Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
No seu tradicional encontro com os repórteres que cobrem o Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff garantiu que está com a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, e não abre: ela ficará no cargo. Ou seja, corroborou a declaração da amiga de que permaneceria à frente da estatal. Apesar de a empresa atravessar a maior crise de sua história, mergulhada num mar de “malfeitos”, para usar o jargão oficial e evitar uma outra expressão, que lembra a crise que levou ao suicídio o presidente Getúlio Vargas.
Segundo Dilma, a executiva não cometeu nenhum deslize e tem plenas condições de enfrentar a crise da companhia. Mas suas declarações em relação à Petrobras também devem ser interpretadas pelos aliados como uma espécie de nem vem que não tem, quem manda aqui sou eu.
Com a caneta cheia de tinta e popularidade maior do que a do dia da eleição, a presidente da República adiou a formação do novo ministério para a véspera da posse, mantém distância dos envolvidos no escândalo da Petrobras e pretende segurar Graça Foster enquanto não surgir um fato novo que a comprometa. Pode ser um grande equívoco, mas ninguém é capaz de convencê-la do contrário. Nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O fato é que Dilma decidiu não levar em conta muitos dos conselhos do ex-presidente da República. A grande concessão foi feita ao indicar Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e defenestrar o ministro Guido Mantega, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, e a ministra do Planejamento, Míriam Belchior, que empurraram com a barriga o ajuste fiscal e gastaram o que foi preciso para manter os empregos e os níveis de renda durante a campanha eleitoral. Dilma é a mãe da “nova matriz econômica”, que fracassou.
Os partidos da base estão sendo toureados, ninguém envolvido na Operação Lava-Jato fará parte da nova equipe ministerial. Ontem, Dilma anunciou que consultará o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sobre o real envolvimento de aliados cotados para a Esplanada no esquema de propina investigado pela Operação Lava-Jato. A permanência de Graça Foster, porém, ainda confunde os políticos da base.
O presidente da Câmara, Henrique Eduado Alves (PMDB-RN), que perdeu a disputa pelo governo potiguar, está convencido de que vai para o Ministério da Previdência. Confidencia aos amigos que foi sondado para o posto depois de ter o nome vazado pela primeira vez; por essa razão, argumenta, não estaria descartado. Na mesma situação está o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), outro integrante da lista atribuída ao ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa. Nenhum dos dois foi convidado formalmente para o ministério até agora.
Há uma guerra de versões quanto ao escândalo da Petrobras. A estratégia do PT é a mesma do julgamento do mensalão: negar sua existência. Os caciques do PMDB e do PP optaram pela mesma linha. A situação, porém, é muito diferente. Marcos Valério, o operador do esquema, comeu o pão que o diabo amassou na cadeia e assumiu a condição de grande vilão do esquema. Na Operação Lava-Jato, já são 12 as delações premiadas, as mais importantes de Paulo Roberto da Costa e do doleiro Alberto Youssef.
Saidão de Natal
Os executivos presos temem condenações longas, como a da ex-presidente do Banco Rural Katia Rabelo, que teve sua pena fixada em 16 anos e 8 meses de prisão, mais multa de R$ 1,5 milhão, por formação de quadrilha, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Enquanto a maioria dos políticos condenados no mensalão goza de prisão domiciliar ou regime semiaberto, com direito a passar o Natal com a família, os diretores de seis das maiores empreiteiras do país verão o ano-novo chegar na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.
Há esperança de que o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, conceda-lhes um habeas corpus. Houve um “tour de force” dos advogados neste recesso para tirá-los do xadrez. Alegam que eles estão sofrendo torturas psicológicas para aceitar a delação premiada. Os presidentes da OAS, José Aldemário Pinheiro, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, acusado de ser o chefe do cartel de empreiteiras, seriam os mais pressionados.
As famílias estão resignadas, foram convencidas de que é preciso aguentar o tranco. Dois personagens, porém, andam com os nervos à flor da pele: o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli e o ex-diretor de Serviços e Engenharia Renato Duque. O primeiro teme ser preso, o segundo não quer voltar pra cadeia. Ambos eram quadros do PT no comando da Petrobras.