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ODEBRECHT – Saiu dinheiro até para as FARC


Renato Onofre
 

DESDE QUE JOGOU a toalha e desistiu de negar as acusações da Lava-Jato, a maior empreiteira do Brasil confessou crimes de arrepiar. Admitiu que na última década corrompeu ao menos oito governadores, além de 71 deputados e senadores brasileiros.

Que financiou ilegalmente todas as campanhas eleitorais no país desde 2006, pelo menos. Que por anos manteve um departamento inteiro com o fim único e exclusivo de administrar os subornos oferecidos a políticos e funcionários públicos em troca de vantagens para seus negócios.

Que o pagamento sistemático de propinas totalizou 3,4 bilhões de reais em quinze anos e foi praticado em ao menos onze países, além do Brasil. Mas isso ainda não é tudo. Na toada de ilegalidades, a Odebrecht acabou aceitando até embrenhar-se, literalmente, na selva do crime.

Segundo confirmaram a VEJA dois executivos da empreiteira e três advogados que conhecem as operações internacionais da empresa, a Odebrecht deu dinheiro às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FAEC) durante os últimos vinte anos em troca de "permissão" para atuar nos territórios dominados por elas.

Não é uma ilegalidade semelhante ao pagamento feito a políticos, mas também não se trata de uma atividade limpa. Os pagamentos na Colômbia começaram a ser efetuados já nos anos 1990, depois que dois funcionários da Odebrecht foram sequestrados pelos narcoguerrilheiros e ficaram mais de um mês em cativeiro na floresta.

Na ocasião, a empresa contratou um grupo americano especializado em áreas de conflito para negociar e pagar o resgate dos empregados. Libertados os reféns, a empreiteira deu aos americanos a missão de criar um sistema para evitar novos ataques a seus funcionários.

A saída sugerida — e acatada — foi um pagamento mensal ao grupo terrorista em troca da blindagem dos funcionários e dos negócios da Odebrecht. Os valores variavam de 50 000 a 100 000 dólares por mês, a depender do tamanho do projeto em questão.

O pagamento era sempre feito em dinheiro, diretamente nos canteiros das obras ameaçadas pelo grupo terrorista (só em casos de volumes vultosos, como pagamentos de resgate, o Setor de Operações Estruturadas, conhecido como departamento da propina, era usado).
 
Os valores menores eram incluídos nas planilhas de custos, sob as rubricas "custo operacional" ou "tributo territorial". Entre as obras em que houve pagamentos às FARC estão a construção de rodovias — como a Ruta del Sol — e o projeto de navegabilidade do Rio Magdalena, ambos em áreas com forte presença dos terroristas.

Os desembolsos não tiveram relação com o esquema de corrupção investigado pela Lava-Jato, mas foram informados à Procuradoria-Geral da República. As FARC assinaram um acordo de paz como governo colombiano no ano passado, depois de mais de meio século de conflitos — de cada dez civis mortos a partir dos anos 80, sete foram vítimas dos narcoguerrilheiros. Durante as negociações, os líderes das FARC confirmaram às autoridades que estabeleciam tributos para todas as atividades comerciais realizadas dentro dos territórios que controlavam.

Os "impostos guerrilheiros", como denominavam o dinheiro da extorsão, foram cobrados indistintamente até junho de 2016, quando o acordo de cessar-fogo foi assinado entre o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e o líder máximo das Farc, Rodrigo Londao Echeverri, conhecido como Timochenko. No fim do ano passado, depois que o dique de ilegalidades cometidas pela Odebrecht se rompeu, a empresa publicou um anúncio nos jornais intitulado "Desculpe, a Odebrecht errou".

No texto, a empreiteira dizia ter violado os próprios princípios e cometido "uma agressão a valores consagrados de honestidade e ética". Por fim, pedia desculpas por ter participado de "práticas impróprias". A cada nova revelação, fica claro que a autocrítica foi excessivamente modesta.

Nota DefesaNet

TODAS as empresas que trabalhavam na Colômbia em áreas onde a guerrilha operava eram obrigadas a pagarem pedágio.

Ato muito comum com as companhias de petróleo operando em áreas conflagradas.

Porém, há entrelinhas muito fortes nesta matéria que merecem ser analisadas.

O Editor

 

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