Relatório Otálvora: Eleições no Brasil sob ataque estrangeiro
EDGAR C. OTÁLVORA
Diaro las Américas
10 de abril de 2022
@ecotalvora
O Grupo Puebla realizou nos dias 29 e 30MAR22 um evento que marca uma mudança na forma como a esquerda continental está se aproximando do Brasil .
Tradicionalmente, a esquerda brasileira, como o sistema político brasileiro em geral, teve pouca conexão com o ambiente latino-americano. O Grupo Puebla decidiu intervir abertamente na política brasileira patrocinando um "evento acadêmico" para destacar a imagem do candidato presidencial Lula da Silva.
O governo argentino, em uma clara ação de ingerência política no Brasil, participou do evento por meio de um vídeo pré-gravado de Alberto Fernández. O presidente argentino afirmou que “se Lula for bem, a América Latina tem uma oportunidade, porque Lula é aquele líder regional que a América Latina precisa”.
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O evento, realizado na sede da Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ, contou com a presença do espanhol José Rodríguez Zapatero, dos colombianos Ernesto Samper Pizano e Clara López Obregón, que integra a equipe eleitoral de Gustavo Petro, do mexicano Mario Delgado que preside o partido governista Morena, entre outros. A lista incluía a vice-presidente espanhola Yolanda Díaz, membro do partido Podemos no governo de Pedro Sánchez. A participação de Diaz no ato pró-Lula também materializou a intervenção do governo espanhol na disputa eleitoral brasileira.
A ex-presidente Dilma Rousseff, que a equipe de Lula prefere fora dos palanques eleitorais, estaria ampliando sua atuação internacional usando o Grupo Puebla como plataforma.
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O Brasil é o grande objetivo da esquerda continental e europeia para o ano de 2022 e o apoio direto à candidatura de Lula não está mais escondido.
O Partido Social Democrata da Alemanha, o SPD, também apoia tanto o Grupo Puebla quanto a candidatura de Lula. O presidente da Fundação Friedrich Ebert do SPD, Martin Schulz, viajou ao Brasil para participar de uma atividade financiada por sua fundação para exaltar a figura de Lula. No dia 05ABR22, Schulz e Lula presidiram o fórum “Brasil-Alemanha-União Europeia, desafios progressivos e alianças estratégicas” na sede da Fundação Perseu Abramo do PT em São Paulo. Schulz expressou repetidamente o desejo de seu partido pelo retorno de Lula à presidência brasileira.
A ex-presidente Dilma Rousseff participa ativamente do Grupo Puebla
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A intervenção de encerramento do evento do Grupo Puebla em 30MAR2022 no Rio de Janeiro foi reservada para Lula da Silva. Os organizadores esperavam um discurso de impacto internacional, mas não foi. Em meio a uma exaltada arenga, o candidato pediu que eles "cessem essa guerra" em relação à invasão russa da Ucrânia. Segundo Lula, “pelo que leio e ouço, essa guerra seria resolvida aqui no Brasil em uma mesa bebendo cerveja. Se não na primeira cerveja, na segunda, ou na terceira, ou até as garrafas acabarem e as pessoas iriam fazer um acordo de paz.
A receita bêbada de Lula para a guerra na Europa foi acompanhada nos dias seguintes por outras intervenções escandalosas, até contrárias à estratégia eleitoral delineada por seus assessores para a conquista do centro político. No dia 05ABR2022, durante evento da Fundação Perseu Abramo do PT, co-organizado com a Fundação alemã Friedrich Ebert, Lula expôs sua visão internacional e mencionou o tema “aborto”. Lula afirmou que “o aborto é uma questão de saúde pública e todos têm direito”.
No dia 07ABR2022, Lula mudou de posição afirmando em entrevista à rádio em Fortaleza, Ceará, que “sou contra o aborto”. Os assessores eleitorais de Lula teriam lembrado que o peso das igrejas evangélicas na formação do voto presidencial poderia começar novamente para jogar a favor de Bolsonaro. De fato, dados da pesquisa DataFolha (23MAR2022) indicam que o voto evangélico está rapidamente voltando a preferir a permanência de Bolsonaro na Presidência.
No mesmo ato na CUT, Lula convocou seus militantes a praticarem o constrangimento (violência?) política como parte da criação de um ambiente para sua campanha eleitoral.
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Embora as pesquisas públicas lhe atribuam uma possível vitória nas eleições presidenciais de 02OUT2022, o ex-presidente e candidato Lula da Silva afirmou que se trata de "eleições complicadas" e que seu povo, referindo-se aos militantes de seu partido, terá que fazer "mais do que em outras eleições”. "As pessoas vão ter que ensinar a sociedade a reivindicar os deputados" e "mudar a forma de pressionar o Congresso Nacional". A afirmação foi feita em São Paulo no dia 05ABR2022 durante o ato na CUT.
Lula disse a seus apoiadores que eles deveriam "pressionar" em suas cidades e não em Brasília. Os militantes devem "mapear" as casas dos parlamentares dos demais partidos para realizar ações de pressão nas casas dos parlamentares. "Coloque cinquenta pessoas na casa de cada deputado" para "conversar com ele", "conversar com sua esposa e filhos", para "perturbar seu conforto". Esse tipo de ação costuma ser chamado de “escrache” em vários países do continente. Na mesma ocasião, Lula anunciou que, ao chegar à presidência, retirará oito mil militares de cargos públicos.
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O apelo de Lula para criar focos de protesto nas principais cidades brasileiras tem sido interpretado por analistas de segurança brasileiros como uma possível tentativa de emular esquemas seguidos recentemente no Chile e na Colômbia, onde a esquerda desencadeou ondas de violência nas ruas em preparação para eventos eleitorais.
Desde dezembro de 2021, o MLB “Movimento de Luta em Bairros, Vilas e Favelas” vem realizando aquisições de supermercados nas principais cidades do país, que se multiplicaram em 02ABR2022. A MLB faz parte de uma lista de grupos de choque criados pela esquerda radical brasileira e que também atua sob o nome de "Articulação Povo na Rua" cujo grito de guerra é "Fora Bolsonaro". “Derrubar Bolsonaro é urgente” “quem tem fome tem pressa” fazem parte dos slogans que esses grupos manuseiam para ações violentas de rua que podem começar nas primeiras semanas de abril.
Esses grupos estariam centrados em torno de um partido chamado “Unidade Popular” liderado por Leonardo Péricles, um ativista negro radicado em Minas Gerais que anunciou sua candidatura presidencial e rejeita as abordagens de Lula à “direita”. Péricles, que exibe com orgulho um retrato de José Stalin em sua casa, soma zero por cento das intenções de voto nas pesquisas, mas seu ativismo de rua parece ser uma das ferramentas sotto voce da campanha de Lula.
O outro movimento de Lula para dar coerência ao seu voto é uma aliança com setores do centro político por meio da entrega do cargo de vice-presidente. Em 08ABR2022, finalmente se concretizou a nomeação de Geraldo Alckmin como candidato à vice-presidência na fórmula eleitoral de Lula. Alckmin, católico da Opus Dei, ex-governador do estado de São Paulo, fundador, candidato à presidência e presidente do PSDB, deixou aquela organização em dezembro de 2021 para ingressar no Partido Socialista Brasileiro, que entrou em uma aliança eleitoral com seu antigo parceiro Lula.
A nomeação do candidato a vice-presidente de Bolsonaro ainda é aguardada, já que há vários anos ele descartou seu atual vice-presidente, general Hamilton Mourão. (Nota DefesaNet o presidente Bolsonaro indicou o Gen Braga Netto, atual Ministro da defesa como seu candidato a compor a chapa como Vice-presidente)
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As eleições presidenciais colombianas de 29MAIO2022 já parecem ter optado por duas fórmulas eleitorais. Os resultados das medições divulgadas após as eleições legislativas de 13MAR2022 indicam que a Presidência da Colômbia está sendo disputada pelo candidato castrista Gustavo Petro e Federico Fico Gutiérrez. As candidaturas de Sergio Fajardo e da colombiana-francesa Ingrid Betancourt não decolaram.
As pesquisas da empresa Guarumo-Ecoanalitica divulgadas em 03ABR2022 concedem 34% de intenção de voto a Petro contra 25% a Gutiérrez. Por sua vez, os resultados da pesquisa elaborada pelo Centro Nacional de Consultoria publicado em 07ABR22 dão à Petro 34% e Gutiérrez 23%.
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A ditadura venezuelana poderá obter receitas de US$ 16,2 bilhões em 2022 por meio da exportação de petróleo, de acordo com um relatório da empresa de Caracas Ecoanalítica. Este número não depende do levantamento das sanções dos EUA ao aparato petrolífero do regime.
“A receita das exportações de petróleo passaria de US$ 5,714 bilhões em 2020 para US$ 16,2 bilhões em 2022, um aumento de 183% na receita que agora depende inteiramente da PDVSA e de sua operação opaca para fugir das sanções.” O relatório acrescenta que as receitas de petróleo do regime dependem de "um complexo sistema de comércio de petróleo projetado para evitar sanções com infinitas triangulações, descontos e remessas para destinos muito obscuros e com ferramentas de geolocalização dos ppetroleiros desligadas".
O relatório assinado por Asdrúbal Oliveros e Jesús Palacios acrescenta que “a petrolífera estatal venezuelana continua a utilizar mecanismos obscuros para transportar petróleo aos seus destinos, portanto, desde seja vendido com grandes descontos, que permitam aos clientes ober ganhos significativos apesar do risco de que incorrem nas sanções, sempre terá um mercado ao qual recorrer”.
No entanto, o relatório alerta que, segundo fontes oficiais, "cerca de 60% do petróleo venezuelano exportado passa pelo sistema financeiro russo, que se encarrega de entregar dólares em dinheiro à PDVSA para fechar a operação financeira, certamente implicando custos adicionais para o processo. Por isso, dada a guerra na Ucrânia e as sanções contra a Rússia, esperamos certas complicações para acessar dinheiro em dólares no curto prazo para o governo, caso não haja reajustes na situação do conflito ou na condição da Venezuela contra os Estados Unidos”.