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Rússia x Ucrânia: nos bastidores uma guerra da inteligência e contrainteligência

Rússia x Ucrânia: nos bastidores uma guerra da inteligência e contrainteligência

 

  André Luís Woloszyn [1]

 

O que estamos assistindo pelos telejornais a respeito da guerra entre Rússia e Ucrânia não representa tudo sobre o conflito. Nos bastidores, longe das câmeras e em sigilo, está sendo travada uma guerra de inteligência com ampla utilização de ações especializadas, uso de técnicas operacionais apoiadas por ferramentas tecnológicas. Em nenhum dos últimos conflitos do século passado, observamos tão claramente o emprego desta atividade.

           

O objetivo, é a coleta de dados e informações acerca do inimigo que possibilitem conhecer suas fragilidades, a certeza de alvos e a otimização de recursos a serem empregados nas zonas de combate.

            

Uma das ferramentas amplamente utilizadas são as imagens de satélites e a de Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT) conhecida como inteligência de imagens (IMINT). É direcionada a monitorar em tempo real o avanço e a potencialidade das tropas russas em território ucraniano. Isso possibilita uma contraofensiva a alvos confirmados, como a destruição por drones de parte do apoio logístico e da cadeia de suprimentos russa, especialmente, combustível, reduzindo seu avanço, mesmo que momentaneamente.

           

Outra ferramenta é conhecida como inteligência de fontes humanas (HUMINT) com operações de infiltração de agentes de reconhecimento em missões de identificação e localização de instalações sensíveis como bases militares e de apoio logístico, especialmente armamentos e munição, que as imagens não conseguem identificar por estarem protegidas por estória-cobertura, camufladas como instalações civis ou subterrâneas.  

           

Além disso, permite medir o grau de apoio e o nível moral de resistência da população as ações militares somada a realização de ações de sabotagem em instalações sensíveis. A facilidade desta infiltração recai no idioma russo, falado em ambos os países, na semelhança dos povos e no grande fluxo de civis que se deslocam de uma cidade à outra.

         

O monitoramento e a interceptação de mensagens, conhecida como inteligência de sinais (SIGINT) é outra ferramenta que possibilita conhecer a capacidade das forças militares adversárias, localização de alvos, a previsão de deslocamentos, concentração de forças e suas intensões.

        

Na atividade de contrainteligência, a desinformação está sendo a maior arma. A falta de dados confiáveis não permite aos analistas militares estimarem os reais impactos e a amplitude do conflito, concentrados em imagens e dados fornecidos por russos e ucranianos que podem ser facilmente manipuladas.

        

A suspensão das comunicações externas dos russos e a censura interna destes, imposta a seus cidadãos, para publicarem matérias contra as operações de suas forças militares facilita a manipulação de dados e possibilita o superdimensionamento dos avanços na zona de operações.

         

Aos ucranianos, que tem utilizado tal técnica com maestria, imagens da destruição de equipamentos, aeronaves, tropas russas neutralizadas e interrogatório de prisioneiros procuram demostrar aos demais países sua grande capacidade de resistência além do apelo emocional junto à opinião pública internacional acerca de eventuais erros de alvos e morte de civis.

        

Provavelmente, nunca saberemos os dados reais de baixas e feridos e da quantidade de equipamentos destruídos por ambos.  

        

Todas estas ferramentas têm por único objetivo. Assessorar os comandantes militares em seu planejamento nos níveis estratégico, tático e operacional possibilitando até estimarem a duração do conflito com base na capacidade de resistência operacional e logística.

       

Por outro lado, a inteligência não se resume a militar. Agentes de inteligência tem viajado a diferentes países, incluindo o Brasil, sejam os alinhados ideologicamente ou neutros, buscando mapear possibilidades de apoio indireto a guerra. Os russos, na busca de alternativas para as sansões econômicas impostas pela ONU e os ucranianos, por sua vez, apoio diplomático, ajuda humanitária e fornecimento de armamentos e equipamentos para manter sua resistência no aguardo de negociações mais produtivas.  

 

 


[1] Diplomado em Inteligência Estratégica pela Escola Superior de Guerra (ESG/RJ), autor das obras Guerra nas Sombras e Inteligência Militar, publicadas pelas editoras Contexto e Biblioteca do Exército, respectivamente.

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