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Woloszyn – Atropelamentos na Europa: terrorismo ou criminalidade?

                         

 

  André Luís Woloszyn

Analista de inteligência, Mestre em Direito, Especialista em

Ciências Penais e diplomado em Inteligência Estratégica

pela Escola Superior de Guerra

A tática de atropelamentos com o uso de veículos automotores como instrumento para a prática de ações terroristas em áreas urbanas de grande circulação de pessoas foi sugerida no ano de 2010, quando a Revista Inspire (da Al Qaeda da Penísula Arábica – AQAP), publicou um artigo intitulado “Máquina de ceifar definitiva” em que a Al Qaeda recomendava seu uso contra os inimigos do islã, apresentando diversos exemplos de como  atuar neste sentido.

 

Com o aumento das medidas de segurança na Europa, em geral, e face ao desgaste de um conflito prolongado na Síria, o ISIS,  incorporou a nova tática como forma de manter-se ativo longe da zona de guerra, com sua propaganda ideológica de alto impacto.  Após seu uso sistemático, conforme se observa no quadro baixo, podemos afirmar que essa tática tem se mostrado eficiente e atinge os mesmos objetivos que o uso de armas e explosivos convencionais, mais fáceis de serem detectados e com um custo e logística maior e mais complexa. Basta considerarmos que a bomba GBU-43, considerada a mãe de todas as bombas, recentemente lançada pelos EUA, contra redes de túneis subterrâneos no Afeganistão causou 90  mortes com um custo de bilhões de dólares.

 

 

Acima o Tweeter do SITE Intelligence Group com informações sobre uma release, que teria sido postado em rede do ISIS antes dos ataques. Interessante é que aparece a faca. A maior parte dos mortos soi por ataque por facas. 

 

Ataques por atropelamentos no último ano

(exceção o de Manchester)

 

   CIDADE

DATA DO ATENTADO

 NÚMERO DE VÍTIMAS FATAIS

 NÚMERO DE FERIDOS

Nice

14 julho2016

86

250

Berlim

19 dezembro 2016

12

50

Londres

22 março 2017

5

31

Estocolmo

07 abril 2017

3

10

Manchester

(bomba)

22 maio  2017

22

59

Londres

(+ ataque c/ facas)

03 junho 2017

7

48

TOTAL

 

135

448

 

Da mesma forma, a disponibilidade na  obtenção do recurso, o baixo custo, a extensão dos danos que acarretam, incluindo o pânico e a insegurança permanente, perpassa a noção dos ataques com armas tradicionais fomentando uma percepção, de certa forma compreensível, de que qualquer veículo circulante pode estar sendo conduzido por um potencial terrorista. Esta sensação, de impotência, pode atingir um efeito psicológico devastador, embora as populações atingidas sigam em seu cotidiano.  

O principal problema a ser enfrentado pelas forças de segurança e defesa, neste contexto, é a imprevisibilidade da ação, resultando na impossibilidade de uma detecção preventiva ou na identificação da intenção do agente em provocar o dano, extamente  pelo grande e constante fluxo de veículos em trânsito, ou seja, neutralizar os atropelamentos parece ser uma tarefa praticamente impossível.

Tal situação anula as avançadas tecnologias de vigilância e monitoramento das milhares de câmeras espalhadas pelo ambiente urbano, em uma demonstração da dinâmica do terrorismo.  

Interessante destacar, que episódios desta natureza possuem caracterização penal distinta em diferentes países. No Brasil, por exemplo, diariamente, dezenas de acidentes similares acontecem, seja por imprudência, imperícia, uso de drogas ou embriaguez alcoólica e já não causam impacto na opinião pública, por serem parte de um cotidiano de violência urbana.

A diferença fundamental entre crime de terrorismo e crime comum nestes casos, recai na motivação política do primeiro, situação que a nova legislação brasileira de combate ao terrorismo (Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016) lamentavelmente não comtempla entre os agentes motivadores.

 

Por outro lado, ao optarem por ações que se aproximam de ações delituosas, as redes terroristas  arriscam perder sua mística, transformando-se em uma organização criminosa transnacional, além de perderem o apoio de parcela significativa de simpatizantes cuja percepção é de que podem ser as próximas vítimas, o que é um fato, e desejarem algo mais grandioso do que serem considerados adendos marginais.  

 

De qualquer maneira, as autoridades governamentais europeias deveriam repensar nesta caracterização, tema que vem sendo estudado por doutrinadores com profusão, pois embora a ameaça do terrorismo seja constante naquele continente, os impactos causados pela divulgação da expressão “terrorismo” no caso dos atropelamentos, servem de estímulo crescente  para a ocorrência de outros episódios em diferentes países, dando uma dimensão maior aos ataques do que uma única bomba.

Efeito Colateral ou Estratégico?

Outro ponto a mencionar é que os eventos durante a campanha eleitoral tem o efeito colateral, e talvez estratégico, de atingir a campanha da Primeira-Ministra Theresa May.  Candidata pelo Partido Conservador à reeleição. A Primeira-Ministra sofre o ônus por ter sido de 2010 a 2016 Ministra do Interior.

 

Na estrutura do Governo Inglês o Ministério do Interior é responsável pela Segurança e Inteligência no país. Inclui as ações de contraterrorismo.

Assim a simples ocorrência dos atentatdo arranha em muito a sua campanha.

Muito similar ao atentado de Atocha (2004), em Madri, durante a etapa final da campanha eleitoral, que  custou uma reeleição quase certa ao Primeiro-Ministro Zapatero.   

 

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