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RIO2016 – Licitação de última hora gera dúvidas sobre segurança

Um contrato crucial para as revistas de segurança dos eventos da Olimpíada do Rio de Janeiro só foi fechado no início deste mês, alimentando as preocupações em relação à capacidade da cidade de proteger os atletas e o público faltando menos de três semanas para o começo dos Jogos.

O governo brasileiro esperou até 1o de julho para aprovar o contrato para recrutar e alocar milhares de guardas de segurança privada para monitorar máquinas de raio-X e revistar espectadores dos Jogos em busca de armas e outros itens na entrada dos locais onde se realizarão os eventos olímpicos, segundo documentos analisados pelo The Wall Street Journal e confirmados pelo ministério que aprovou o contrato.

O contrato de R$ 17,3 milhões foi conquistado pela Artel Recursos Humanos, uma pequena empresa de terceirização que não é uma grande participante do setor de segurança do Brasil. A empresa tem pouca ou nenhuma experiência em realizar revistas e triagens para megaeventos, de acordo com uma pessoa a par da situação. Para atender os serviços exigidos, a Artel teria que contratar, treinar e realizar a checagem de antecedentes de pelo menos 6 mil trabalhadores em um período de cinco semanas, segundo pessoas a par com o contrato.

É um período apertado que um especialista em segurança dos Estados Unidos chamou de “estarrecedor” para proteger com sucesso um evento grandioso e complexo como os Jogos Olímpicos. Em comparação, o contrato dos responsáveis pelas revistas para a Olimpíada de Inverno de 2010 em Vancouver, no Canadá, foi fechado 10 meses antes do início do evento; para a Olimpíada de Londres em 2012, o contrato foi fechado um ano antes.

Representantes da Artel não responderam a múltiplos telefonemas e e-mails do WSJ solicitando comentários.

A Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos (SESGE) do Brasil informou, através de um comunicado por e-mail, que a Artel atendeu a todas as exigências para o cumprimento do contrato e que o governo está confiante que trabalhadores qualificados estarão a postos para realizar as checagens no início dos Jogos. A Força Nacional do Brasil, associação de policiais de todo o país, supervisionará o trabalho dos revistadores particulares contratados pela Artel, informou a SESGE.

Separadamente, a SESGE informou que teve de desistir dos planos de instalar 315 câmeras de vigilância adicionais em nove locais olímpicos depois que o processo de contratação “fracassou”. Essas câmeras seriam usadas para elevar a segurança em locais que compõem o complexo esportivo de Deodoro, na divisa entre as zonas norte e oeste do Rio, onde será realizado o segundo maior número de eventos da Olímpiada depois do Parque Olímpico principal. No complexo de Deodoro serão realizadas competições de pentatlo moderno, hóquei sobre grama, provas equestres e as primeiras rodadas do basquetebol feminino.

A SESGE abriu a licitação para o contrato de R$ 11,2 milhões para a instalação das câmeras no início de junho, menos de oito semanas antes da cerimônia de abertura, marcada para 5 de agosto. A agência não forneceu detalhes sobre o motivo pelo qual o contrato não foi fechado. Mas uma pessoa a par dos procedimentos disse que o valor oferecido foi muito baixo e a proposta foi feita tarde demais para atrair concorrentes sérios.

A SESGE informou que as câmeras existentes no complexo de Deodoro serão suficientes. O local abrigou os Jogos Pan-Americanos de 2007 sem incidentes.

A segurança da Olimpíada ganhou destaque depois de uma série de ataques terroristas ao redor do mundo, incluindo o massacre provocado por um caminhão em Nice, na França, na semana passada.

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional do Brasil, Sérgio Etchegoyen, disse na sexta-feira que o governo pode adotar uma série de novas medidas, incluindo “mais pontos de checagem, mais barreiras e algumas restrições ao transito”.

As autoridades afirmam que cerca de 85 mil policiais e militares estarão de prontidão durante o evento, a maior demonstração de força para um megaevento já registrado no Brasil. Um porta-voz do comitê organizador da Olimpíada afirmou, por meio de um comunicado, que o “Rio será a cidade mais segura do mundo durante os Jogos”.

Ainda assim, os recentes atrasos nos contratos de segurança, especialmente a contratação de última hora de revistadores, alarmaram alguns especialistas do setor. “Eles não inspiram confiança”, diz Benjamin Yelin, analista sênior de aplicação de leis e políticas do Centro de Saúde e Segurança Nacional da Universidade de Maryland, classificando o curto cronograma brasileiro de “uma loucura” levando-se em conta as grandes preocupações com o risco de terrorismo.

“Não inspira confiança […] Há definitivamente um motivo de preocupação”, disse Yelin. “Isso deveria estar sendo feito há anos, independente de quem ganhou o contrato. Cinco semanas é um pouco estarrecedor.”

A falta de experiência em segurança deve tornar a tarefa ainda mais difícil para a ganhadora da licitação Artel, que tem sede em Navegantes, Santa Catarina. Em seu site, a Artel cita experiência no fornecimento de faxineiros, porteiros, recepcionistas e outros trabalhadores do setor de serviços para empresas, mas nada relacionado à segurança. Ela menciona uma empresa de roupas como referência na proposta que enviou para a licitação do contrato de segurança dos Jogos, segundo documentos analisados pelo WSJ.

Embora revistar bolsas e pessoas seja um trabalho de baixa remuneração, os guardas precisam de treinamento especializado e prático para desempenhar bem a função, diz Peter Martin, diretor-presidente da Afimac Global, firma de segurança de Miami. “Essas pessoas estão na linha de frente”, diz. “Elas precisam de alguma experiência e prática. Esses contratos são realmente importantes.”

Na Olimpíada de Londres, problemas com as revistas de segurança de pessoas provocaram um escândalo. A G4S, uma das maiores empresas de segurança do mundo, reconheceu menos de um mês antes do início dos Jogos de 2012 que não seria capaz de fornecer seguranças qualificados em número suficiente. Os militares britânicos foram forçados a auxiliar nas revistas e checagens.

Problemas de segurança vêm se acumulando no Rio. Tiroteios nas favelas são frequentes em meio às buscas da polícia por um traficante de drogas que continua solto, conhecido como Fat Family. O número de assassinatos de policiais e assaltos subiu muito nos primeiro cinco meses de 2016 em relação a um ano antes. Policiais e bombeiros estão com salários atrasados e ameaçaram entrar em greve. Membros da Força Nacional, que ajudarão nas revistas dos locais das competições, também ameaçaram entrar em greve. Policiais que chegaram ao Rio vindo de outras regiões do país na semana passada receberam acomodações sem camas ou água potável.

O governo federal recentemente autorizou R$ 2,9 bilhões em fundos emergenciais para ajudar a cobrir os gastos com a segurança da Olimpíada.

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