Rob Waugh
No início de outubro, 40 milhões de cidadãos russos participaram do maior “teste” nuclear desde o fim da Guerra Fria – usando máscaras de gás e se preparando para fugir para bunkers.
A mídia russa colocou ainda mais lenha na fogueira, com jornais como o Moskovsky Komsomolets prevendo “confrontos militares diretos” com a OTAN.
Vladimir Zhirinovsky, um legislador veterano extravagante, conhecido por sua retórica inflamada, disse no início de outubro: “As relações entre a Rússia e os Estados Unidos não podem piorar mais. A única forma das mesmas piorarem é se começar uma guerra.
“Se eles [os americanos] votarem em Hillary, teremos guerra. Será um filme curto. Haverá Hiroshimas e Nagasakis por todo lado.”
O General Richard Shirreff, comandante supremo da OTAN na Europa entre 2011 e 2014, descreveu a guerra nuclear com a Rússia em 2017 como algo “inteiramente plausível” em uma entrevista este ano.
As tensões entre a Rússia e os Estados Unidos têm se mantido altas desde que os Estados Unidos e a União Europeia impuseram sanções econômicas ao país devido às ações da Rússia na Ucrânia em 2014.
A mídia russa – em grande parte controlada pelo governo Putin – sugeriu que os Estados Unidos estão tentando começar uma guerra.
Neste mês de outubro, o Zvezda, um serviço de TV nacional controlado pelo Ministro da Defesa russo, disse: “Esquizofrênicos dos Estados Unidos estão afiando suas armas nucleares para Moscou.”
Os laços entre Washington e Moscou se deterioraram ainda mais recentemente após o colapso do cessar-fogo na Síria e a intensificação dos bombardeios em Aleppo por aeronaves sírias e russas.
Os políticos norte-americanos também sugeriram que a Rússia está se intrometendo na eleição presidencial dos Estados Unidos, que ocorrerá em novembro.
A Rússia usaria armas nucleares?
Nenhum país usou armas nucleares desde o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945 – mas a Rússia tem se mostrado cada vez mais à vontade exibindo seu arsenal.
Cristina Varriale, do Royal United Service Institute (RUSI), disse ao The Sun que Putin está “pronto” para colocar as forças nucleares russas em alerta.
Ela afirmou: “Durante a crise na Ucrânia o Presidente Putin deixou claro que estava pronto para colocar as forças nucleares russas em alerta com o objetivo de deter qualquer intervenção da OTAN.
“Desde então, o país aumentou significativamente os exercícios e testes com aeronaves e submarinos com capacidade nuclear perto do território dos países-membros da OTAN.”
O que aconteceria em uma guerra convencional contra a Rússia
Vladimir Putin parece entusiasmado ao divulgar detalhes sobre suas armas nucleares, como o míssil Satã 2, mas mesmo que a OTAN e a Rússia entrassem em guerra, é possível que nenhum dos dois lados usasse armas nucleares.
Mesmo que isso acontecesse, a destruição teria uma escala quase inacreditável de acordo com Ian Shields, professor associado de Relações Internacionais na Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido.
Em termos numéricos a OTAN tem a vantagem, com 3,6 milhões de soldados e 7.500 tanques, comparados aos 800 mil soldados e 2.750 tanques russos.
No entanto, as forças da OTAN estão mais espalhadas, o que significa que a Rússia pode obter uma vantagem rápida em locais como os países bálticos.
O conflito poderia ser devastador.
Shields diz: “Embora os exércitos e batalhas individuais possam ser menores do que aqueles observados na Segunda Guerra Mundial, o número de mortes, a perda de material bélico e a habilidade dos dois lados de reduzir tudo em seu caminho a ruínas faria com que o conflito alcançasse vários lugares e, em termos de recuperação, durasse mais do que qualquer outro que já vimos anteriormente.
“O alcance cada vez maior dos mísseis e da artilharia, a precisão e a potência das munições modernas, o uso extensivo de sistemas de monitoramento (do espaço, via drones, e através de espionagem eletrônica altamente sofisticada) transformariam o campo de batalha moderno em algo altamente perigoso e destrutivo, como mostram as imagens dos conflitos recentes de Grózni a Aleppo.”
Quantas armas nucleares a Rússia tem?
Os russos têm mais armas nucleares do que qualquer outro país – 7.300, contra 6.970 dos Estados Unidos.
Lançadas de instalações subterrâneas, submarinos ou bombardeiros, cada uma destas armas seria capaz de devastar uma grande cidade.
A campanha internacional para abolir armas nucleares (ICAN, na sigla em inglês), diz que a Rússia “tem o maior arsenal de todos os países, e está investindo pesado na modernização de suas ogivas e sistemas de lançamento.”
Como a guerra nuclear começaria?
O General Richard Shirreff escreveu um livro chamado ‘2017: Guerra Contra a Rússia’. Ele disse: “Nós precisamos julgar o Presidente Putin por seus atos, e não por suas palavras. Ele invadiu a Geórgia, ele invadiu a Crimeia, ele invadiu a Ucrânia. Ele usou a força e saiu ileso.
“Em um período de tensão, um ataque aos estados bálticos… é inteiramente plausível.”
Segundo ele, as forças da OTAN seriam obrigadas a agir em defesa dos países-membros.
“O fato assustador é que como a Rússia aplica seu pensamento e poder nuclear em cada aspecto de sua capacidade de defesa, seria uma guerra nuclear.”
O que aconteceria em uma guerra nuclear de larga escala?
A guerra nuclear aconteceria de forma inimaginavelmente rápida, com as armas chegando ao outro lado do planeta em questão de horas.
Até armas “mais lentas” poderiam ser lançadas por meio de bombardeiros poucas horas após o início do conflito.
Em 1979 o Escritório de Tecnologia do Congresso dos Estados Unidos publicou um relatório chamado ‘Os Efeitos da Guerra’, avaliando o possível impacto de um ataque nuclear de larga escala.
As consequências seriam catastróficas – com centenas de milhões de pessoas mortas, e inúmeras outras enfrentando doenças relacionadas à radiação, como o câncer.
Segundo as estimativas do mesmo órgão, 80% da população norte-americana seria dizimada imediatamente, com mais vítimas falecendo em decorrência da radiação.
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