
O general Soleimani, a contrário sensu, representava uma força militar estatal, portanto legítima e agia sob a égide das lideranças políticas iranianas sob o regime dos Aiatolás, pelo menos até onde sabemos. Embora desigual e incomparável, este último episódio deverá ter boas repercussões como discurso político nas próximas eleições presidenciais previstas para novembro de 2020.
Tenho minhas dúvidas se os norte-americanos sabiam alguma coisa sobre Soleimani ou de seus planos de atacar alvos utilizando as milícias paramilitares iranianas, ou se foi o responsável por parcela dos últimos ataques contra alvos norte-americanos. Era uma figura conhecida apenas nos círculos governamentais da política externa e da inteligência.
Provavelmente, tenha partido destes círculos a estimativa de que ele caminhava para se transformar em um grande estrategista em operações irregulares contra forças dos EUA na região do Oriente Médio em um futuro próximo, portanto, uma ameaça potencial.
Quanto a retaliação severa prometida pelos Aiatolás e a possibilidade de um conflito militar entre EUA e Irã, as probabilidades são baixas para não dizer nenhuma. Vale lembrar, que o ditador Saddam Hussein proferiu ameaças similares quando “a primeira bota de um militar da coalizão pisasse em território iraquiano”, durante a Guerra do Golfo em 1990, o que se comprovou, posteriormente, ser apenas bravata.
Tudo indica que a reação iraniana não terá a intensidade e amplitude como desejariam e Trump sabe disso, tanto que deu o primeiro xeque estratégico num jogo que não interessa a nenhuma das partes.
Todos sabemos que por mais armada, equipada e treinada, a Guarda Revolucionária Iraniana, a exemplo da Iraquiana, não tem poder para resistir a um conflito bélico com forças norte-americanas como ficou evidenciado em 2003.
A probabilidade maior recai em ataques de retaliação a alvos norte-americanos localizados na região, ao estilo das ações terroristas ou ainda, ataques cibernéticos massivos ao território dos EUA uma vez que o Irã figura entre os principais atores no cenário cibernético internacional com comprovada capacidade tecnológica para realizar tais ações.
Neste contexto, o aumento de tensões faz parte do jogo pois estimula os jogadores diretos e traz ansiedade a uma plateia assustada que aposta sem conhecer as regras.