DANIELA LIMA
Era para ser uma espécie de "marco zero" da reabilitação do governo Dilma, mas o 16 de março de 2016 acabou entrando para a história como a data em que vieram à tona algumas das conversas mais comprometedoras da administração petista.
A presidente havia chancelado pela manhã a ida de Luiz Inácio Lula da Silva para seu ministério. Nos corredores do Congresso, a notícia repercutia especialmente entre os integrantes da base do governo. "É o ministro da esperança" repetiam.
Pouco depois das 17h, o quadro mudou drasticamente. Dilma recebeu a informação que, por ordem do juiz Sérgio Moro, interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal em números vinculados a Lula tinham se tornado públicas. Mais: conversas entre ela e o ex-presidente estavam nos grampos. "Peguem isso", determinou.
No início, a presidente recebeu relatos sobre como o caso estava sendo noticiado. Aversão corrente era que, no grampo, ela dizia a Lula que estava enviando um termo de posse, de modo que estivesse nas mãos dele a tempo de impedir uma possível prisão.
"É mentira", reagiu a presidente segundo auxiliares e aliados que estavam com ela no local. "Eu não disse isso."
A escalada de tensão dentro do Planalto foi proporcional à que se desenrolou do lado de fora. Às 17h, cerca de 50 pessoas protestavam contra Dilma. No fim da noite eram cerca de 13 mil.
Dilma foi retirada do local por volta das 18h30. Seus auxiliares temiam uma invasão.
O maior receio era que houvesse confronto entre a Polícia do Exército, que faz a guarda do Planalto, e os manifestantes. Ou ainda que o Palácio fosse alvo de vandalismo, a exemplo do que ocorreu com o Itamaraty nas jornadas de junho de 2013.
A presidente foi para o Palácio da Alvorada, sua residência oficial. Quatro ministros foram chamados pela presidente: Aldo Rebelo (Defesa), José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União), Edinho Silva (Imprensa) e Eugênio Aragão (Justiça). Ela também convocou seu assessor especial, Giles Azevedo.
Ao grupo se juntou o assessor Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Jorge Messias, o "Bessias" citado no grampo em que Dilma e Lula falam do termo de posse. Ela passou a reconstituir, passo a passo, tudo o que havia dito a Lula naquele dia. Quando a transcrição dos grampos chegou à petista, dois deputados, Wadih Damous (PT-RJ) e Sílvio Costa (PTdoB-PE), tinham se somado ao grupo.
Desse encontro, saiu a nota em que o governo nega qualquer irregularidade.
Encerrada essa etapa, Dilma passou a ler todos os grampos interceptados pela PF. Aliados dizem que ela não se deteve nos trechos em que era citada – e criticada – por aliados.
Os relatos dão conta de uma Dilma pragmática focou no que considerava mais problemático, como os trechos em que Lula faz críticas ao STF (Supremo Tribunal Federal), à Procuradoria-Geral da República e aos comandantes do Congresso.
Ela encerrou a reunião pouco depois das 23h. O ex-presidente, que estava em São Paulo, recebeu notícias por telefone. No dia seguinte, em sua cerimônia de posse, Lula estava abatido. Dilma seguiu a linha de defesa que havia traçado: disse que a escuta era ilegal, que sua fala foi distorcida e que a publicação dos áudios demonstrava o autoritarismo da Lava Jato e de Moro.
Aliados avaliam que Lula percebeu que havia agravado sua própria situação e a do governo. No fim, constataram, a publicação dos diálogos acabou implodindo pontes que o ex-presidente tinha como missão reconstruir.
Nota DefesaNet
A matéria acima é uma ação de "desinformação" sobre a segurança do Palácio do Planalto. A maioria das vezes não é visível mas há SEMPRE reforçados grupos tanto do Batalhão da Guarda Presidencial como dos Dragões protegendo o Palácio do Planalto.
Cabe à Polícia Militar do Distrito Federal o primeiro anel de proteção. A partir da calçada do Palácio do Planalto a responsabilidade é do Exército.
Nas horas tensas de quarta-feira (16MAR2016) foi comunicado que teria sido ordenado ao Corpo de Fuzileiros da Armada (CFN) juntar-se ao Exército e este teria se negado. São duas incorreções na informação.
Primeiro é a que a responsabilidade de proteção do Palácio do Planalto é do Exército e cabe aos CFN a proteção dos prédios do Ministério das Relações Esteriores (Itamaraty). A segunda é que esta ordem não foi dada.
O Editor
Tropas do Batalhão da Guarda Presidencial em posição, na noite de 16 Março 2016. Foto Agência Brasil