André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos
A França vem sendo sacudida nos últimos dias, por violentas manifestações, com saques a lojas das principais grifes internacionais, localizadas na famosa Av. Champs Elysee, restaurantes e veículos incendiados, depredações e vandalismo em estações de metro além de confrontos com forças de segurança que aparentam não desejarem ou não terem força suficiente para conter a violência, resilientes na observação à distância.
As imagens destes episódios e a destruição provocada, veiculadas pela mídia internacional, são estarrecedoras. Segundo residentes locais, cidadãos tem sido constantemente intimidados por manifestantes e tem medo de sair as ruas temendo serem vítimas da violência.
O cenário é tão impactante que muitos associam o episódio a tomada da Bastilha, por revolucionários, durante a revolução francesa, em 14 de julho de 1789. Obviamente que esta é uma associação superestimada, mas surge como uma perspectiva, caso o movimento dos gilets jaunes “coletes amarelos” seja ampliado com uma pauta diversificada de reivindicações, além da taxação de combustíveis prevista para 1º de janeiro, pelo governo do presidente, Emmanuel Macron.
Na verdade, esta não é uma crise isolada. Movimentos similares por insatisfação com medidas governamentais ou, por falta destas, vem sendo sistemáticos. Basta lembrar, que em 2005, uma perseguição com morte de três adolescentes na comuna de Clichy-sous-Bois gerou uma onda de violência em diferentes cidades com duração de 19 noites consecutivas, acarretando em nove mil veículos incendiados e três mil pessoas presas, sendo decretado na ocasião, estado de emergência pelas autoridades.
Em 2007, após as eleições presidenciais que elegeram Nicolas Sarkozy, distúrbios populares resultaram em 730 veículos incendiados e 592 pessoas detidas. No ano de 2016, eclodiram episódios semelhantes, contra a reforma trabalhista, todos com padrões muito similares num cardápio extenso de ações irregulares.
O pano de fundo deste status quo repousa na exclusão social, segundo analistas. Outras correntes apontam para a política de acolhimento de imigrantes com o programa Welcome in France, iniciado em 2010 e que tem gerado crescente déficit nos serviços públicos e impactos na qualidade destes, face aos recursos insuficientes para atender a demanda.
Esquema das manifestações adotado na França. Observar o escalonamento, praticamente criando 4 manifestações independentes, com várias motivações
Há, ainda, os que atribuem a uma estratégia de guerra híbrida que objetiva desestabilizar o governo e instalar o caos, associada as táticas do terrorismo. É possível que todos estes fatores estejam interligados o que só aprofunda o problema e traz perspectivas sombrias de novas crises.
Independentemente destas teorias, tal conjuntura, somada aos atentados terroristas de grande repercussão internacional e a onda de antissemitismo que assola o país, leva a percepção de que a França se tornou um barril de pólvora prestes a explodir, deixando seu governo fragilizado e refém de grupos de interesses, além dos imensos prejuízos financeiros que serão arcados pelos cofres públicos, reduzindo ainda mais os investimentos em políticas sociais.
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