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O terrorismo, a política e o jogo de soma zero

 

Eduardo de Oliveira Fernandes

Doutor e Mestre em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pelo Centro de Altos Estudos de Segurança (CAES), especialista em Ciências Sociais, Bacharel em Direito, professor de Ciência Política e Sociologia da Violência da Academia de Polícia Militar do Barro Branco e de Sociologia das Faculdades Pitágoras.
É autor do livro ”
As Ações terroristas do crime organizado”, São Paulo, Livrus, 2012.
edofer@uol.com.br

 
Se a tarefa de decifrar os fenômenos sociais e políticos fosse um mero exercício baseado na arte da simplificação seguramente encontraríamos nessa fonte de interpretação a sua solução.

Dessa forma, diante dos atentados ocorridos em Paris, na semana retrasada, seria fácil, extremamente fácil, para eu, você e todo mundo satanizar os loucos do Oriente Médio e cobrir de louros as ovelhas inofensivas do puro Ocidente, em um frágil e vulnerável exercício maniqueísta.

Porém, quando nos referimos ao terrorismo e, mais pontualmente, aos recentes atentados de Paris, as análises rasas tornam-se meros ornamentos sociológicos e sem quaisquer conteúdos etiológicos e desprovidos do mínimo nível de abstração necessários para a sua dissecação.

Tomemos, então, por exemplo, os autodenominados ocidentais e o seu corolário civilizatório do 3° milênio que perpetua o rito da colonização, dos tratados internacionais que estabeleceram fronteiras imaginárias na África, da intervenção política e militar sem precedentes e fronteiras, das coalizões que dilaceraram política, social e economicamente o Afeganistão e o Iraque, dos apoios militares velados que armaram os insurgentes na Síria, tentando, a todo custo, forjar um mundo a sua imagem e semelhança.

Em posição diametralmente oposta, o extremismo do islã radical que derrubou as torres gêmeas, que cometeu os atentados terroristas na Espanha, Londres e Paris, que calcinou e afogou pessoas vivas, decapitou repórteres, atirou homossexuais de prédios altos, apedrejou mulheres adúlteras, transformou em feras seres humanos e que têm como projeto o restabelecimento de um califado em uma leitura de mundo baseada em conceitos religiosos medievais e desrespeitando as fronteiras estabelecidas por seus algozes.

Ora, se por um lado, frequentemente, americanos e europeus se unem militarmente para a defesa de seus interesses estratégicos em todo mundo, de outro lado, antigos representantes do partido Baath do Iraque, dissidentes da Al Qaeda e outros segmentos sunitas e salafistas, do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, reservam para si o direito de proporem a criação de um proto-estado (Estado Islâmico) e perseguirem os seus desafetos ainda que muçulmanos, sem, contudo, se esquecerem dos cruzados onde quer que estejam.

Como, para esta elucubração, foi dispensada a arte da simplificação, é importante esclarecer que não estamos tratando de atores sociais inocentes e, tampouco, portadores de auréolas, apesar de ambos terem a certeza de que dispõem da trilha que levará seus seguidores ao paraíso, tanto pelos escritos do Alcorão como pelo puritanismo cristão.

Assim sendo, não há – ao menos pela leitura dos fatos atuais- como acreditar em uma possibilidade de saída pacífica para esses dois contendores, pode-se  inferir, de maneira empírica, que a vitória de um sempre corresponderá à derrota do outro, entronizando os elementos necessários para aquilo que na Teoria dos Jogos, denominou-se de jogo de soma zero.

Como o próprio nome da teoria induz ao jogo, e este, por sua vez, a uma situação de disputa e conflito, é necessário considerar o elemento básico para a sua condição de existência, ou seja, os jogadores com o seu conjunto de estratégias e que, nosso caso em estudo, demonstra claramente a opção pela competição, restando diminuta chance para uma cooperação imediata.

Portanto, é cediço propugnar que por falta de transparência em sua comunicação, ambos os atores sociais citados, perfazem e reiteram uma opacidade infinitaque impede enxergar para fora e entender a alteridade.

Por fim, é triste chegar ao ano de 2015 e ainda ter que conviver com o que há de pior nos dois mundos (ocidental e oriental), conquanto que apesar de o jogo de soma zero intentar que o ganho de um jogador representa necessariamente uma perda para o outro, permito reinterpretar tal regra e escrever com todas as letras e tintas que nessa disputa ou competição “todos somos e seremos perdedores”, pelo que não será possível colher bons frutos do terrorismo a serviço de um radicalismo religioso e igualmente da política matizada pelo declinismo que sempre explicou a ascensão e queda das grandes potências.
 

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