Nota DefesaNetDefesaNet nomeou o Ex-Embaixador Thomas Shannon como o general comandante cooadjuvado por Fernando Henrique Cardoso, da Task Force Brazil (TFBR), ccomo batizamos as ações de desestabilização empreendidas contra a administrção Bolsonaro ou mais precisamente o Brasil.
Dois textos fundamentais para o leitor entender a lógica: 1 – TFBR – Thomas Shannon – A delicada verdade sobre uma velha parceria – DefesaNet 02JAN2021 Nele o diplomata estabelece as regras do jogo em um agressivo texto. Às vésperas da eleição o jornal Valor, Grupo Globo, publica um entrevista, que podemos caracterizar como o da comemoração antecipada da vitória. Nela está explícito, para o que DefesaNet alertou, de que o Deep State americano trabalhou e ainda traballhha, com todos os instrumentos disponíveis (abertos e encobertos), para uma união dos regimes “iluministas”, que estão no poder na América Latina: Argentina, Chile, Colômbia e pasmem Venezuela. Todos sob a coordenação de um Brasil “Iluminista”. Além de um claro convite golpista às Forças Armadas. O Editor |
TFBR – Thomas Shannon – A relação bilateral seria maior em caso de vitória de Lula
Para o ex-embaixador americano Thomas Shannon os EUA gostariam de ter o Brasil mais engajado no mundo.
(Destaques DefesaNet)
Marsilea Gombata
Valor 30 setembro 2022
As relações bilaterais Brasil-Estados Unidos terão mais engajamento no caso de uma vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do que seopresidente Jair Bolsonaro for reeleito, na avaliação do ex-embaixador americano no Brasil Thomas Shannon.
Isso porque, apesar de eventuais divergências, a agenda diplomática do Brasil sob Lula era mais expansiva, argumenta o diplomata.
“O presidente Lula é bem conhecido pelo governo dos EUA, tanto por republicanos quanto por democratas. Os EUA tiveram uma relação muito produtiva [com o Brasil] durante sua Presidência”, disse em entrevista ao Valor.
“Haverá divergências e momentos em que ambos os países têm interesses que não coincidem. Mas, de modo geral, compartilhamos um compromisso com a democracia, com os direitos humanos. E isso cria bases para uma conversa mais ampla sobre nossa parceria estratégica.”
Se Bolsonaro for reeleito, Shannon acredita que, pelo menos nos primeiros dois anos, as relações bilaterais seriam parecidas com as de hoje. “O relacionamento seria semelhante ao o que é agora, com a intenção dos EUA de buscar uma relação produtiva como Brasil e encontrar uma maneira de trazê-lo de volta para o mundo, mas também esperando para ver como o presidente Bolsonaro reagiria”, afirmou. “[Mas] há questões como mudanças climáticas, biodiversidade, proteção das florestas tropicais que não vão desaparecer.”
Ele disse ainda que o governo do presidente Joe Biden tem extrema confiança no processo eleitoral do Brasil e sabe que os resultados apresentados pelas autoridades eleitorais serão os que refletirão o desejo do povo brasileiro — em alusão a qualquertentativa de não se respeitar o resultado das urnas.
Embaixador no Brasil entre 2010 e 2013 e ex-subsecretário de Estado, Shannon atualmente trabalha como assessor sênior de política externa do escritório de arbitragem internacional Arnold & Porter, em Washington.
Os principais trechos da entrevista:
Valor: Qual avaliação o senhor faz da posição do governo de Joe Biden sobre a eleição aqui, considerando as advertências que as autoridades americanas têm feito sobre o processo eleitoral no Brasil?
Thomas Shannon: O governo foi claro. Primeiramente, cabe ao povo brasileiro escolher sua liderança. Os EUA estão muito confortáveis como processo eleitoral brasileiro, acreditam realmente que é uma forma excelente e exemplar de gerir uma eleição. Então temos muita confiança. O governo dos EUA tem grande confiança de que os resultados que serão apresentados ao povo brasileiro após a votação serão os corretos. Então os EUA deixaram isso claro. Em primeiro lugar, [a mensagem é que] o Brasil é um parceiro valioso. Segundo, que os EUA respeitam a soberania do Brasil e, principalmente, a soberania do povo brasileiro. E, por último, que tem grande respeito pelo sistema eleitoral brasileiro.
Valor: Quais as suas expectativas em relação ao processo eleitoral aqui? Há algum risco de termos um 6 de janeiro como houve nos EUA?
Shannon: Não posso prever como a liderança política responderá aos resultados das eleições. As instituições brasileiras deixaram muito claro que têm confiança no processo eleitoral eque vão respeitá-lo, seja qual for. Nesse sentido, a responsabilidade realmente recai sobre os candidatos de estarem preparados para aceitar os resultados, quaisquer possam ser.
Valor: Quando o senhor diz candidato, se refere ao que será derrotado e precisará reconhecer a vitória de seu rival?
Shannon: Os dois candidatos precisam estar preparados. Na verdade, todos os candidatos precisam estar preparados para aceitar os resultados. Obviamente, os candidatos que perdem têm uma responsabilidade especial de reconhecer os resultados da eleição.
Valor: E por parte dos apoiadores? Há risco de violência?
Shannon: Não vejo qual seria o propósito da violência neste momento. Porque são processos eleitorais que permitem não apenas a transferência pacífica de poder, mas a alternância de poder. E o Brasil, como os EUA, é um país tão polarizado que, com o tempo, o governo vai e volta, [passa] entre diferentes partidos e candidatos. Mas para que isso aconteça, é preciso estar preparado e disposto a participar do rocesso. E a violência não permite isso.
Valor: Antes da eleição do presidente Biden o senhor havia dito que o Brasil poderia recuperar a relevância que havia perdido durante o governo Trump, uma vez que Biden sabia o quão importante éoBrasil. Isso aconteceu, na sua opinião?
Shannon: Acho que, aos olhos do presidente Biden e de seu governo, o Brasil continua sendo um parceiro importante, com o qual podemos trabalhar não apenas regionalmente, mas globalmente e em questões que exigem participação multilateral para serem resolvidas. O desafio é saber se o Brasil quer ou não desempenhar esse papel. O Brasil está relutante em desempenhar esse papel por causa do nacionalismo econômico do presidente Bolsonaro, seu foco interno e sua falta de interesse nas relações exteriores do país, e como isso se relaciona com o resto do mundo. Os EUA reconhecem a importância do Brasil, gostariam de tê-lo como um parceiro mais engajado no mundo e esperam que isso aconteça depois desta eleição.
Valor: Se o Brasil ainda é relevante para resolver questões regionais como a crise na Venezuela ou na Nicarágua, por que, até onde se sabe, o governo brasileiro não foi procurado pelos EUA para buscar algum tipo de diálogo nesses países?
Shannon: Não sei se os EUA se envolveram ou não como Brasil nessas questões e como tentaram envolver o Brasil. Mas, no caso da Venezuela, o regime de Maduro não vai responder ao presidente Bolsonaro. Simplesmente pelas posições que o governo brasileiro tem tomado em relação à Venezuela. Portanto, o papel que o Brasil pode desempenhar sob um governo Bolsonaro é restrito. Em outras palavras, o país não pode ser um interlocutor neste momento.
Valor: Então o Brasil não teria como ajudar nesse caso?
Shannon: Isso poderia mudar se o presidente Lula fosse eleito. Mas as relações do Brasil com a região são tênues. Enão se buscou [recentemente] uma diplomacia regional de forma que torne o Brasil um ator central na América do Sul, o que é muito ruim.
Valor: Na campanha nos EUA em 2020, o senhor disse que as críticas do presidente Bolsonaro à credibilidade do processo eleitoral americano eram também um ataque à legitimidade da democracia americana eàPresidência de Joe Biden, o que não seria facilmente perdoado ou esquecido. Há ressentimento de Biden em relação ao Brasil?
Shannon: Eu disse que Biden era um político que entendia que as relações entre as nações são maiores e mais importantes do que as relações entre líderes individuais. E que, como tempo, Biden perdoaria as ações do presidente Bolsonaro, mas não as esqueceria. Não acredito que o ressentimento exista mais, mas ao mesmo tempo as declarações foram surpreendentes. E serão lembradas como a forma pela qual Bolsonaro ressaltou sua preferência por Trump, o que complica a relação.
Valor: Como seriam as relações bilaterais EUA-Brasil no segundo mandato de Bolsonaro?
Shannon: Os dois primeiros anos do próximo mandato de Bolsonaro coincidiriam com os dois últimos anos do primeiro mandato de Biden. Pelo menos nos primeiros dois anos, em muitos aspectos, o relacionamento seria semelhante ao o que é agora, com a intenção dos EUA de buscar uma relação produtiva com o Brasil e encontrar uma maneira de trazê-lo de volta para o mundo, mas também esperando para ver como o presidente Bolsonaro reagiria.
Valor: Há pontos de discórdia?
Shannon: Há questões como mudanças climáticas, biodiversidade, proteção das florestas tropicais que não vão desaparecer. E há [outras como] grandes motores da diplomacia global. Muito disso dependerá de como o presidente Bolsonaro reeleito responderia a essas iniciativas.
Valor: E como seriam as relações EUA Brasil se o ex-presidente Lula vencesse a eleição?
Shannon: Muito vai depender do presidente Lula, de sua equipe e de como eles escolhem se relacionar com os EUA. O presidente Lula é bem conhecido pelo governo dos EUA, tanto por republicanos quanto por democratas. Os EUA tiveram uma relação muito produtiva [como Brasil] durante sua Presidência. O Brasil era muito expansivo em seu engajamento com o mundo, o que é realmente o que os EUA precisam e querem, independentemente dos líderes políticos.
Valor: Mas EUA e Brasil não concordavam em tudo…
Shannon: Não, isso não significa que o Brasil tenha de concordar com os EUA em tudo. Certamente haverá divergências e momentos em que ambos os países têm interesses que não coincidem. Mas, de modo geral, nós compartilhamos um compromisso com a democracia, com os direitos humanos. Compartilhamos o compromisso com o comércio livre e justo e com a resolução pacífica de disputas. E isso cria bases para uma conversa mais ampla sobrenosso relacionamento estratégico, nossa parceria estratégica. E o desejo do Brasil de se colocar de volta ao mundo seria bem recebido pelos EUA.
Valor: O PT e o próprio ex-presidente Lula têm dificuldade em criticar abertamente governos autoritários como Cuba e Venezuela. Isso é ruim para relações bilaterais?
Shannon: Não para as relações bilaterais. Acho que impacta na forma como EUA e Brasil trabalham juntos para tentar resolver problemas reais como a Venezuela. O fluxo de migrantes da Venezuela está desestabilizando a região e é um problema real. E o problema não é só do PT, para ser franco. Também somos nós. Quando se trata de Venezuela, os partidos Democrata e Republicano abraçam uma política que os levou a um beco sem saída. E isso não produz resultados significativos.
Valor: Qual o futuro da região?
Shannon: Acho muito possível, no caso da eleição de Lula, dado o impacto dos imigrantes venezuelanos na América do Sul e diante do governo [de Gustavo] Petro [na Colômbia], [Gabriel] Boric [no Chile], [Alberto] Fernández [na Argentina], que os países sul-americanos determinem que os EUA, por sua própria dinâmica de política interna, não têm flexibilidade suficiente e abordagem para fazer parte de uma solução para o problema da Venezuela. E, portanto, tentem algo semelhante à Contadora [esforço diplomático coordenado por México, Panamá, Colômbia e Venezuela para solucionar conflitos na América Central em resposta à política intervencionista dos EUA, nos anos 1980], em que eles próprios tentem resolver o problema da Venezuela independentemente dos EUA.
Valor: À revista “Time” o ex-presidente Lula disse que a Ucrânia é tão culpada pela guerra quanto a Rússia. Como avalia a afirmação?
Shannon: A Rússia invadiu a Ucrânia. É importante ser claro sobre essas questões globais. A relação do Brasil com a Rússia é muito relevante, principalmente para o seu setor agrícola, pela importância do fertilizante russo. Isso é compreensível, mas não muda o fato de que a Rússia invadiu a Ucrânia. A questão aqui não é tentar encontrar o culpado por um ato de agressão ilegítimo e injustificado. Acho que o problema é: “Como se resolve isso? Como dar fim à guerra?”. E “como trazer estabilidade de volta nãoàUcrânia, mas também para a Europa Central?”.
Valor: O Brasil pode ajudar?
Shannon: O Brasil está ausente dessas discussões há quase quatro anos. E o presidente Lula está ausente dessas discussões desde que deixou o poder .E o mundo mudou. À medida que o Brasil volta ao mundo e começa a assumir esse papel maior, será importante para entender como o mundo mudou. Acho que, nesse aspecto, as conversas com os EUA e outros parceiros globais serão muito importantes.
Valor: Por outro lado, Bolsonaro viajou para a Rússia poucos dias antes do início da guerra e mostrou apoio ao presidente Vladimir Putin. Isso é um mau indicativo?
Shannon: Isso foi muito imprudente. Porque, claramente, ele estava mostrando que sua abordagem para esse tipo de questão global era transacional e estava interessado em quais interesses de curto prazo poderia extrair desse relacionamento, independentemente do que estava prestes a acontecer —e estava muito claro à época o que estava prestes a acontecer.
Valor: Parte dos eleitores que votaram em Bolsonaro há quatro anos está frustrada com seu governo, mas votará de novo nele porque não querem o PT de volta ao poder. Por que isso acontece?
Shannon: Acho que reflete a polarização política .Ocorre o mesmo nos EUA. Há um grupo central de eleitores que apoiará o presidente Trump independentemente do que ele fizer, porque não querem os democratas no poder. O tipo de ambiente político polarizado que vemos no Brasil levará ambos os lados a votar em candidatos não apenas porque gostam do candidato, mas porque não gostam dos outros candidatos.
Valor: O presidente Trump está sendo processado por irregularidades ao manipular documentos oficiais e também foi investigado pelos ataques de 6 de janeiro contra o Capitólio. Isso é um alerta para líderes que quebram as regras?
Shannon: O importante nisso tudo é: não importa o quão poderoso você é, ninguém está acima da lei. E as pessoas que infringirem a lei serão chamadas a prestar contas. Essa é uma parte importante de uma democracia institucionalizada.
Valor: A estabilidade democrática dos pequenos países da América Latina depende do que ocorre em vizinhos maiores, como Brasil e EUA?
Shannon: Às vezes é difícil entender como os eventos de um país afetam os eventos em outro país. EUA e Brasil são as duas maiores democracias do continente americano, e o que acontece aqui tem um impacto para além. Pode não ser imediato e não ser direto, mas à medida que há confusão ou turbulência nos EUA e no Brasil, a jornada se torna instável para todos os outros países da região e fica difícil para eles entenderem o rumo que estamos tomando. Portanto, isso prejudica a confiabilidade dos vizinhos e parceiros. E isso pode ter um impacto nos processos democráticos de outros países da região.
Valor: Nos EUA, a eleição de Biden parece não ter acabado com a polarização. Podemos esperar o mesmo no Brasil? Hoje a polarização é crescente na América Latina e de outras regiões do mundo. O que explica esse fenômeno global?
Shannon: Acho que tecnologia e comunicação, a capacidade de as pessoas se organizarem eletronicamente, usando a internet. Isso está impulsionando uma nova forma de política que vai além do tipo de compreensão padrão da política, sobre o papel do Estado em uma economia ou em uma sociedade.Apolítica é, cada vez mais, sobre o que nós chamaríamos nos EUA de questões de identidade.
Valor: Quais são elas?
Shannon: Questões que definem as pessoas e que se tornaram cada vez mais importantes. O debate político, portanto, não é apenas sobre política econômica, o papel do Estado na economia, o papel do Estado na sociedade. É sobre quem eu sou como pessoa e como entendo meu lugar na sociedade. Isso está desempenhando papel importante na polarização das sociedades ou, pelo menos, na divisão das sociedades etornandoquestõesde identidademais relevantes.
Valor: A polarização é igual nos EUA e no Brasil?
Shannon: Embora EUA e Brasil se reflitam e se espelhem de várias maneiras, há uma diferença interessante quando se trata de política. Os EUA têm um sistema bipartidário, e o Brasil cerca de 26 partidos. Essa diferença é importante. Porque, neste momento, a polarização no Brasil está fortemente marcada pela corrida presidencial e pela ideia de que a disputa se resume a dois candidatos. E esses dois candidatos são figuras polarizadoras, eles próprios polarizam os eleitores. Seus partidos não polarizam os eleitores. Quem quer que tenha sido o presidente do Brasil, seu partido nunca dominou o Legislativo. Legislaturas sempre exigiram alianças e coalizões, e o vencedor agora terá de construir uma aliança para coalizão. E isso exigirá negociação e engajamento com todo o espectro político, o que reduzirá um pouco o impacto da polarização. Nos EUA, porque há apenas dois partidos, a polarização continua após a eleição pois há muito pouco incentivo para os dois trabalharem juntos.
Valor: Além de Venezuela, Nicarágua e mudanças climáticas, em quais outras questões EUA e Brasil podem trabalhar juntos?
Shannon: O Brasil pode ter um papel muito importante na segurança alimentar e na segurança energética. EUA e Brasil são dois dos maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo. E, em uma época de mudanças climáticas, clima extremo e invasão russa na Ucrânia, a disponibilidade de certos grãos e outros alimentos é limitada. Brasil e EUA podem estabilizar os mercados globais e garantir que haja produção adequada de alimentos. Acho que o mesmo vale para a área de energia.
Valor: E na arena diplomática?
Shannon: As instituições multilaterais precisam ser revividas. Especialmente no continente americano, durante a pandemia, tanto a Organização dos Estados Americanos (OEA) quanto o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) estiveram ausentes e não tiveram a capacidade de moldar uma resposta regional às consequências da pandemia. O Brasil, especialmente agora que estamos buscando uma nova liderança para o BID, pode desempenhar um papel muito importante, [que vai] na tentativa de reconstruir essas instituições multilaterais. E o Brasil, historicamente, tem sido um ator importante dentro do sistema da Organização das Nações Unidas (ONU), que está sob ataque com a invasão à Ucrânia. O Brasil pode ter um papel no sistema da ONU.
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